Por décadas, os teóricos psicanalíticos, humanísticos e cognitivo-comportamentais têm enfatizado o papel da empatia terapêutica em facilitar a mudança em Psicoterapia. A maioria dos teóricos se concentraram, principalmente, na função e na expressão da empatia. Mas, desenvolvimentos recentes na Neurociência Cognitiva forneceram mais percepções sobre a natureza da empatia e seus vários componentes. Essas percepções sugerem maneiras de refinar nossa compreensão da construção das capacidades empáticas dos terapeutas – permitindo que as mudanças dos clientes em Psicoterapia possam ser desenvolvidas e aprimoradas.

A pesquisa tem se concentrado em entender como a empatia afeta a mudança do cliente na Psicoterapia. Achados recentes das Neurociências Cognitivas sugerem que as maneiras pelas quais a empatia foi conceituada por teóricos humanistas e psicanalíticos têm alguma semelhança com os processos cognitivos e afetivos que são ativados quando as pessoas experimentam empatia. Neurocientistas definem empatia como uma “forma complexa de inferência psicológica que nos permite compreender as experiências pessoais de outra pessoa por meio de recursos cognitivos e afetivos” (Danziger, Prkachin, & Willer, 2006). A tecnologia que nos permitiu obter imagens do cérebro e identificar diferentes áreas de ativação durante distintas atividades criou uma janela importante que está começando a iluminar as ligações entre teorias psicológicas, conhecimento experiencial, compreensão empática e processos físicos.

Neurônios-espelho

Uma das principais descobertas do mapeamento cerebral é a dos neurônios-espelho, que foi anunciado como um dos eventos recentes mais emocionantes da neurociência. Pesquisas em neurônios-espelho mostram que regiões cerebrais semelhantes são ativadas em um observador como aqueles ativados em uma pessoa que está experimentando uma sensação particular, como dor, som ou toque – ou realizando certas ações (Rankin et al, 2006). Regiões no cérebro associadas a sentir uma emoção específica são ativadas ao ver essa emoção em outro ou testemunhar o outro em uma situação que pode provocar a emoção referida. Uma revisão da literatura neurocientífica sobre empatia revela uma série de descobertas importantes que têm relevância particular para profissionais de Psicoterapia. Primeiro, neurônios-espelho fornecem a capacidade de compreender as ações de outros. Segundo, as pessoas têm uma habilidade inata para imitar os outros. Terceiro, o contexto em que as ações ocorrem é vital para a compreensão e interpretação das ações dos outros. Quarto, as respostas à dor dos outros podem ser orientadas para si ou para outros. E quinto, há evidências neurológicas de que os indivíduos diferem uns dos outros em sua capacidade de empatia.

Alguns pesquisadores sugeriram que a descoberta de neurônios-espelho começou a fornecer uma base fisiológica para as teorias da mente. A pesquisa, até o momento, indica que empatia é uma capacidade inata, cujos precursores são evidentes desde o nascimento (Decety & Jackson, 2014). Bebês e crianças pequenas demonstraram ser capazes de extrapolar as intenções dos outros. Ao observar as ações de outras pessoas, bebês e crianças podem completar tarefas que foram iniciadas e dão desempenhos corretos de tarefas que foram lhes mostradas com erros (Decety & Jackson, 2014). Essas descobertas sugerem que as pessoas são programadas para desenvolver teorias da mente que dizem respeito a si mesmas e a outras pessoas, e que esta capacidade é uma base importante de interação e comunicação social.

Objetivos direcionados às ações

Os neurônios-espelho não disparam indiscriminadamente; em vez disso, o combate é limitado a objetivos direcionados às ações. Wilson e Knoblich (2005) observaram que a compreensão da ação é baseada em primeiro ser capaz de reconhecer e categorizar atos específicos; segundo, compreender os objetivos teleológicos e direcionados a outras ações das pessoas; e terceiro, representar o estado mental de outras pessoas. Essas capacidades permitem projetar ações e antecipar o que acontecerá no futuro. Os fundamentos neurais da empatia são, provavelmente, amplamente distribuídos e abrangem as partes emocionais do cérebro, incluindo o córtex cingulado anterior, ínsula, tálamo e córtices somatossensoriais, bem como o lobo parietal inferior direito (Ferrari et al., 2010). Acredita-se que o córtex parietal inferior direito desempenhe um papel fundamental na capacidade dos humanos de se identificar com os outros, apreendendo seus estados subjetivos. Além disso, diferentes áreas do cérebro são ativadas, dependendo se uma perspectiva de primeira ou terceira pessoa é levada em conta. Assim, quando temos empatia, estamos simulando alguns aspectos da experiência do outro, dentro de nós. Observar os outros de uma forma particularmente emocional, ativa automaticamente uma representação desse estado no observador, com todo o seu repertório de respostas autonômicas e somáticas associadas (Preston & de Waal, 2002). Este processo pode ser ativado por meio da observação real, ouvindo histórias, visualizando ou imaginando vários cenários.

As pesquisas neurocientíficas também destacam o quão importante é para os terapeutas estarem cientes dos fatores que moderam empatia, de modo a mitigar as ações dos sentimentos negativos sobre as suas capacidades de empatia em encontro às experiências de seus clientes. Rankin et al (2006) distinguiram os componentes cognitivos e emocionais da empatia. As capacidades cognitivas relacionadas à empatia incluem tomada de perspectiva, raciocínio abstrato e flexibilidade cognitiva. O termo “tomada de perspectiva” sugere que os indivíduos precisam ser capazes de adotar a perspectiva dos outros, ou desenvolver uma teoria de mente imaginando o estado cognitivo e/ou emocional de outra com base em pistas auditivas, visuais ou situacionais.

Compreensão empática

O complexo conjunto de características que compõem a empatia sugere que podemos diferenciar entre empatia cognitiva, empatia emocional e empatia cognitivo-emocional. Empatia cognitiva pode envolver diferentes sistemas neurais, incluindo neurônios-espelho e os sistemas que permitem a tomada de perspectiva. É uma forma de compreensão empática independente de redes neurais emocionais. A empatia emocional, por outro lado, é baseada em circuitos neurais emocionais. É ativada pela expressão emocional de outras pessoas e é fundada na própria compreensão de situações específicas que podem estimular várias respostas emocionais. Uma combinação de aspectos emocionais e cognitivos da empatia produz a forma mais abrangente de compreensão empática, combinando uma compreensão da perspectiva do outro e do que as coisas significam para o outro, com uma compreensão da significância dos eventos.

Empatia é um processo altamente complexo que é mais do que apenas um pano de fundo do processo psicoterápico. A compreensão empática integra informações de fontes múltiplas para identificar o significado idiossincrático da experiência para diferentes indivíduos. A comunicação empática resulta de múltiplos processos que ocorrem no cérebro. Isto é uma síntese de processamento de informações complexas em vários níveis que facilita a interação e a sobrevivência. A empatia é essencial para a comunicação interpessoal em cada relacionamento e é uma habilidade altamente sofisticada que, quando aplicada ou usada no contexto da Psicoterapia, pode ser muito interessante ao refletir seu princípio restaurador.

E MAIS …

Estados cognitivos

O raciocínio abstrato requer que as pessoas sejam capazes de fazer interpretações e se envolver em raciocínios de ordem superior sobre as perspectivas de outras pessoas. Outro componente cognitivo é a flexibilidade cognitiva, diferenciando a flexibilidade espontânea e a flexibilidade reativa. A flexibilidade espontânea se refere a uma fluência verbal do indivíduo ou capacidade de gerar ideias de maneira rápida e fácil sobre a de outro estado cognitivo e emocional. Flexibilidade reativa é a capacidade dos indivíduos de desviar a atenção para frente e para trás, comparando e contrastando informações sobre suas próprias experiências e estados cognitivos de outros, a fim de classificar, por meio de várias hipóteses, e atualizar rapidamente os modelos de trabalho dos estados emocionais e cognitivos de outras pessoas. Já os componentes emocionais da empatia incluem a capacidade de reconhecer as emoções de outras pessoas; responsividade emocional; e a capacidade de identificar corretamente suas próprias emoções e estados cognitivos.

Referências
Danziger, N., Prkachin, K. M., & Willer, J. C. (2006). Is pain the price of empathy? The perception of others’ pain in patients with congenital insensitivity to pain. Brain, 129, 2494–2507.
Decety, J., & Jackson, P. L. (2014). The functional architecture of human empathy. Behavioral and Cognitive Neuroscience Reviews, 3, 71–100.
Ferrari, P. F., Gallese, V., Rizzolatti, G., & Fogassi, L. (2010). Mirror neurons responding to the observation of ingestive and communicative mouth actions in the monkey premotor cortex. European Journal of Neuroscience, 17, 1703–1714.
Preston, S. D., & de Waal, F. B. M. (2002). Empathy: Its ultimate and proximate bases. Behavioral and Brain Sciences, 25, 1–72.
Rankin, K. P., Gorno-Tempini, M. L., Allison, S. C., Stanley, C. M., Glenn, S., Weiner, M. W., & Miller, B. L. (2006). Structural anatomy of empathy in neurodegenerative disease. Brain, 129, 2945–2956.
Wilson, M., & Knoblich, G. (2005). The case for motor involvement in perceiving conspecifics. Psychological Bulletin, 131, 460–473.