ESTUDO DE CASO

Recentemente recebi, em meu consultório, uma paciente que havia tomado conhecimento de meu trabalho em Psicologia Positiva e marcara uma consulta “apenas para conversar”. Pensei se tratar de alguém que estivesse indeciso quanto a fazer ou não terapia, mas logo nos primeiros minutos de conversa, fiquei espantada ao saber que essa paciente já fazia terapia com outra profissional há 4 anos. Tratava-se de uma pessoa que lutava há 6 anos contra uma depressão, inclusive com acompanhamento psiquiátrico. Estranhei que, com tanto tempo de tratamento, ela ainda não tivesse obtido resultado. Depois de ouvir um pouco de sua história, não me contive em perguntar-lhe a razão pela qual me procurara, uma vez que ela estava fazendo terapia com uma profissional de quem ela própria dizia gostar muito. Fiquei surpresa (e, confesso, penalizada) com a resposta: “É que eu queria muito ser feliz e minha terapeuta diz que felicidade não existe. Um dia, liguei o rádio e ouvi você falando que tinha defendido uma tese de doutorado sobre felicidade! Eu precisava vir aqui pra te perguntar: felicidade existe????”

Ficamos um longo tempo conversando sobre felicidade e sobre as pesquisas em Psicologia Positiva, o que acredito ter lhe trazido algum alento. Não tenho elementos, nem mesmo a pretensão, de julgar competência daquela terapeuta. Também não posso assegurar que a paciente a tenha interpretado corretamente. No entanto, não pude deixar de notar que a ideia da não existência da felicidade é perfeitamente condizente com determinadas abordagens psicológicas, dentre elas a que a terapeuta em questão seguia.

Como aquela paciente, já fragilizada e enfraquecida, poderia lutar para alcançar algo que, de antemão, lhe disseram não existir? Naquele momento, percebi que a ciência psicológica tem, de fato, uma dívida para com o ser humano: aprendemos a aliviar o sofrimento e a curar doenças, como se isso, automaticamente, trouxesse a felicidade. Somos especialistas na mente humana e não sabemos responder, por meio da nossa ciência, o que torna um indivíduo feliz.