A psicobiologia contribui significativamente para o tratamento dos transtornos mentais ao explorar a relação entre o funcionamento cerebral e o comportamento humano. Além disso, auxilia no aprimoramento de diversas abordagens terapêuticas e contribui para o desenvolvimento de terapias combinadas, como a psicoterapia associada ao tratamento farmacológico, para alcançar resultados mais eficazes. Nesta entrevista, o assunto é aprofundado pela psicóloga clínica Danielle Peruchi, que atua com ênfase na terapia cognitivo-comportamental (TCC).
Graduada em psicologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), ela tem pós-graduação em gestão de pessoas pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP) e aperfeiçoamento em psicobiologia pela Universidade de São Paulo (USP). Atualmente é mestranda em psicobiologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (USP). Também é colaboradora de pesquisa no Ambulatório Psiquiatria Primeiro Episódio Psicótico (PEP) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP-USP).
O que é psicobiologia?
A psicobiologia é uma área que investiga as bases biológicas do comportamento, buscando compreender como o funcionamento do cérebro e do sistema nervoso influencia nossos pensamentos, emoções e ações tanto em seres humanos quanto em outros animais. A disciplina examina desde os processos celulares e neuroquímicos, como a atividade dos neurônios e neurotransmissores, até aspectos evolutivos e de desenvolvimento que moldam o comportamento.
Quando e por que surgiu?
A psicobiologia surgiu como uma resposta à necessidade de explicações mais científicas sobre o comportamento humano, além das abordagens filosóficas predominantes nos séculos 18 e 19. Filósofos como René Descartes já se preocupavam em entender a relação entre mente e corpo, propondo modelos baseados na física e sugerindo que a glândula pineal era o ponto de interação entre essas duas esferas. No entanto, foi a partir do final do século 19 que a psicobiologia começou a se consolidar como uma disciplina científica. Um marco importante foi o livro ‘Os princípios da psicologia’, de William James, publicado em 1890, que integrou aspectos biológicos e psicológicos em sua análise do comportamento.
O termo psicobiologia foi oficialmente utilizado pela primeira vez por Knight Dunlap (psicólogo norte-americano), em 1914, no seu livro ‘Um esboço de psicobiologia’. Dunlap também foi pioneiro na criação da revista científica Psychobiology, que ajudou a estabelecer a disciplina como uma área de estudo formal e a difundir o enfoque biológico na compreensão dos processos psicológicos.
Em resumo, a psicobiologia surgiu para preencher uma lacuna no entendimento do comportamento humano, unindo descobertas da biologia e da psicologia para explicar como os processos cerebrais e o sistema nervoso determinam as nossas ações e experiências.
Por que escolheu essa área para seu mestrado?
Escolhi a área de psicobiologia para o meu mestrado porque sentia a necessidade de explorar explicações mais científicas e baseadas em evidências sobre o comportamento humano. Durante a graduação em psicologia, percebi que muitos conceitos têm uma base mais filosófica e teórica. Embora essas abordagens sejam valiosas, eu buscava uma compreensão mais aprofundada dos processos biológicos que influenciam nossos pensamentos, emoções e ações. A psicobiologia oferece um enfoque integrado entre neurociência e comportamento, permitindo investigar as bases biológicas das funções psicológicas, algo que considero essencial para uma visão mais completa do ser humano.
Explique a relação da psicobiologia com a neurociência?
A psicobiologia e a neurociência são campos intimamente relacionados, tanto que a psicobiologia é frequentemente chamada de neurociência comportamental. A principal conexão entre elas é que ambas buscam entender o funcionamento do sistema nervoso. A psicobiologia aplica os conhecimentos da neurociência para investigar questões como: como os neurotransmissores influenciam nossas emoções ou quais circuitos cerebrais estão envolvidos na aprendizagem e memória?
De que forma a psicobiologia contribui no tratamento dos transtornos mentais?
A psicobiologia contribui significativamente para o tratamento dos transtornos mentais ao explorar a relação entre o funcionamento cerebral e o comportamento humano. Ao estudar tanto o funcionamento normal do cérebro quanto as alterações causadas por doenças, lesões e desequilíbrios neuroquímicos, os pesquisadores conseguem identificar os mecanismos subjacentes que influenciam pensamentos, emoções e comportamentos.
Uma das principais formas de contribuição é por meio do entendimento de como os neurotransmissores, como a serotonina, a dopamina e a noradrenalina, por exemplo, estão envolvidos em transtornos como depressão, ansiedade e esquizofrenia. Para ilustrar, podemos mencionar as diversas pesquisas que têm ajudado a identificar desequilíbrios químicos no cérebro que podem ser tratados com medicamentos específicos, como antidepressivos, ansiolíticos e antipsicóticos.
Além disso, a psicobiologia auxilia no aprimoramento de diversas abordagens terapêuticas e contribui para o desenvolvimento de terapias combinadas, como a psicoterapia associada ao tratamento farmacológico, para alcançar resultados mais eficazes. Dessa forma, ela desempenha um papel crucial na promoção da saúde mental e na melhora da qualidade de vida dos indivíduos.