Considerado um dos distúrbios mentais mais difíceis de se tratar e com maior estigma social associado, o transtorno da personalidade borderline (TPB) é caracterizado por um padrão de intensa desregulação emocional e de hipersensibilidade nos relacionamentos interpessoais. O que acaba levando o paciente a desenvolver uma série de comportamentos impulsivos e autodestrutivos e até mesmo à desorganização do senso de self.
Ainda que diferentes abordagens psicoterapêuticas sejam efetivas, pessoas com diagnóstico de TPB costumam ser vistas como um desafio pelos terapeutas. Isso porque os padrões relacionais mal-adaptativos desses pacientes influenciam não só nas relações com a família, os amigos e no trabalho, mas, também, no relacionamento terapêutico. Portanto o modo como o profissional responde às dificuldades desses indivíduos é crucial para determinar o sucesso ou o insucesso do tratamento.
Nesta entrevista, o psicólogo e hipnoterapeuta Romanni Souza aborda principais dúvidas sobre TPB, tido por muitos especialistas como a doença do século. Pós-graduado em neurociência e treinador oficial do Instituto Romanni, ele é criador da metodologia de hipnose transformacional.
Transtorno da personalidade borderline e transtorno bipolar são a mesma coisa?
Não. O TPB é diferente do transtorno de bipolaridade. Já que a instabilidade emocional é um dos principais sintomas, eles podem ser confundidos, mas existem diferenças. As alterações de humor acontecem mais rapidamente no TPB. Diferentemente do transtorno bipolar, em que as alterações de humor podem levar até meses para acontecerem entre uma e outra, na pessoa com borderline, é perceptível que, às vezes, no mesmo dia, já existem estados maníacos, estados de euforia e de agressividade, por exemplo.
A pessoa com borderline é de difícil convivência?
A pessoa com este transtorno tende a ter uma dependência emocional ainda mais forte se comparada a outras doenças. Muitas vezes, o borderliner pode conhecer um novo amigo em um dia e já dizer que aquele é o seu melhor amigo da vida e, depois, simplesmente desaparecer. Ele também se sente rejeitado por pessoas próximas a ele, como se o outro tivesse que suprir aquele vazio que ele sente. Diante disso, esses picos e oscilações de humor dificultam ainda mais a convivência.
O transtorno da personalidade borderline é genético?
Alguns casos têm a ver com genética e outros, com o histórico de vida da pessoa. Percebe-se que pessoas que sofreram traumas ou abusos durante a infância têm maiores chances de desenvolverem o transtorno. Assim como pessoas que têm parentes com TPB também têm uma suscetibilidade maior. Se a pessoa tem um irmão com borderline, por exemplo, ela tem até cinco vez mais chances de também desenvolver o transtorno.
Pessoas com borderline são mais suscetíveis ao desenvolvimento de vícios?
Sim. Pela alta impulsividade, a pessoa com esse transtorno acaba tendo atitudes extremas, como se envolver com drogas ou outros vícios, como o de depender de outra pessoa.
É possível ajudar uma pessoa próxima com TPB?
Sim. Primeiramente, é necessário entender que a pessoa com borderline não tem os comportamentos característicos porque ele quer ou porque gostaria de ser assim, pois se trata de um transtorno psicológico. As amígdalas, uma estrutura dentro do nosso cérebro, no transtorno da personalidade borderline, é uma estrutura menor do que em outros cérebros. Percebe-se, ainda, que outras regiões do cérebro também são menores do que as de um cérebro saudável. Esse pico de oscilações das emoções não são só uma questão de fazer isso porque quer, e sim a condição daquela pessoa. O principal é ajudar o indivíduo a procurar atendimento especializado. Há tratamentos eficazes, e alguém com TPB pode viver normalmente e com sintomas controlados, desde que busque autoconhecimento e, claro, auxílio médico/terapêutico.