Em 1997, enquanto cursava o segundo ano de faculdade de psicologia na PUC-SP, um ícone da pedagogia palestrou na instituição em questão.
E foi dessa “sumidade” que ouvi uma das maiores bobagens sobre a educação brasileira do século XXI: “As crianças sabem o que é bom para elas.
Precisamos apenas criar um contexto para que busquem por elas mesmas.”!
E não parou por aí.
Os estudos na faculdade continuaram e descobri que alguns aspectos do que ela disse estavam enraizados na psicologia, além de outros conceitos nocivos, como evitar frustrar e/ou dizer “não” para crianças, protegê-las de sofrimentos, ajudá-las com a lição de casa, fazer poucas críticas e motivar por elogios.
Lamentável…
Uma equação cada vez mais difícil
O resultado matemático dessa formação descrita é assustador em crianças e adolescentes:
- uma autoestima extremamente alta, embora injusta (acreditam que são excelentes em tudo que fazem, embora saibam pouco);
- incapacidade de lidar com frustrações; são dependentes, pois sempre tiveram pais e professores particulares ajudando nas lições;
- são inseguros, porque não descobriram do que são capazes por sempre terem tido ajuda;
- exigem-se pouco, afinal, “importante é ser feliz” (mas não aprenderam que todo objetivo tem os seus custos);
- e quererem muito fazendo pouco ou nada, embora se sintam capazes de fazer tudo.
Ser “super eficiente”
O mundo não está ficando mais fácil, muito pelo contrário. Robôs e Inteligências Artificiais (IA) estão cumprindo cada vez mais funções das pessoas, inclusive acabando com seus empregos.
Os relacionamentos pessoais estão exigindo mais, basta comparar o conceito de boa esposa: antes era alguém que cuidava bem da casa e dizia o que era certo para os filhos; hoje, precisa também trabalhar fora, ter uma segunda língua, ser agradável, ter o corpo “fit”, ser líder, conversar com os filhos, ser sorridente e sempre motivadora (coisas vendidas nas ondas atuais de como ser “super eficiente” em todas as áreas da vida).
Habilidades para a vida
Não existe uma educação certa, mas acredito que algumas habilidades sejam necessárias para a maioria das pessoas. Por isso, devemos ensinar às nossas crianças, desde cedo, alguns conceitos básicos fundamentais e que, obviamente, elas não nascem sabendo, como:
- Aprender lidar com os “nãos” da vida;
- Entender que haverá “1 Messi para cada 1 bilhão de pessoas”, e que você tende a não ser um deles;
- Saborear o fato de que agradará poucas pessoas na vida;
- Compreender que a maioria dos objetivos realmente importantes na vida exige muito esforço, como manter um relacionamento de amor agradável e duradouro;
- Ser realmente bom numa coisa complexa exige muito esforço, afinal, quanto um “programador de computadores” precisa estudar, trabalhar e lidar com as próprias faltas e falhas para ser realmente bom naquilo?;
- Buscar o bem do outro antes do próprio costuma ser uma necessidade para formar vínculos com filhos, pais, amigos e até chefe na profissão.
Contos de fada para adultos
Portanto, viver bem é simples e fácil apenas nos contos de fada para adultos.
De resto, é preciso esforço, perceber a própria pequeneza-grandeza, valorizar o que fez e faz de bom, buscar melhorar constantemente, cuidar bem de si e do outro e “vinho com moderação”.