Você é estudante de psicologia e ainda não assistiu à série ‘Modern Family’? Então confira este texto… acho que você vai ficar louco para assistir. É uma sitcom norte-americano com 11 temporadas, aborda diversas temáticas, desde sexualidade e relações de uma família moderna, até sinais de transtornos como ansiedade e déficit de atenção/hiperatividade (TDAH). A temática principal que levaria a análise na série seriam as relações conjugais existentes, mas hoje iremos focar os sinais de TDAH observados, com o olhar direcionado para dois personagens: Luke e Phil.

Uma das famílias acompanhadas na série é a família Dunphy, composta por Claire e Phil e seus três filhos: Haley, Alex e Luke. Entre complicações e risadas, no episódio ‘Starry Night’ (18º episódio da 1º temporada), acompanhamos Claire e Phil tentando não ajudar Luke em um projeto da escola e buscando estimulá-lo a ser criativo e responsável.

Nos primeiros minutos do episódio, nos deparamos com uma típica discussão familiar, em que os filhos não avisaram sobre um projeto escolar e bolinhos para comemoração que precisavam levar no dia seguinte. Luke tem um projeto para entregar e não havia nem o começado; Claire pede que Phil ajude o filho a se manter concentrado, sem distrações. A filha do meio, Alex, aborda a hipótese de que o irmão tenha TDAH, por isso não se concentra e precisa de alguém o supervisionando. Logo em seguida, o personagem age de forma caricata para “comprovar” o ponto levantado.

Afinal, o que é esse transtorno?

Para um diagnóstico de TDAH, os sintomas de hiperatividade, impulsividade e/ou desatenção devem atender aos critérios diagnósticos do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, 5ª edição, texto revisado (DSM-5-TR), que são: desatenção com sintomas persistentes por pelo menos seis meses que causam impacto negativo direto nas atividades sociais e acadêmicas; hiperatividade e impulsividade com sintomas persistentes por pelo menos seis meses que causam impacto negativo direto nas atividades sociais e acadêmicas.

Segundo o DSM-5-TR, a característica essencial do transtorno de déficit de atenção/hiperatividade é um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade que interfere no funcionamento ou no desenvolvimento. A desatenção se manifesta como divagação em tarefas, falta de persistência, dificuldade em manter o foco e desorganização. Já a hiperatividade se refere à atividade motora excessiva, ou remexer, batucas ou conversar em excesso – nos adultos pode se manifestar na inquietude. Enquanto a impulsividade ocorre com ações precipitadas com potencial a dano.

O TDAH é compreendido como um transtorno de neurodesenvolvimento que apresenta sintomas ainda na infância e permanecem ao longo da vida, presentes em mais de um ambiente (como casa, escola, trabalho, lazer e outros). Acredita-se que fatores neurobiológicos, ambientais e de hereditariedade contribuem, sendo comum que pais identifiquem o transtorno em si quando começam a perceber no filho, como é o caso de Phil Dunphy, em Modern Family.

Ao prometer ficar de olho no filho, Phil e Luke se distraem repetidamente ao longo do episódio. Podemos ver sinais claros de TDAH quando Alex, a filha do meio da família, fala sobre os sintomas do transtorno e, de forma caricata, Phil demonstra um looping de distração na garagem de casa, onde, ao buscar uma ferramenta, percebe a luz piscando e, ao largar o que estava fazendo para trocar a lâmpada, descobre onde deixou os óculos de sol há muito tempo perdidos, logo esquecendo da lâmpada e pegando o óculos de maneira impulsiva, colocando sua segurança em risco. Alguns minutos mais à frente do episódio, o personagem pede desculpas e diz que o filho herdou os traços de desatenção dele, provando o ponto da hereditariedade do transtorno.

Tratamento

A terapia comportamental é uma abordagem terapêutica comumente usada no tratamento do TDAH. O psicólogo pode ajudar o paciente a desenvolver estratégias para melhorar a concentração, a organização, o planejamento e a autorregulação emocional. Além de envolver abordagens psicológica, o tratamento envolve acompanhamento multidisciplinar, abordagem psicopedagógica e medicamentosa. Os pais também podem estimular seus filhos com brincadeiras e jogos que exigem concentração e atenção, como quebra-cabeça, memória e tabuleiro. Outro ponto importante a ser trabalhado é a orientação aos pais e professores com ensino de técnicas específicas para eles e para o paciente.

O livro TDAH na infância: 20 sessões para trabalhar com crianças apresenta técnicas para os profissionais usarem no consultório. Também objetiva instrumentalizar pais e educadores, fornecendo orientações para auxiliarem as crianças com TDAH no dia a dia. Já o livro Protocolos clínicos em terapia cognitivo-comportamental: de Beck à terceira onda traz protocolos estruturados para trabalhar com adultos com TDAH pela terapia cognitivo-comportamental (TCC) e terapia comportamental dialética (DBT), trazendo protocolos para atendimento individual e em grupo, com práticas de mindfulness, ressignificação de crenças, análise funcional, psicoeducação e muito mais.