As variações genéticas contribuem para características físicas como altura e cor do cabelo, mas também podem influenciar a probabilidade de contrair certas doenças como câncer. Essas mudanças em nossa sequência de DNA podem ser herdadas ou resultado do estilo de vida e de fatores ambientais, como tabagismo, luz solar e radiação. No caso de tumores, as alterações genéticas fazem com que o câncer cresça e se espalhe, mas cada pessoa tem uma combinação distinta delas.

A oncologia de precisão usa a genética dos tumores para criar um plano de tratamento direcionado às características moleculares específicas das células malignas. “Como o próprio nome já diz, é uma terapia precisa, personalizada. É importante entender que um tratamento que ajuda o câncer de uma pessoa nem sempre funciona para outra com o mesmo tipo da doença”, explica Carlos Gil Ferreira, oncologista e presidente do Instituto Oncoclínicas.

As terapias “tradicionais” contra o câncer, como a quimioterapia, embora muito eficazes e pilares no tratamento do câncer para muitos pacientes, têm também potenciais efeitos colaterais. Além de matar as células cancerígenas, podem danificar algumas saudáveis. Já a oncologia de precisão através da identificação de um biomarcador genético específico utiliza medicamentos específicos que impedem que as células cancerígenas com esse biomarcador genético se dividam e cresçam – geralmente poupando células saudáveis ​​e limitando os efeitos colaterais. 

Modalidades de tratamento

“O desenvolvimento de modalidades de tratamento mais personalizadas e direcionadas tem sido bastante animador na luta contra o câncer na última década e é uma área de pesquisa em rápido desenvolvimento, que está cada vez mais entrando na prática da oncologia convencional”, conta Carlos Gil.

Segundo o oncologista é promissor o uso de biomarcadores para identificar a quais terapias o câncer de um determinado paciente pode ou não responder. “Já existem estudos realizados, por exemplo, para descobrir alvos que possam predizer a eficácia da quimioterapia convencional e da radioterapia. Caso se torne realidade isso otimizará bastante o tratamento.”, afirma.

Acesso às tecnologias

A bioinformática é um campo interdisciplinar que corresponde à aplicação das técnicas da informática para aquisição, armazenamento, análise e difusão de dados biológicos. Os avanços tecnológicos na genômica das duas últimas décadas ampliaram o acesso ao sequenciamento de dados, que chegam em estado bruto e precisam ser convertidos em informações palpáveis. Neste caso, é necessária a aplicação de técnicas de bioinformática para a interpretação dessas informações.

 “A medicina personalizada é grande aliada ao tratamento do câncer e a possibilidade de trabalhar com dados mais específicos para cada tipo de tumor potencializa o processo. Em laboratórios de diagnóstico molecular a bioinformática participa dos processos de geração, análise e interpretação de dados moleculares em testes genéticos e se tornou um campo fundamental. Tão importante quanto o sequenciamento de dados”, afirma Carlos Gil.

Segundo o médico a oncologia de precisão é considerada estrutural para o futuro no tratamento de câncer. O problema é que os gastos para custear a indústria de Saúde ficam mais altos e o acesso dos pacientes pode ficar ameaçado e desigual entre saúde privada e pública. “No Brasil, um desafio importante é o acesso às tecnologias inovadoras, que não são baratas. Além disso, estruturar e capacitar o sistema de saúde com técnicas avançadas em biologia molecular exige profissionais especialistas. Mas é importante ressaltar que são essas tecnologias que têm permitido um aumento significativo na expectativa de vida da população, inclusive na sobrevida de pacientes com câncer de pulmão”, diz.

E MAIS…

Livro sobre como esses avanços vêm revolucionando os prognósticos de câncer acaba de ser lançado

O médico é um dos autores do livro “Oncologia de Precisão”, produzido pelo Instituto Oncoclínicas e também assinado pelos especialistas Bruno Ferrari, fundador e CEO da Grupo Oncoclínicas, Mariano Zalis, Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Oncoclínicas e Professor Adjunto da Faculdade de Medicina/ UFRJ, Rodrigo Dienstmann, Diretor do programa de Medicina de Precisão da Oncoclínicas e pesquisador do grupo Oncology Data Science no Vall d’Hebron Institute of Oncology (Espanha) e Jorge Reis Filho, Diretor de Patologia Experimental no Memorial Sloan Kettering Cancer Center em Nova Iorque.

A obra, lançada neste início de dezembro, explora em suas 417 páginas como a oncologia vem evoluindo significativamente através da utilização de técnicas de análise molecular para identificação das alterações genéticas das células cancerígenas, sejam elas hereditárias ou não. Esses avanços no conhecimento aprofundado dos mecanismos da doença se refletem não só em diagnósticos mais precisos e em estágios cada vez mais precoces, mas também possibilitam estratégias voltadas à individualização das linhas de cuidado.

Ficha técnica

Título: Oncologia de Precisão

Autores: Bruno Ferrari, Carlos Gil Ferreira, Mariano Zalis, Rodrigo Dienstmann e Jorge Reis Filho

Editora: DOC

Páginas: 417