As doenças hereditárias são o grande pesadelo de muitas pessoas que acreditam serem reféns de “sentenças genéticas”. No entanto, há alternativas. Alimentar-se apropriadamente com base na informação genética e se exercitar são atitudes fundamentais para evitar certas doenças, assim como manter o cérebro ativo contribui para a prevenção de patologias neurodegenerativas mesmo quando já há casos na família.

De acordo com a geneticista e bióloga molecular Susana Massarani, a epigenética é responsável por analisar como o ambiente, os comportamentos e os hábitos influenciam a expressão gênica. “Ou seja, você pode até ter genes potencialmente perigosos para o desenvolvimento de certas doenças, mas seu estilo de vida pode contribuir para que eles se mantenham adormecidos”, afirma.

Assim como o conceito de neuroplasticidade, que explica como o cérebro se adapta e é capaz de criar novas sinapses, a epigenética é uma abordagem relativamente nova que mostra que o organismo humano não nasce fadado a um destino. “Todos os fatores do ambiente onde vivemos, tais como o local, a temperatura, a pressão, a exposição solar, com quem vivemos e trabalhamos, com o que trabalhamos, entre outros, têm influência sobre a expressão do nosso DNA”, complementa.

Susana é geneticista, bióloga molecular e microbiologista. Atua na primeira clínica digital do Brasil, a Clínica DNA Massarani. É membro científico e palestrante do Instituto de Nutrição Cérebro Coração (INCCOR-RJ) e pós-graduada em prescrição clínica com foco em nutrigenética e nutrigenômica.

O que é epigenética?

A epigenética é qualquer alteração na forma em que nossos genes são expressos sem alterar a informação que eles carregam. Por exemplo, cada gene tem uma sequência enorme de nucleotídeos (aquelas letrinhas que constituem o nosso DNA, ATCG) e a epigenética não altera essa sequência; altera como essas letrinhas serão lidas. A epigenética pode ajudar a prevenir e controlar certas condições de saúde quando modulada por um profissional de saúde capacitado, aumentando a qualidade de vida e a longevidade do paciente.

De que forma a epigenética explica que os seres humanos não são reféns de seus genes?

De acordo com o estilo de vida do paciente, que inclui alimentação e todas as atividades no seu dia a dia, com o que trabalha, se pratica esportes, se estuda, com quem vive, seus níveis de estresse etc., os genes podem ter sua expressão alterada. Esses genes podem ser menos ou mais expressos, reduzindo ou aumentando as proteínas que codificam, e até mesmo silenciados, mas esse termo deve ser utilizado com muito cuidado. Não se pode sair silenciando os genes, porque são todos interligados. Somos sistemas biológicos complexos; qualquer alteração pode levar a uma consequência. Dessa maneira, conseguimos reduzir certos riscos, prevenir e/ou controlar doenças. Entretanto, essa máxima de “genética não é destino” não é verdadeira. Há alterações genéticas cujo resultado não podemos evitar. O que podemos fazer nesse último caso é melhorar a qualidade de vida do paciente.

Quais são os aspectos que influenciam na expressão do DNA?

O DNA sozinho é apenas um grande arquivo de informações de cada indivíduo e, para que essas informações sejam expressas, qualquer fator ambiental influencia na expressão gênica. Esses fatores são a alimentação (principalmente) e as condições sob as quais o indivíduo vive, contando todas as relações interpessoais, seu sono, sua ocupação, o local em que vive, temperatura, poluentes, radioatividade.

De que forma a epigenética enfraquece a máxima de que “somos o que comemos”?

Uma vez que precisamos de todos os fatores que influenciam na expressão dos nossos genes para sermos como somos, não é só a alimentação que é o fator determinante, embora seja extremamente importante. Somos o que comemos, o que fazemos, como fazemos, como trabalhamos, como e onde moramos, com quem andamos e moramos, como dormimos, se nos exercitamos. Tudo isso, junto com os nutrientes provenientes da alimentação, modula a expressão dos nossos genes e nos faz ser como somos.

Nesse contexto, o que é importante que seja feito para evitar não só doenças físicas, mas também transtornos mentais?

A alimentação e tudo o que foi citado acima são extremamente importantes. Há alterações genéticas que demandam aporte de certos compostos provenientes da alimentação e da suplementação, quando necessária, não só em quantidades diferentes, mas também na forma de molécula diferente para que as células do paciente consigam utilizar. Às vezes, o paciente não é capaz de degradar e/ou produzir neurotransmissores e outras substâncias e, com base em sua informação genética, é possível ajudar o corpo a ficar em equilíbrio.

O que é necessário fazer para evitar doenças neurodegenerativas?

Uma alimentação apropriada e um estilo de vida saudável, com exercícios físicos e cognitivos, ajudam bastante. Se for possível fazer um teste genético de predisposição, de maneira personalizada, isso se torna muito mais eficiente. Mas para que tudo isso dê certo, a pessoa tem que querer, não adianta fazer um teste genético e não seguir as recomendações do profissional de saúde.