O machismo parte da ideia de que os homens são superiores às mulheres e não apenas eles podem fazer coisas que as mulheres não podem, como ainda estabelecem regras para fortalecer e fazer prevalecer esta crença. Sempre me perguntei, por exemplo, por que uma freira não pode rezar missa? O argumento de que só se segue a tradição iniciada por Jesus Cristo, que apenas escolheu discípulos homens te convence? A mim não.
O feminismo opõe-se ao machismo, mas não é o seu contrário e, portanto, não tem por finalidade a submissão ou desvalorização dos homens, senão se equivaleria a ele.
Reflexo da sociedade patriarcal
O movimento feminista não veio para suprimir ou aniquilar os direitos dos homens, mas sim para livrar as mulheres da opressão que sempre sofreram e ainda hoje sofrem e para lhes garantir direitos básicos e igualitários aos dos homens. Legítimo, trouxe vários benefícios às mulheres, sem dúvidas.
Por que será, então, que encontramos homens e mulheres confusos diante da posição feminista? Por que homens e mulheres não parecem mais felizes hoje quando há uma maior igualdade?
Meu corpo, meu sexo, minhas regras, ouvimos repetirem. Por que então muitas mulheres ainda se preocupam em não ter relações sexuais no primeiro encontro? A mulher não se sente à vontade de mostrar o seu desejo? E o homem não pode amar a mulher que revela o seu desejo?
Várias pacientes me relatam que “ele só quer sexo” comigo. E se isso for verdade, será que depõe contra a mulher? Perde ela o valor quando deixa o homem acessar seu corpo nessa condição? Ela não se permite o mesmo, ou seja, só querer sexo com um homem?
Bônus e ônus
Na música “amor e sexo”, Rita Lee já diferenciava “…amor sem sexo é amizade, sexo sem amor é vontade, amor é um, sexo é dois, sexo antes, amor depois…”
Direitos iguais são pregados. Por que então muitas mulheres ainda têm uma grande dificuldade de arcarem com todas as despesas da casa quando o parceiro fica desempregado, por exemplo, e põem-se a pensar que só servem para pagar as contas. Colocam-se no lugar de objeto? Pensam estar ocupando um lugar masculino e se incomodam com isso?
Ora, o antigo papel do homem de sustentar a família, de tomar as decisões, de dar a última palavra definitivamente mudou. Além destas tarefas hoje cuidam dos filhos, da casa e também as mulheres exercem funções do velho papel masculino. Não esqueçamos que o feminismo traz bônus e ônus.
Será que tem a ver com o feminismo não permitir que o homem lhe pague a conta de um jantar, ou lhe abra a porta do carro, ou a ajude a instalar uma TV?
Diferenças não impeditivas
Homens e mulheres são diferentes psíquica e fisicamente, mas isso não impede que mulheres exerçam funções antes somente dos homens e vice-versa. Lembremos de Rodrigo Hilbert que cuida dos filhos, faz comida e até crochê! Por que não? E daí? As diferenças existem e temos que aceitá-las e lidar com elas.
O que de real está acontecendo, me parece, é que algumas mulheres, em nome do feminismo, ao invés de exaltarem exatamente a possibilidade de fazerem tudo que os homens fazem e, por isso, se equipararem a eles em direitos, privilegiam menosprezá-los, diminuí-los em suas próprias vidas, repetindo e reafirmando que não precisam deles para nada, numa tentativa de se convencerem disso.
Vejo mulheres independentes que dão conta de si mesmas, de suas vidas e até de seus filhos sozinhas. No entanto, indicam sua posição com tanta firmeza, de forma ruidosa, a sugerir ao homem que ele é totalmente descartável, dispensável.
Dores comuns a ambos
Outras os veem como verdadeiros inimigos, algozes de suas dores.
Essa fala muitas vezes cai no vazio, pois é usual que no divã elas revelem uma fragilidade que querem esconder, um sentimento de solidão por não terem um parceiro, e repetem desanimadas e como um mantra que “os homens não querem nada sério com elas”.
Muitas delas espalham a ideia de que são autossuficientes, que não querem relacionamento sério (chegam a marcar isto no seu perfil) e muito menos se casar, enquanto sonham com um cara bacana, que as ame, valorize e queira compartilhar a vida com ela. Se ressentem, de verdade, da falta disso.
Certo dia uma paciente revelou que chora toda vez que volta do mercado, não propriamente porque tem que carregar as compras, tem que guardá-las quando chega em casa, mas porque o faz sozinha.
As mulheres reclamam que estão cansadas de resolver tudo, de dar conta de tudo, que querem ser cuidadas, querem colo. Quem não quer, afinal? Todos (homens e mulheres) precisamos do outro, desde a origem.
Fragilidade escondida a sete chaves
Bem, o que elas estão nos falando? Na verdade estão dizendo que deixaram de dividir coisas de suas vidas com os homens para se manterem na condição de fortes, mas isto tem um peso, uma sobrecarga que em determinado momento é sentido e as faz indagar sobre suas escolhas.
Os homens se dizem assustados com tais mulheres tão fortes e independentes, além de confusos de como devem atuar. Afinal, elas querem um homem para dominar ou para compartilhar?
As mulheres se libertaram para usar calças compridas, pílulas, para votar, para gestarem um filho sem um parceiro físico, mas lá no fundo remanesce algo.
Pode ser o medo do machismo que ainda é muito presente na nossa sociedade, é verdade, mas me parece que algo falta na própria mulher, vale dizer, falta-lhe introjetar os direitos que tanto pleiteia para si, fazer valer a liberdade que tanto almeja e pela qual tanto luta, sem que esteja presente o sentimento de menosprezo pelo masculino.
A luta feminista pelo amor
Que nos sirva a cena da inspiradora série “Coisa Mais Linda”, da Netflix, que aborda o empoderamento feminino em 1959, na qual a protagonista, Maria Luiza, apaixonada por dois homens, não quer decidir por um ou outro, mas ficar com os dois!
Sejamos femininas, usemos cílios, cabelos e unhas postiças, usemos as roupas que nos fazem sentir bonitas, valorizemos nossos corpos e nossos desejos (que pode ser o de ficar sozinha), lutemos pelos nossos direitos, mas não deixemos de buscar o amor, de dividir nossas alegrias e mazelas com o homem porque nada melhor numa adversidade ouvirmos ele dizer olhando em nossos olhos: “estamos juntos nessa”.
Como não desistir ou recuperar a busca por uma relação de amor?
Bem, e aí me perguntam o que fazer com tudo isso?
Primeiro, entendo ser necessário abandonarmos a crença (pejorativa) de que “todo homem/mulher é igual”.
Alguns traços comuns não nos fazem iguais. Não, somos todos diferentes, cada qual uma singularidade. Além disso, estamos sempre em transformação. Coisas que adorávamos na adolescência, hoje não fazem mais nossa cabeça, por exemplo. Coisas que detestávamos na vida adulta, na velhice pode nos agradar.
Por outro lado, acreditar em príncipe também não é um bom caminho, afinal nós não somos princesas e a idealização do outro atrapalha a visão do real.
Em segundo lugar, é preciso enfrentar nossos medos. Todos temos medo de sermos rejeitados, de mostrar nossos sentimentos, de dizer que queremos namorar sim. Tememos não ser suficientes, não darmos conta das demandas do outro, sermos traídos.
Nos angustia pensar que podemos investir em alguém que “não vale a pena” e que podemos nos machucar, mas não há relação alguma que cresça e se fortaleça sem investimento emocional. Uma amizade não sobrevive só de afinidades. Até mesmo a relação familiar pode ser quase inexistente, se não houver empenho. É preciso que haja dedicação, troca, entrega. Por que seria diferente com a relação amorosa?
“Não quero me jogar de cabeça” dizem os pacientes. Ora, precisamos reconhecer que, de fato, pode não dar certo, mas que também pode dar. Não há garantias. Só saberemos se nosso investimento emocional num relacionamento deu resultado, se tentarmos. Não há outra forma.
Não deixamos de participar de um processo de seleção para aquela vaga de emprego que desejamos tanto; não deixamos de tomar o avião para fazer aquela viagem dos nossos sonhos não e mesmo?
Então, por que essa “preguiça” na relação com o outro? Por que não insistir no nosso desejo?
Em terceiro lugar, acredito que devemos melhorar a comunicação com o outro. É primordial que ela seja mais direta, franca e aberta. Não é possível que fiquemos tentando descobrir o que se passa na cabeça dele (a), o que ele (a) quer. Por que tantos “joguinhos” entre adultos?
A sugestão é: pergunte, ouça e tente compreender. E fale. Que tal falarmos mais o que pensamos e o que queremos ao outro?
Como no refrão da música “Só hoje” (Jota Quest) que diz: “Hoje preciso de você com qualquer humor, com qualquer sorriso. Hoje, só tua presença vai me deixar feliz. Só hoje”.
Enfim, prefiro pensar que tem tanta gente legal por aí querendo ser amado e amar… então por que não eu?