ESTUDO DE CASO
Essa é uma pergunta que vem sendo feita por diversos idosos em razão do enfrentamento do etarismo, ou ageísmo, ou seja, da discriminação de pessoas com mais idade que vem ocorrendo com certa frequência em nossa sociedade.
Sem dúvida, é uma forma de exclusão com consequências não apenas para o próprio idoso, como para a coletividade.
Queixa de ansiedade e depressão
Uma paciente veio a mim com queixa de ansiedade e depressão porque na empresa em que trabalhava acerca de 20 anos tinham mudado o sistema de alimentação de dados e também trocado, ao longo desse tempo, vários funcionários por pessoas mais jovens, na faixa dos trinta anos. Apenas ela tinha mais de 50 anos (52) e persistia ainda firme.
Dizia sentir dificuldades com as novas ferramentas tecnológicas, estando sempre a necessitar da ajuda aos colegas de trabalho que “fugiam dela para não ter que lhe ensinar nada”. Não têm paciência, ela contava.
Chegou a um ponto que eles passaram a evitá-la, não cumprimentá-la e tampouco olhar para ela. Tornou-se invisível, me disse.
Sentia-se desestimulada, cansada e excluída desse novo contexto. Uma incompetente, inútil e passou a ter pequenas crises de ansiedade pela manhã até chegar ao trabalho.
Descoberta infeliz
Ainda assim permaneceu alguns meses nesse ambiente nada amistoso, até que ouviu uma conversa entre os colegas mais novos em que a chamavam de “vovó” (esse o apelido que ganhara) e que ela deveria ficar em casa tricotando e cuidando dos netos. Netos que nem tinha, pois, seus filhos ainda eram adolescentes.
Depois disso ela se demitiu, mas ficou vários meses com o sentimento de insuficiência e fracasso.
Tais ocorrências não são incomuns. Em meados do 2023 noticiou-se que algumas jovens biomédicas, universitárias da cidade de Bauru, São Paulo, falaram de uma colega de turma de que com 40 anos ela deveria já estar aposentada!
Será?
Quando dava aulas na universidade cheguei a ter uma aluna de oitenta anos que estava no quinto e último ano de direito e que veio a se formar. Há limite de idade para estudar ou para trabalhar? É verdade que em alguns trabalhos uma pessoa idosa não terá boa produtividade ou terá restrições para desempenhá-los, mas ainda restam muitos outros nos quais o idoso poderá se sair muito bem.
Poderíamos citar nomes de várias pessoas idosas que ainda estão na ativa, produzindo, trabalhando. Vejam a Fernanda Montenegro, que tem 94 anos e é maravilhosa em todo personagem que interpreta. E esse é apenas um nome entre tantos aqui mesmo no Brasil.
Temos que pensar nos idosos, como eles são vistos e como eles serão aproveitados.
Equipes com diversidade etária
A expectativa é a de que o número de pessoas com mais de 65 anos de idade chegue a 58,2 milhões em 2060, o equivalente a 25,5% da população no país, dados que não podemos ignorar.
Por isso algumas empresas já estão se movimentando para contratar pessoas idosas, não apenas pensando em seus clientes na faixa etária dos 50/60 anos, mas também porque estudos demonstram que unir os mais experientes com os mais jovens dá um bom resultado. As empresas apresentam um ganho com equipes com diversidade etária.
Os idosos agregam conhecimento, experiência. Muitos querem continuar trabalhando, permanecerem ativos, mas num modelo diferente, adequado à nova etapa de suas vidas. O que ocorre muitas vezes é que os idosos se sentem forçados a deixarem seus cargos, seus trabalhos que não têm adaptação adequada para possibilitar suas permanências. São como que “despejados” de seus empregos.
Com isto perdemos todos, a empresa que o deixou ir, pois com ele se vão as experiências e talvez parte de sua própria história; os demais colegas de trabalho que deixam de aprender com eles e os idosos por não vivenciarem o novo e se tornarem improdutivos prematuramente, inclusive com grande impacto social e previdenciário.
Sentir pertencentes
O trabalho é tão importante em nossas vidas, pois nele passamos boa parte dela, e nos imbricamos tanto nele que nos definimos a partir do nosso trabalho. Dizemos sou advogada, engenheira, professora, médica.
Todos temos que nos sentir pertencentes, incluídos de forma saudável nas equipes e nos grupos de trabalho, o que não é diferente para os idosos. O “velho” é tido como descartável, inútil, coisa que não serve mais. No rebote disso vem a invisibilidade, o preconceito.
É preciso mudarmos essa mentalidade, pensarmos em modelos diferentes para inclusão e manutenção de nossos idosos, não só prestigiando-os e incentivando-os a ficarem na ativa como estabelecendo programas para a preparação saudável de suas aposentadorias.
A sabedoria da maturidade
Agora, só para atualizar, aquela estudante de biomedicina de Bauru, com 45 anos, que segundo algumas colegas não deveria estar na universidade, ganhou uma bolsa de estudos para formação na Inglaterra. Que bom que não se deixou abater pelo preconceito sofrido.
Enfim, é triste pensarmos que enquanto no passado, não tão distante, os mais velhos eram valorizados, respeitados, lhe eram cedidas cadeiras e lugares independentemente da placa de preferencial, parece que hoje o básico tem que ser reivindicado, exigido.
Lembrando ARIANO SUASSUNA, escritor, romancista e pessoa muito bem-humorada que faleceu já idoso, com 87 anos, ainda ativo, conta-se que evitavam falar duas palavras na sua presença: velho e velhice. Ele dizia que tinha orgulho de ser velho mas de não gostar do termo terceira idade, até porque as fases não são três, mas cinco: infância, adolescência, juventude, maturidade e velhice. Se falam terceira idade nos comparam às frutas que têm três condições: verde, madura e podre. “Eu não aceito isso não”, dizia.