Ao longo de décadas, a maternidade vem sendo tratada de forma romantizada. Mesmo quando ocorre “tudo bem”, sem intercorrências, apenas de forma diferente da idealizada, já temos uma ruptura e a mulher precisa regular e lidar com uma série de questões hormonais e emocionais que impactam sua saúde mental. Por vezes, sua rede de apoio e momento de vida podem necessitar de um cuidado especializado nessa fase.

Façamos um exercício agora: imagina quando o real vem marcado pela prematuridade ou por um problema de saúde do bebê? Como dito, em qualquer situação de nascimento a mulher já precisa lidar com o luto do bebê / maternidade ideal x real. E quando o real que se impõe é muito diferente, mas muito diferente mesmo, do imaginário?

Abalo psicológico

A internação de um bebê recém-nascido rompe de forma importante com o imaginário. Tira esse bebê do ventre / colo de sua mãe e o coloca em um ambiente hostil, com múltiplos estímulos, como barulho, luz, intervenções invasivas, etc.

Esse nascimento “diferente” pode atuar como estressor ao bebê e para a mãe, marcando o início da internação entre ambos como um momento de dificuldade e resultando em pouco contato físico e visual.

Ver o bebê conectado a fios, equipamentos e quase sempre dormindo, com pouca interação, tende a produzir na mãe sentimentos diversos, como culpa, medo, frustração, incertezas, insegurança.

Nesse sentido, a internação do recém-nascido em UTI culmina em sentimentos negativos, alterando a saúde emocional materna, o que reforça a importância de avaliar a presença de sintomas de ansiedade, depressão e estresse.

Base em pesquisas

Pesquisas mostram que quando essas manifestações emocionais não são cuidadas, podem se tornar crônicas e afetar o estabelecimento de um vínculo seguro entre mãe e bebê, podendo comprometer o desenvolvimento psíquico, cognitivo e social da criança.

O atendimento psicológico é fundamental para que essas mulheres falem sobre esses sentimentos que geram sofrimento.

Por meio do atendimento psicológico, auxiliamos essas mães a construir novos significados ao momento vivenciado, levando sempre em consideração a subjetividade existente em cada relação.

Falar sobre os sentimentos negativos e angustiantes é a possibilidade de nomear a experiência, dando voz, ou contorno, a algo antes inimaginável.

As intervenções realizadas, nesse momento peculiar, têm como foco estabelecer um sentimento de segurança, confiança, com propósito de otimizar o autocuidado e o apoio social.

Vínculo mãe e bebê

Dessa forma, busca-se resgatar a potência materna e fortalecer o vínculo mãe x bebê.

A equipe multiprofissional tem papel importante nesse percurso. Quando o cuidado humanizado caminha lado a lado com o cuidado tecnicista, observamos que é um cuidado integral, de acolhimento, centrado na família.

E MAIS…

A importância do apoio emocional e psicológico

Ações e atitudes simples podem servir como recursos para diminuir impactos negativos vivenciados, bem como auxiliar na reorganização das mães. Por exemplo:

•    Equipe multiprofissional se apresentar e orientar os pais, antes mesmo da primeira visita, descrevendo a rotina do setor (UTI Neonatal), mostrando os equipamentos;

•    A inclusão da mãe nos cuidados;

•    Participação das mães nas visitas multidisciplinares, onde são realizadas discussões sobre o quadro clínico do bebê através da percepção materna;

•    Promoção de informações sobre a convivência com o bebê;

•    Incentivo à amamentação;

•    Contato pele a pele (canguru);

•    Estimular visita de irmão;

•    Proporcionar visita de avós;

•    Liberar visita religiosa, batismos, etc.