Como prevenir o suicídio pela busca de sentido de vida
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio no mundo, sendo o número alarmante de 800 mil pessoas por ano que morrem por suicídio.
Como resposta ao sofrimento inevitável presente na tríade trágica é possível, através dos valores atitudinais, conferir um sentido à vida, pois ela sempre poderá oferecer possibilidades de sentido, qualquer que seja a situação em que nos encontremos.
Pela capacidade humana de transformar criativamente, os aspectos negativos da vida em algo construtivo, o que Frankl chama de otimismo trágico (2019), é possível vivenciar valores e encontrar sentidos de vida na transformação da tragédia em conquista ou desafio. Dessa forma, se transforma o sofrimento numa realização humana. Extrai-se da culpa a oportunidade de mudar a si mesmo. Faz-se da transitoriedade da vida – apreendida com a morte – um incentivo para realizar ações e escolhas responsáveis.
Superar a culpa
Somos, então, responsáveis sempre, quer seja por reparar nossos erros e superar nossa culpa, quer seja por nos conscientizarmos das possibilidades transitórias de nossas escolhas. Ao dizer que estamos em trânsito, prevemos as oportunidades como únicas e irrepetíveis, o que pode nos trazer o senso de unicidade e de responsabilidade diante das nossas escolhas. Assim, podemos (e devemos!) aproveitar as oportunidades para nos transformar e repensar nossas ações futuras. A liberdade de vontade torna possível tomarmos atitudes perante quaisquer circunstâncias da vida e nos permitirá escolher conscientemente as respostas frente ao sofrimento e aos desafios impostos pela vida.
Por meio do auto distanciamento, ou seja, da nossa capacidade de nos distanciarmos de nós mesmos para experimentarmos novos lugares e escolhas, é possível enfrentar as adversidades, mesmo em situações de sofrimento avassalador causado pelo vazio existencial expresso nas tentativas de suicídio.
Estatísticas entre mulheres
Destaca-se que dados de diversos países apontam que a maioria de quem tenta suicídio são mulheres jovens, com idades inferiores a 30 anos, inclusive em fase de gestação.
Entretanto, apesar de dados apontarem números de suicídios em mulheres, mães de bebês ou ainda grávidas, essa fase também se traduz a uma expressão do amor por alguém, como no caso de uma mãe pelo filho, que se pode exercitar o auto distanciamento e a autotranscendência. Para a mãe, o amor pelo filho pode ser uma âncora que aporta a algo para além dela mesma, dos seus pensamentos suicidas. Isso pode despertar a possibilidades de se encontrar um sentido de vida na medida em que a mãe experiencia o sentido do amor pelo filho e o vivência, por meio dos valores existenciais, com os quais ela encontra seu sentido no mundo. Dados apontam que todo esse processo indica a prevenção ao suicídio.
Valores existenciais e autotranscedência
Com o fortalecimento do auto distanciamento, da autotranscendência, das vivências dos valores existenciais e da busca por sentidos de vida pelo exercício da vontade de sentido e da liberdade e responsabilidade pelas escolhas existenciais pode-se encontrar outras resoluções aos conflitos desesperadores. Primordialmente pela busca pelo sentido da vida através dos valores existenciais e pela autotranscedência pode-se combater o vazio existencial que acomete grande parte da população, levando inúmeras pessoas a buscar pelo suicídio como ato de viver e não de morrer!
Referências:
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Ana Cristina Barros da Cunha e Beatriz Miyata Teixeira
Ana Cristina Barros da Cunha é psicóloga (UFRJ) e professora do Departamento de Psicologia Clínica e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (Instituto de Psicologia da UFRJ). Possui pós-doutorado (University of Miami, USA). Coordena, na Maternidade Escola da UFRJ, o Laboratório de Estudos, Pesquisa e Intervenção em Desenvolvimento e Saúde (LEPIDS: http://www.lepids.org; Instagram:@lepids.ufrj), onde conduz pesquisas sobre a Clínica Perinatal e supervisiona estagiários e residentes em Saúde Perinatal e Psicologia Hospitalar. Atua com práticas clínicas baseadas na Logoterapia e Análise Existencial de Viktor E Frankl voltadas para promoção de saúde mental, além de pesquisas sobre a Primeiríssima Infância baseadas em abordagens sistêmicas. Criou a Clínica Dos Sentidos, núcleo de práticas clínicas e estudos sobre os fenômenos humanos sob enfoque logoterápico. Trabalha com Psicologia Clínica e do Desenvolvimento, Saúde Materno-infantil e Atenção Psicossocial, com interesse na promoção da saúde mental e de valores existenciais e sentidos de vida de populações vulneráveis. Contato: clinicadossentidos@gmail.com /// e /// Beatriz Miyata Teixeira é graduanda em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atuou em extensão universitária no Programa de Orientação em Saúde Sexual e Reprodutiva - Papo Cabeça, com diferentes públicos, desde gestantes na Maternidade Escola da UFRJ até meninas em situação de vulnerabilidade em Unidades de Reinserção Social (abrigos) da cidade do Rio de Janeiro. Atualmente atende como estagiária no Projeto Sentidos de Vida: Clínica individual em Logoterapia e Análise Existencial (LAE), realizando atendimentos psicoterapêuticos na clínica escola DPA-UFRJ. Adota os princípios da Logoterapia e Análise Existencial na prática clínica.
O Setembro Amarelo, campanha de conscientização sobre o suicídio, desempenha um papel crucial na promoção da saúde mental e na prevenção do suicídio. Este artigo explora a psicofisiologia do suicídio e examina a eficácia das iniciativas do Setembro Amarelo na redução dos índices de suicídio.
A falta de sentido na vida é responsável pelas altas taxas de suicídio nos países desenvolvidos, como o Japão. Para muitos, encontrar uma direção equivale a realizar feitos grandiosos, é quase como escalar o Monte Everest. Mas pequenas atitudes, como ajudar o próximo, geram uma imensa sensação de bem-estar.
O evento é gratuito e conta com psicólogas e terapeutas ocupacionais para falar sobre o Setembro Amarelo e os impactos da Covid-19 no futuro da Psicologia.
No contexto da pandemia, o home-office escancarou a sobrecarga de trabalho e as múltiplas funções de mulheres que passaram a conciliar, quase 24 horas, carreira, maternidade e gestão da casa.