Por que algumas pessoas vivem um amor de uma noite e outros escolhem companheiros para vida toda? A explicação da Psicologia Evolucionista é que homens e mulheres adotam diferentes comportamentos em relação às estratégias de reprodução, que podem ser de curto e longo prazo.

Um estudo realizado pelo biólogo Felipe Nalon Castro e pela psicóloga evolucionista Fívia de Araújo Lopes, ambos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, investigou como homens e mulheres selecionam seus parceiros.

Segundo os cientistas, as mulheres valorizam parceiros capazes de investir recursos na prole, portanto, um relacionamento de longo prazo é mais vantajoso. Já para o homem, a questão mais importante é ter certeza que os filhos nos quais está investindo são seus. Caso não sejam, os relacionamentos de curto prazo seriam mais convenientes devido às chances de fertilizar um maior número de parceiras.

No entanto, nem sempre homens preferem estratégias de curto prazo, nem mulheres optam pelo longo prazo, observam os pesquisadores Steven W. Gangestad, da University of New Mexico, e Jeffry A. Simpson, da University of Minnesota, nos Estados Unidos. A dupla de cientistas defende o modelo que foca na existência de várias estratégias sexuais. Os autores afirmam que a seleção natural teria gerado um conjunto flexível de estratégias reprodutivas.

Bons genes

Eles ainda sugerem que essas táticas acontecem em função da busca por bons genes e na busca de um bom parceiro e provedor de recursos. Um determinado ambiente de criação reflete em estilos de apego que influenciam essa estratégia.

O psicólogo de personalidade David P. Schmitt, da Universidade Bradley, nos Estados Unidos, pesquisou, em 56 nações, de acordo com os níveis de estresse e escassez de recursos. Esses aspectos influenciariam o estilo de apego. Os resultados mostraram que em culturas com menores índices de desenvolvimento, as pessoas tendem a desenvolver estilo chamado de apego rejeitador. Mas o que isso quer dizer? Isso significa que nas culturas com elevada taxa de mortalidade e altos índices de estresse, tanto homens quanto mulheres adotariam estratégias reprodutivas de curto prazo.

Vários cientistas realizaram pesquisas para compreender as preferências românticas. A pesquisa realizada pela equipe de Lopes observou que os homens se autoavaliam como mais bem-humorados do que as mulheres. 

Mercado romântico

A estratégia masculina tem objetivo de melhorar seu valor de “mercado romântico”, uma vez que o humor é valorizado nos parceiros devido à intensa vida social, conforme mostraram os pesquisadores Eric Bressler, da Westfield State University, nos Estados Unidos, e Sigal Balshine, da McMaster University, no Canadá, em estudo publicado na revista “Evolution and Human Behavior”.

Além disso, os resultados do estudo de Lopes mostram que as pessoas envolvidas em relacionamentos românticos descreveram seus parceiros como fisicamente mais atraentes do que elas. “Esta observação corresponde a uma das preferências masculinas mais descritas na literatura, nomeadamente a maior importância atribuída à atratividade física feminina”, explica Lopes.

Segundo ela, os homens procuram parceiras que não ameacem sua posição ou status social e, como se pode ver, a avaliação do bom humor e da ambição está de acordo com essa tese.

Inteligência sinceridade

A pesquisa ainda demonstrou que os homens estabelecem vínculos independentemente de uma parceira atraente ser inteligente e sincera. Mas isso só durará se eles tiverem níveis semelhantes desses traços. Isso pode explicar, em parte, a dissolução do relacionamento por homens em relacionamentos mais longos. Como a fertilidade feminina diminui com a idade, outros traços ganham importância e a relação é reavaliada.

Um resultado interessante foi que os homens descreveram suas parceiras (antigas ou atuais) como menos saudáveis ​​do que eles. “Acreditamos que, como a saúde é difícil de medir e seu conceito pode ser muito amplo, ela foi interpretada pelos homens como resistência física ou vigor”, diz Lopes. Homens mais saudáveis ​​podem, portanto, ter maiores chances de conseguir recursos. Outra possibilidade é que eles podem simplesmente ver suas parceiras como mais frágeis, permitindo-lhes desempenhar o papel de protetores. 

“A perspectiva sociocultural também prevê que as mulheres enfatizariam a importância dos recursos potenciais dos parceiros, que lhes permitem o acesso a status, poder e recursos econômicos. Nossa interpretação é que ao invés de satisfazer suas preferências, as mulheres estão focadas em manter o relacionamento, enfatizando as semelhanças refletidas no investimento do parceiro e em um relacionamento duradouro”, afirma Lopes.

Parceiros disponíveis

No entanto, o relacionamento considerado ideal para ambos os sexos pode não se concretizar devido à falta de parceiros disponíveis, incapacidade de encontrar um parceiro desejado ou simplesmente uma questão de selecionar os pares a partir de requisitos mínimos em vez de buscar o parceiro considerado mais adequado.

Considerando que, na autopercepção, as características mais valorizadas são aquelas mais buscadas em um parceiro romântico, tanto homens quanto mulheres tendem a dar mais importância a tais características quando realizam sua própria autopercepção, segundo Peter M. Buston, da Boston University, e Stephen T. Emlen, da Cornell University, nos Estados Unidos, no artigo publicado na PNAS.

Embora as mulheres não deem o mesmo grau de importância à atratividade física na escolha do parceiro como os homens, elas não ignoram essas características totalmente, segundo artigo publicado na “Evolutionary Psychology”, escrito por Christopher Bale, da University of Huddersfield, e John Archer, da University of Central Lancashire, no Reino Unido.

Amabilidade

Características como amabilidade podem ser indicativas do potencial de uma pessoa para mobilidade social (uma vez que a maioria das pessoas sociáveis ​​tem uma melhor chance de aumentar seu status social), podendo indicar maior probabilidade de formar um relacionamento de boa qualidade.

O pesquisador Richard A. Lippa, da California State University, nos Estados Unidos, sugere que em uma sociedade em que as mulheres contribuem para a renda familiar, os homens tendem a valorizar mais a inteligência de uma parceira, justificando a tese de que essa característica está ligada à autoestima feminina. Quando as próprias mulheres têm recursos suficientes para cuidar de seus filhos, suas preferências por atratividade física aumentam. 

Recentemente, estudos relataram mudanças nas preferências femininas com o aumento do empoderamento feminino. O controle de recursos está associado a preferências por atratividade física e maior idade tolerada pelo parceiro. Por outro lado, o controle de recursos também resulta numa tolerância de parceiros mais jovens.

E MAIS…

Os transgêneros são muitas vezes esquecidos

 Alguns estudos com indivíduos heterossexuais e homossexuais consistentemente indicaram diferentes tendências no comportamento de reprodução.

No entanto, os transgêneros são muitas vezes esquecidos. Um estudo exploratório realizado pelos pesquisadores Rodrigo de Menezes, Lopes e Castro comparou níveis de sociossexualidade e autoestima entre indivíduos transgêneros e não transgêneros (cisgêneros).

O objetivo era verificar se o genótipo sexual ou a autopercepção de gênero tiveram mais influência sobre as variáveis ​​examinadas em transgêneros. “Os resultados sugerem que a sociossexualidade dos transgêneros é amplamente influenciada por seu genótipo sexual, apesar de sua autopercepção de gênero incongruente, e que as relações entre comportamento, atitude e o desejo sociossexual são diferentes daqueles observados em cisgêneros”, dizem os autores.