O diagnóstico em saúde mental é o instrumento que irá direcionar e orientar o profissional quanto ao melhor tratamento, acolhimento e cuidado com o paciente em sofrimento. Para que ele seja preciso, é necessário mais que conhecimento teórico e experiência.

Nesta entrevista, a psicóloga Laysa Cristina da Silva de Jesus aprofunda o assunto e destaca a importância da escuta e do tempo no processo de identificação da doença.

Laysa tem 23 anos de experiência na área clínica e hospitalar, lidando com pacientes em sofrimento decorrente de diversos tipos de transtornos psiquiátricos, incluindo dependência química. Possui especialização em psicologia hospitalar pela Universidade Veiga de Almeida (UVA) e cursos de terapia de família psicanalítica no Hospital Universitário Pedro Ernesto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (HUPE/UERJ). Trabalhou na Casa de Saúde Saint Roman (saúde mental), nas áreas de internação, hospital-dia e ambulatório. Atualmente faz atendimento clínico on-line e presencial no Largo do Machado, Rio de Janeiro.

O que é o diagnóstico em saúde mental e qual sua importância para o tratamento?

Diagnóstico é a identificação da doença que compreende o conjunto de sinais e sintomas que o sujeito apresenta. É o instrumento que irá direcionar e orientar o profissional de saúde quanto ao melhor tratamento, acolhimento e cuidado com o paciente em sofrimento.

Quem são os profissionais de saúde aptos a fazerem o diagnóstico em saúde mental?

Psiquiatras e psicólogos estão aptos a fazerem um diagnóstico preciso em saúde mental.

Quais os aspectos que precisam ser considerados para o diagnóstico adequado?

Para fazer um bom diagnóstico, precisa-se de conhecimento teórico, experiência, mas, principalmente, precisamos dedicar longo tempo a ouvir o que o paciente está dizendo, colher dados sobre sua rotina, sua história de vida, pois não podemos esquecer nunca que o sujeito é único. Só ele sabe como vivenciou sua história. Por mais que saibamos que várias pessoas passaram por uma situação parecida, como a separação dos pais, por exemplo, cada um vai experimentar isso de uma forma diferente. Não se pode minimizar, nem generalizar. Por esse motivo, a escuta no processo diagnóstico é fundamental. Outro ponto importante é que não dá para fechar um diagnóstico com um ou dois atendimentos. Nesse período, o que podemos ter é uma hipótese diagnóstica que, como o passar do tempo, irá ou não se confirmar.

Quais as possíveis consequências de um diagnóstico inadequado?

Um diagnóstico feito de forma precoce, apressada, serve apenas para aplacar a angústia tanto do paciente quanto do profissional para dizer algo e geralmente isso não traz benefícios, pois, se estiver errado, quebra a confiança, item tão importante para que o processo dê bons resultados.

De que forma o diagnóstico em saúde mental pode ser prejudicial se ficar “colado” à identidade do sujeito?

Quando o sujeito recebe diagnóstico de algum tipo de transtorno mental e não busca terapia, corre o risco de que todas as suas atitudes pregressas e atuais sejam colocadas como “culpa” dessa enfermidade, o que nem sempre corrobora com a realidade, pois, como disse anteriormente, cada sujeito tem a sua história, suas vivências e um jeito próprio de responder às frustrações e os revezes da vida. Quando o diagnóstico fica “colado” à identidade do sujeito, ele acaba se acomodando a isso, uma vez que geralmente nos acostumamos com situações que já são nossas conhecidas, sejam elas boas ou ruins, mesmo que nos façam sofrer, e o diagnóstico acaba tornando-se um aval para tais comportamentos. Com isso, perde-se uma oportunidade enriquecedora de rever o próprio comportamento, bem como a forma de enxergar a vida.

Quais os diagnósticos mais difíceis de serem feitos e por quê?

Em saúde mental, um mesmo sintoma pode fazer parte da descrição de vários transtornos, portanto os diagnósticos geralmente não são fáceis de serem feitos. Por exemplo, uma depressão, bem como um surto psicótico podem ser sintomas do transtorno afetivo bipolar. Transtornos de personalidade, como o borderline, tão falados ultimamente, também são difíceis; bem como as comorbidades, ou seja, a junção de dois transtornos, tal como acontece muitas vezes com quem traz a dependência química como um diagnóstico.