A multinacional do ramo de telecomunicações Atento levantou esse assunto. Com sede localizada na cidade de Madri, na Espanha, a companhia possui uma frente de forte atuação estratégica em terras brasileiras, demandando talentos que tenham sintonia com a sua política de inclusão. Hoje em dia, dos seus 81 mil empregados nacionalmente, 1.3 mil são indivíduos transgêneros.

E o que dizer da Natura? Seguindo o mesmo elã da companhia que possui um charmoso “A” como logotipo comunicacional, a organização líder em vendas no segmento de higiene e beleza no país investe há 15 anos em políticas voltadas à população LGBTQIAPN+, garantindo, a título de exemplificação, a adoção do nome social e licenças parentais para casais de mesmo sexo.

Outra que também decidiu acreditar na foto foi a Ford, segunda maior fabricante de automóveis dos Estados Unidos, com venda de 4.2 milhões de veículos só em 2022. Atualmente, a empresa criou um comitê formado por 100 pessoas provenientes das mais diversas localidades ao redor do mundo. Conhecido como Globe, sua missão é combater a discriminação contra as diferenças.

Estas iniciativas são suficientes?

Mas será que estas iniciativas são suficientes o bastante para impedir o avanço da homofobia no ambiente corporativo? É evidente que não e os números falam por si só. Enquanto a Atento, a Natura e a Ford lutam por um local de trabalho em igualdade de condições, independente desta ou daquela orientação sexual, um estudo recente deixou muita gente passada por aqui.

E por que será? De acordo com a pesquisa, 20 mil profissionais foram entrevistados em caráter de profundidade, tendo as suas dores trabalhistas trazidas à tona em formato de dados nada apreciáveis: quando os funcionários diziam-se heterossexuais, 18% alegaram ter sofrido assédio onde exercem seu ofício. Já quando se diziam homossexuais, o indicador passava para 65%.

Aceitação das diferenças

Sendo assim, caso você sinta atração pelo mesmo sexo (G ou L), goste de se envolver com ambos os sexos (B), tenha nascido em um corpo diferente do seu gênero (T), apenas se entenda como diferente (Q), não se encaixe em nenhum gênero biológico (I), não sinta atração sexual (A) ou goste de tudo um pouco (P), terá 3 vezes mais chance de ser agredido enquanto ganha a vida.

Para a psicologia profunda, ciência babadeira criada pelo médico Sigmund Freud e que estuda os fenômenos ocultos da mente humana, à medida que o conhecimento e a aceitação sobre as diferentes formas de sexualidade avança e ganha espaço nas mais variadas sociedades, é natural que também exista uma resposta que emana dos conflitos inconscientes de cada indivíduo.

Deste modo, se antes o boy magia da firma tinha problemas com a sua homossexualidade não consciente (porque ele um dia também desejou ter o seu pai só para si), agora, quando a bonita recém-contratada pela área de recursos humanos passa na porta do seu departamento ou cruza o seu caminho no corredor, ele fica mais do que furioso, deixando explícita a sua insatisfação.

Desejo e culpa

Neste sentido, em sua mente, o funcionário colorido funciona como um espelho muito bem colocado pela psique para afastá-lo desta atração carregada de desejo e culpa. Afinal, o objeto que aparece na superfície refratária de areia derretida pode ser destruído com toda a força do seu bate-cabelo, livrando-o de ter que olhar diariamente para uma sexualidade tão proibida.

Achou a explicação difícil? Vamos lá. O ser humano, desde que se entende por gente, possui atração pelos seus genitores, independente do gênero. O prazer que um menino sente quando suga o seio de sua mãe não difere em nada do que a menina sente. Logo, pode-se dizer que, na tenra idade, a satisfação da mulher em relação à figura feminina é de caráter homossexual.

Bafón ainda mais forte

E no menino? Uma vez que o recém-nascido ainda não consegue diferenciar quem é quem, ele acredita que mamãe e papai são a mesma pessoa. Deste modo, quando ele está no colo quentinho da moça que anda de salto alto, ele fantasia que dentro dela está o moço que fala grosso e a sensação é tão gostosa que ele quer guardá-la toda para si.  

Todavia, à medida que a criança amadurece o seu aparelho psíquico, ela não só inicia o processo de diferenciação das coisas, mas também realiza uma escolha: “para quem eu quero direcionar as minhas necessidades sexuais?”. Destarte, “ele” renunciará ao pai para continuar a aspirar sua mãe, assim como “ela” renunciará à mãe para remanejar o seu desejo unicamente para o pai.

Aquele genitor que ficar de fora desta predileção psicológica por um ou por outro gênero, ainda será alvo de desejabilidade por parte do sujeito, só que de maneira inconsciente. É aqui que o homofóbico corporativo se encontra. Tendo escolhido se relacionar com o gênero oposto, ele naturalmente irá rejeitar e atacar o lado que ele não conhece e, consequentemente, não aceita.

Capacitação organizacional

Diante deste problema, o que fazer,? Primeiramente, investir em capacitação organizacional na área das ciências humanas é fundamental. Só assim os trabalhadores de uma firma terão o recurso intelectual necessário para conseguir processar com eficiência quais são os mecanismos mentais que estão em jogo na hora de se relacionar com as pessoas do ambiente de trabalho.

Ao mesmo tempo, oferecer na cesta de benefícios da companhia assistência à saúde mental também é bastante importante. Com ela, aquilo que o sujeito não dá conta de lidar no seu dia a dia em busca de aqué poderá ser trabalhado por um profissional adequado, abrindo espaço para que ele se aproprie das suas questões e consiga conviver com os “espelhos” de si mesmo.

E MAIS…

E por que não mudar a estratégia relacionada à contratação de pessoal?

Ao sair do discurso e vir para a prática, é possível definir um número ou um percentual de vagas reservadas aos fãs de Madonna, Lady Gaga e Britney Spears. Ao fazer uso da prática, a organização se compromete a aceitar uma nova forma de pensar, avançando um pouco mais no combate à homofobia.

Finalmente, para que uma empresa seja considerada referência em relação às iniciativas em prol da causa LGBTQIAPN+, é bom que ela entenda que o movimento não é uma moda passageira. Portanto, seja no telemarketing, seja nos produtos de beleza, seja nos automóveis, uma coisa é preciso ter sempre em mente: esta mal falada homossexualidade também faz parte da gente.