Todo mundo me acha bonita e inteligente, mas o fato é que eu não me vejo assim. Por mais que me arrume, sempre sinto que estou desleixada e, por mais que estude e vá bem no trabalho, sinto que estou sempre em estado de alerta, como se, a qualquer minuto as pessoas vão descobrir que sou uma farsa e que, na verdade, não sei nada. Mas estou exausta de ser assim. O que eu tenho?
O que você relata, basicamente, é que se vê diferente do que as pessoas te veem, não conseguindo reconhecer em si as qualidades que os outros apontam. Especialmente quando diz que teme que descubram que você é uma farsa, podemos pensar na chamada “síndrome do impostor” (ou pessimismo defensivo). Para quem sofre desta síndrome a sensação é a de que está enganando as pessoas; há o medo exagerado de se expor, de ser julgada e desmascarada; há excessiva exigência e crítica consigo mesma e, frequentemente, muita comparação com os outros, sentindo-se inferior, além de ter a necessidade de agradar sempre.
Existem situações internas e externas para o desencadeamento da síndrome. Internas seriam os registros infantis frente a pais muito exigentes, críticos ou rígidos, que causam na criança a percepção de que não é boa o suficiente, não é capaz. Por outro lado, também já me deparei com paciente que traz o relato de que seus pais, por conta da doença de um irmão que necessitava de mais atenção, “superestimavam” suas qualidades, dizendo sempre que ela não precisava de ajuda para as lições, para variadas tarefas, enfim, que ela dava conta sozinha. Isto causava nela o sentimento de menor valia, diante de várias vezes ter tido a necessidade de ajuda que não foi recebida, deixando-lhe a sensação de que não era tão inteligente ou boa como acreditavam seus pais e, assim, um dia eles e o mundo descobririam isso.
O Superego (a terceira instância psíquica que podemos chamar de juiz interno), faz registros dessa ordem, mas a boa notícia é que estes podem ser modificados.
Como situações externas gostaria de referir às exigências sempre maiores da sociedade moderna de sermos bonitos, inteligentes, preparados, com nível superior, doutorado, fluentes em mais de duas línguas etc. Isto faz com que fiquemos com a impressão de que nunca sabemos o suficiente.
Para superar isso, além de trabalhar a autoestima, com o reconhecimento de suas qualidades e seus sucessos, internalizando-os, ou seja, aceitando que os detém e que por isso é merecedora de um bom trabalho, por exemplo, é indispensável que se permita errar, já que isto é do ser humano, e com isso compreender que não sabemos tudo, mas, diferentemente, estamos sempre aprendendo, em construção, como uma colcha de retalhos, cujos pedacinhos vão sendo acrescidos pela mão da costureira.