Estudo projeta que Brasil pode ter 4 milhões de pessoas com Alzheimer em 2050. Esse número é quatro vezes maior do que o atual. Cálculo leva em conta pesquisa sobre perfil socioeconômico, comportamental e clínico dos pacientes.

Quatro milhões de brasileiros podem ter diagnóstico de doença de Alzheimer em 2050 caso medidas de prevenção não sejam adotadas. Essa é apenas uma das conclusões do primeiro estudo a analisar o perfil socioeconômico, comportamental e clínico de indivíduos com o quadro no Brasil (o Ministério da Saúde estima em 1,2 milhão atualmente).

Para chegarem a essa estimativa, os líderes do levantamento usaram dados da pesquisa domiciliar do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil) realizada em 2015 e 2016, com aplicação de questionário a 9.412 adultos a partir de 50 anos. Essas informações foram cruzadas com as projeções de aumento na expectativa de vida e, consequentemente, crescimento da população idosa no Brasil. 

Embora o número assuste, infelizmente não surpreende, isso por que a doença de Alzheimer, principal tipo de demência, tem como principal fator de risco o envelhecimento. 

Hoje, os dados mostram que a doença que afeta cerca de 100 mil novas pessoas todos os anos.

Fevereiro Roxo

No mês da campanha de conscientização “Fevereiro Roxo”, especialistas do CEJAM explicam o problema, suas formas de prevenção e como o ambiente profissional pode desencadeá-lo

A doença de Alzheimer é uma condição neurodegenerativa, caracterizada pela perda progressiva de neurônios em áreas associadas a funções cognitivas, tais como memórias de curta duração e linguagem. Hoje, é considerada uma das demências mais frequentes entre a população.

Normalmente, apresenta maior incidência após os 60 anos, embora seja possível manifestar-se em faixas etárias mais jovens. Idosos, a partir dessa idade, constituem o grupo mais suscetível, sendo observada uma prevalência maior em mulheres, com um risco estatístico aproximadamente duas vezes superior ao registrado em homens.

Segundo dados do Ministério da Saúde, no Brasil, aproximadamente 1,2 milhão de pessoas já convivem com alguma forma de demência, incluindo o Alzheimer, sendo esperado 100 mil novos casos por ano. Globalmente, esse número chega a atingir a marca de 50 milhões de pessoas.

“A sua origem é associada a diversos fatores de risco, configurando-a como uma doença multifatorial. Esses fatores incluem baixa escolaridade, perda auditiva, diabetes mellitus, hipertensão arterial, tabagismo, alcoolismo, cardiopatias, depressão, entre outros”, explica o Dr. Maurício Lobato, neurologista do AME Itu, gerenciado pelo CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.

De acordo com o médico, há ainda os casos genéticos, em que o Alzheimer pode ser desencadeado por mutações que aumentam o risco da doença, como é o caso de modificações no gene APOE4.

“Essas mutações estão associadas a um aumento significativo na probabilidade de desenvolver a condição, e, atualmente, ainda não existe terapia genética disponível para interferir nesse processo”, afirma.

Avaliação neurológica

De toda forma, independentemente dos fatores envolvidos para o seu aparecimento, é essencial permanecer atento aos primeiros sinais, que, mesmo sutis e comuns, podem indicar a presença da doença.

“Esquecimentos recorrentes para eventos recentes, períodos de desorientação, perda de linguagem, sintomas depressivos e alterações do sono são sinais precoces que requerem atenção, por mais que não pareçam”, enfatiza o especialista.

Em situações como essas, o médico recomenda, acima de tudo, a busca por orientações médicas, além de uma avaliação neurológica para confirmar o diagnóstico e iniciar estratégias clínicas que visem minimizar o risco de uma progressão acelerada do quadro clínico.

Alzheimer versus trabalho

Um outro espaço que pode impactar a condição é o ambiente profissional, onde a doença de Alzheimer e outras demências podem encontrar um terreno propício para se desenvolverem, caso o indivíduo já tenha predisposições genéticas ou outros fatores de risco. Isso porque o estresse crônico, a pressão constante no trabalho e a falta de suporte emocional podem desencadear e agravar os sintomas da doença.

Nesse contexto, Chris Hemsworth, 40, intérprete do famoso personagem da Marvel Thor é um exemplo. O ator descobriu, em novembro do ano passado, predisposição para a doença. Com isso, fez uma série de ajustes em sua rotina, incluindo a diminuição em sua jornada de trabalho, a fim de priorizar a saúde do seu cérebro.

“O ambiente de trabalho também pode influenciar no desenvolvimento de fatores de risco associados às demências. O Alzheimer, por exemplo, sendo uma patologia degenerativa, torna-se crucial evitar situações de estresse e sobrecarga física e mental, o que nem sempre é possível nesses espaços”, complementa o Dr. Gustavo Marcelo Vinent, médico e supervisor corporativo de Medicina Ocupacional do CEJAM.

Além dos lapsos de memória comuns em pessoas com o diagnóstico, problemas para completar tarefas que antes eram fáceis, dificuldades para a resolução de problemas, mudanças no humor ou personalidade e o afastamento de colegas e amigos podem indicar algo no mundo corporativo. Por isso, é importante estar atento.

“Observando esses sintomas, é importante que o profissional busque ajuda médica para entender como anda sua saúde. Com acompanhamento e tratamento precoces, incluindo medicamentos, terapia ocupacional e consultas preventivas, o quadro pode estacionar por tempo indeterminado”, ressalta.

O médico reforça que é totalmente possível ter uma vida normal com Alzheimer, tanto no mercado de trabalho como na vida pessoal, desde que se tenha cuidados e hábitos preventivos.

E MAIS…

Como evitar as demências?

Sem dúvida, manter a saúde do cérebro é essencial para garantir uma boa qualidade de vida ao longo dos anos. Embora o envelhecimento natural do corpo possa trazer consigo desafios, adotar um estilo de vida saudável desempenha um papel crucial na prevenção e na redução do risco de demências.

A prática regular de atividades físicas, melhoria da qualidade do sono e controle do peso, de dietas inflamatórias e de alimentos ultraprocessados são passos fundamentais nesse processo. Além disso, buscar aprendizado contínuo, por meio de novas experiências cognitivas e a preservação do bem-estar psíquico, podem ser formas adicionais de prevenir o aparecimento dessas condições ao longo da vida.