Dentre toda a população brasileira, pelo menos 6,1% sofre de depressão – percentual acima da média mundial, que é de 4,5%. Isso significa, em gráficos, que estamos chegando próximo a 12 milhões de brasileiros que sofrem com a doença, colocando o país no patamar mais elevado do ranking sul-americano no número de casos de depressão. Enquanto que, no restante do globo terrestre, houve uma diminuição (embora ainda assustadora) nos óbitos por suicídio nos últimos 5 anos, que representa aproximadamente 30%, o Brasil prossegue em sentido contrário desta redução, tendo registrado, entre 2008 e 2017, um aumento de 26,5% no número de suicídios cometidos por habitantes de 12 a 23 anos de idade.

Tratar a depressão como doença é um dos primeiros passos para se reverter este quadro, principalmente entre adolescentes.

Momento de incertezas

Ansiedade, mau humor, irritação com tudo o que os pais dizem. Esses são alguns dos distúrbios emocionais apresentados na adolescência. Você sabe por quê eles ocorrem? Pelo simples fato do não entendimento, por parte dos jovens, das mudanças que ocorrem nesta fase da vida. Quando somos crianças, as coisas parecem se resolver por si mesmas. Então, o futuro parece ser algo muito distante ainda. A adolescência marca a chegada desse futuro, mas ainda incerto. Mudam as exigências, os interesses e os pais, até então acolhedores na infância, não sabem como lidar com todas essas mudanças dos filhos. A sensação de incompreensão presente em casa passa a ser o primeiro conflito. 

A chegada das responsabilidades pode acabar gerando as alterações emocionais presentes na adolescência. Até então, tudo era resolvido pelos pais. Quando atingem a adolescência, a preocupação com os estudos, carreira e até mesmo as primeiras paixões e desilusões amorosas geram a sensação de desespero e os jovens acabam se sentindo perdidos. Tudo é envolto em incertezas. O adolescente se vê sozinho, o que o faz, muitas vezes, recorrer à internet em busca de respostas, ao invés de se abrir com os pais ou demais familiares próximos. 

Diante deste cenário, os especialistas alertam para os riscos desse jovem se tornar uma pessoa introspectiva demais, preferindo até o isolamento em seu quarto. Este comportamento pode desencadear uma depressão.

Em cada cinco adolescentes, três são depressivos. O distúrbio já é considerado, hoje, a terceira doença mais frequente no mundo e pode ocupar o primeiro ou segundo lugar na próxima década. Ela se alastra como uma virose e não escolhe classe social, etnia ou gênero sexual.  Simplesmente vem, chega e se instala. Também devemos reforçar sobre os quadros de ansiedade e os transtornos do pânico, alimentar (anorexia e bulimia) e obsessivo-compulsivo engrossarem a lista dos conflitos, que começam a aparecer na vida do adolescente a partir dos 12 anos.

O papel da família

O fato de não compartilharem o lado emocional com suas aflições, inquietações e demais sentimentos com os pais pode causar sérios danos na idade adulta, pois, se não resolvidos no momento correto, os conflitos não cessarão na transição para a vida adulta e atingirão estágios de traumas e complexos seríssimos que deverão ser tratados com a ajuda de um especialista em Saúde Mental. Por isso, é importante insistir na questão de que os pais precisam aprender uma nova forma de lidar com os filhos, porque eles também são passíveis de ficarem perdidos.

A inclusão numa família fornece um importante amparo ao jovem. Porém, o adolescente tende, justamente, a matar simbolicamente seus pais para que possa responder por si só a demanda que lhe é feita. Sendo assim, com o afastamento dos pais, a sensação de desamparo é intensificada.

É comum que, hoje, as famílias se sintam impotentes e acabem por se tornar mais impotentes diante da liberdade que a sociedade dá aos adolescentes, que naturalmente agem de acordo com esses parâmetros. Este fato leva o jovem a uma situação difícil, já que o momento da adolescência é, sobretudo, estar contra os pais e crer-se além dos pais.

Busca por tratamento

A procura por um profissional de Saúde Mental é a decisão mais indicada. Ele está apto a entender os comportamentos e pode ajudar toda a família a lidar com esse momento. A grande dúvida é saber se os sentimentos são normais ou desajustados e o profissional pode responder essa e outras questões. Como já foi dito anteriormente, a insatisfação e os conflitos dos jovens com vários aspectos da própria vida podem eclodir na vida adulta. Portanto, tratá-los o quanto antes é o melhor a se fazer. Neste momento, a família tem papel fundamental.

Diante de tudo, deduzimos que os conflitos e incômodos dos adolescentes são muito importantes para que eles possam conhecer o lado sombrio da vida. Não é uma tarefa fácil, mas depois da tempestade, ele vai aprender a valorizar algumas coisas. Quanto aos pais e familiares, esses devem prestar mais atenção para agirem da forma correta nesta fase conflituosa. Os pais devem orientar, principalmente nas questões sobre sexualidade. Quando começam a aprender a lidar com tudo isso, os filhos se encontrarão mais preparados e o trajeto por essa fase se tornará muito mais tranquilo para todos.

E MAIS…

Depressão e suicídio na adolescência

A adolescência é uma fase de descobertas, mas alguns comportamentos tidos como “da idade” merecem atenção. Fatores como o consumo de álcool e outras drogas entre os jovens, bem como o bullying e a presença de transtornos psiquiátricos não diagnosticados adequadamente podem gerar o surgimento de uma depressão nos jovens e levar ao suicídio.

O ato suicida é um fenômeno complexo, que dificilmente é causado por um só fator, mas a estimativa é que 90% dos casos sejam ligados à um transtorno mental, sendo 80% associados diretamente a cinco diagnósticos: Depressão, Transtorno Bipolar, Dependência Química, Esquizofrenia e Transtornos de Personalidade. Isso acontece porque, quando o transtorno mental não é tratado adequadamente, ele pode provocar um sofrimento profundo e sentimentos de desesperança.

Quando alguns sinais da doença são detectados, é necessário buscar o tratamento adequado, geralmente, feito com medicamentos.