Na paralisia do sono, o sujeito vê imagens do sonho confundindo-se com as do mundo real. As “experiências incomuns” envolvem sensação de estar flutuando e experiências fora do corpo, nas quais indivíduos veem o próprio corpo de uma perspectiva externa, e têm a impressão de ter deixado seu corpo físico.
Quando sonhamos, não sabemos que estamos, realmente, a sonhar. Durante a paralisia do sono, no entanto, os sujeitos sabem que estavam dormindo, mas acordaram. Além disso, a experiência é geralmente mais impactante do que em um sonho normal. Podem ocorrer, por exemplo, sensações de pressão no tórax ou de paralisia do corpo.
Alterações nos sinais vitais
Em artigo publicado na revista “The Lancet”, M. Dahlitz, da Kings College, e J. D. Parkes, da Denmark Hill, em Londres, no Reino Unido, levantam a hipótese de que a paralisia corporal durante esse distúrbio do sono se deve à falta de sincronia entre as mudanças na atividade cerebral e atonia muscular (falta de força muscular).
Durante a paralisia do sono, o cérebro volta a um padrão de atividade semelhante a quando os indivíduos estão acordados, mas seus músculos permanecem na atonia típica do sono REM (do inglês: Rapid Eye Movement: Movimento Rápido dos Olhos), que é a fase do sono que se caracteriza por movimentos oculares rápidos, sonhos vívidos e movimentos musculares involuntários. Com ele, há alterações nos sinais vitais como pressão arterial, freqüência respiratória e frequência cardíaca. Exceto para órgãos vitais, o corpo como um todo fica paralisado durante essa fase. Por isso, as pessoas se sentem como se elas tivessem despertado, mas são incapazes de se mover.
A diminuição do tônus muscular durante o sono ocorre através da ação de um sistema inibitório de núcleos específicos do tronco cerebral para a coluna anterior da coluna vertebral e, em seguida, para os músculos.
Os principais neurotransmissores associados a essa rede são GABA e glicina, que são moléculas produzidas e liberadas por neurônios que possuem a característica de serem inibitórios, porque controlam a excitabilidade do sistema nervoso. A sua ação impede que os animais desempenhem na vida real os movimentos imaginários que eles fazem quando sonham, que os tornaria extremamente vulneráveis à predação.
A descoberta
O resultado do estudo partiu do pesquisador Michel Jouvet, em 1979. Ele observou que animais com danos em núcleos específicos do tronco cerebral exibiram comportamento típico, como correr, limpar-se e mastigar durante o sono REM, uma vez que não possuíam mais o sistema inibitório.
“Quando os sistemas neurais responsáveis pela atonia postural durante o sono são destruídos, os gatos adormecidos exibem periodicamente uma atividade motora estereotipada, revelando um rico repertório de ‘comportamento onírico’ não direcionado a objetivos”, escreveu o cientista à “Trends in Neuroscience”.
Lenda brasileira da Pisadeira
O psicólogo José Felipe Rodriguez de Sá conta que os esquimós canadenses atribuem as sensações incomuns a feitiços de xamãs, que dificultam a capacidade de se mover e provocam alucinações. Na cultura japonesa, por exemplo, a paralisia do sono se deve a um espírito vingativo que sufoca seus inimigos durante o sono.
O psicólogo observa que uma manifestação mais moderna da paralisia do sono é o relato de abduções alienígenas, experimentada como incapacidade de se mover durante o despertar associada a alucinações visuais de alienígenas. Em seu estudo, Sá interpreta a paralisia do sono a partir da lenda brasileira da Pisadeira, que é descrita como uma velha com unhas compridas que anda sobre telhados à noite e pisa no peito de quem dorme de estômago cheio com a barriga para cima.
Sá lembra que até recentemente a paralisia do sono era subdiagnosticada como sintoma de narcolepsia, que é um transtorno caracterizado por problemas na regulação do sono, incluindo ataques de sono involuntários associados à cataplexia (perda repentina de tônus muscular), que geralmente segue uma forte explosão de emoção. “Embora possa estar associada à narcolepsia, a paralisia do sono pode ocorrer separadamente”, diz.
Classificação Internacional de Distúrbios do Sono
O termo “paralisia do sono” foi cunhado pelo neurologista britânico Samuel Alexander Kinner Wilson, na primeira metade do século 20, ao estudar distúrbios do sono, como a narcolepsia.
Segundo a Classificação Internacional de Distúrbios do Sono, a experiência é considerada uma doença quando recorrente e perturbadora, sendo classificada como parassonia e caracterizada por “comportamento ou eventos fisiológicos anormais que ocorrem durante a transição entre o sono e a vigília”.