Cada vez mais, o tema educação emocional desperta interesse tanto nas famílias como nas escolas. Segundo a professora de educação infantil Sheyla Baum, a chave para educar crianças emocionalmente inteligentes é proporcionar harmonia entre pensamento, emoção e ação. “Quando as crianças entendem como se sentem, podendo nomear seus sentimentos, estão mais bem preparadas para identificar sentimentos similares em outras pessoas. É com esse equilíbrio que irão estabelecer ações para construírem relações positivas com o entorno”, afirma.
Nesta entrevista, o assunto é aprofundado por Sheyla, que também é psicopedagoga, especialista em neuroaprendizagem, psicomotricidade e cognição e possui estudos em neurociência translacional. Também atua como palestrante e escritora. Entre as obras de sua autoria, está o recém-lançado ‘Livro da vida: pensar, sentir e se emocionar’, publicado pela Wak Editora.
O que é inteligência emocional e qual sua importância?
Inteligência emocional é a capacidade de reconhecer, aceitar e canalizar nossas emoções de forma a direcionar nossos comportamentos para os objetivos que desejamos, alcançá-los e compartilhá-los com o nosso grupo de convivência. Os quatro pilares da inteligência emocional são reconhecer nossas emoções, sermos capazes de regulá-las para nós mesmos, termos empatia e habilidade para estabelecer e manter relacionamentos saudáveis na convivência em grupo. A importância da inteligência emocional é contribuir para que as pessoas se tornem mais sensíveis e responsáveis com a transformação de si e do mundo. É a inteligência emocional que vai nos ajudar a criar um novo paradigma para a educação. A inteligência emocional se coloca em prática através de competências e habilidades socioemocionais.
Qual a importância do incentivo ao desenvolvimento da inteligência emocional desde logo cedo na infância?
As pesquisas mostram que a aprendizagem modifica a estrutura física do cérebro, tornando-o mais funcional. Já as experiências de vida afetam o cérebro, que, por sua vez, se beneficia positivamente delas. Ou seja, o que aprendemos age em nível celular, impondo novos padrões de organização do cérebro. Incentivar o desenvolvimento da inteligência emocional é fundamental para vivermos em um mundo melhor, com mais virtudes e valores. As crianças não nascem discriminando outras crianças, porém aprendem pelo exemplo dos adultos. São as emoções que nos fazem únicos, é o nosso comportamento emocional que nos diferencia uns dos outros, lembrando que aprender por meio da alegria e do prazer contribui para a aprendizagem no cérebro.
Quais podem ser as consequências do não incentivo ao desenvolvimento da inteligência emocional?
O ser humano é a espécie que tem o cérebro mais completo desenvolvido nos aspectos mentais sofisticados como linguagem, raciocínio e empatia. Somos os únicos que podemos evocar voluntariamente memórias e imaginar futuros, além de ajustar nosso comportamento atual aos objetivos que queremos alcançar. O preço de não desenvolver a inteligência emocional é a incivilidade que estamos vendo hoje em dia. Não desenvolver a inteligência emocional seria perder todo o potencial humano citado acima e nós sabemos que só através da educação e do diálogo será possível mudar o mundo para melhor.
Como a inteligência emocional das crianças e dos adolescentes pode ser incentivada em casa?
Sabemos que a aprendizagem é composta por emoções e repetição. As famílias podem ser o exemplo diário em sua rotina de comportamentos empáticos e altruístas. Praticar a frase “gentileza gera gentileza”. Incentivar as crianças a expressarem seus sentimentos e pensamentos. Oportunizar encontros com crianças e adolescentes da mesma faixa etária para que haja mais diálogos. Ou seja, favorecer a vida em comunidade, a exigência de escutar o outro torna-se muito importante.
Como a inteligência emocional das crianças e dos adolescentes pode ser incentivada na escola?
São as escolas que têm a oportunidade de praticar e oferecer um ambiente que promova resultados sociais emocionais e acadêmicos positivos para todos os alunos. Resultados tais como jovens capazes de serem autores da própria história, que saibam gerenciar seus pensamentos, administrar e proteger a emoção. As pesquisas confirmam que a competência social e emocional pode ser desenvolvida por meio de diversas abordagens, de aprendizagens cooperativas, metodologia de projetos, assim como a implementação das habilidades e atitudes sociais e emocionais praticadas por todos que fazem parte da escola. É melhor investir no desenvolvimento das habilidades socioemocionais do que apostar no aumento do volume de informações didáticas. As pessoas que melhor cooperam são as que melhor produzem e atualmente são as mais procuradas por empresas.
De que forma a criança e o jovem podem desenvolver a sua própria inteligência emocional?
Para crianças, é mais fácil praticar a inteligência emocional como observamos na rotina das salas de educação infantil. Na educação infantil, temos a prática de ensinar às crianças a conviverem com as diferenças que existem entre nós. Nessa faixa etária, as crianças aprendem e vivenciam regras de convivência tais como: falar um de cada vez, compartilhar brinquedos, jogar dentro das regras, não bater nos outros, colocar as coisas de volta onde pegou, arrumar sua bagunça, não pegar as coisas dos outros, pedir desculpas quando machucar alguém.
Os adolescentes estão vivendo um período instável da vida, em que o cérebro infantil se torna adulto. Ser adolescente é passar por mudanças significativas na estrutura cerebral e na maturação do cérebro. É importante oferecer orientações, modelo, incentivo, estímulo, compreensão e desafios, porém fundamental é oferecer políticas públicas promotoras e protetoras.
O que é educação emocional e por que vem crescendo o interesse nela dentro de casa e nas escolas?
“É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”, diz um provérbio africano. Alunos, famílias, escolas e comunidades fazem parte de um sistema mais amplo que molda o aprendizado, o desenvolvimento e as experiências. A inteligência emocional, por meio de competências socioemocionais, pode diminuir as desigualdades baseadas em raça, etnia, classe, idioma, identidade de gênero, sexo e outros fatores que estão arraigados na maioria das sociedades e impactam os jovens. A inteligência emocional não é uma mágica para resolver questões tão importantes, mas pode criar as condições necessárias para que indivíduos e escolas examinem e comecem a praticar políticas adequadas, com ambientes de aprendizagem mais inclusivos e democráticos.