A depressão sempre foi considerada uma psicopatologia específica da fase adulta. Somente a partir de 1960 sua ocorrência foi relacionada à infância e adolescência. No que tange à etiologia da depressão na adolescência, há muitas variáveis sociais, psicológicas e biológicas consideradas fatores de risco, tais como: prévio histórico de depressão de um dos pais, viver em famílias consideradas disfuncionais, baixa educação dos pais, eventos estressantes frequentes, pouco suporte social, problemas na escola e de saúde, baixo desempenho acadêmico, ser do sexo feminino e baixo repertório de enfrentamento e de habilidades sociais.
Mudanças importantes
A adolescência é a transição no desenvolvimento da fase da infância para a idade adulta, ocorrendo mudanças importantes no desenvolvimento físico, cognitivo, emocional e social e é um período difícil, conturbado, no qual os jovens passam por diversas situações novas, pressões sociais, com variações do humor e crises emocionais. Além disso, a desregulamentação hormonal nessa fase também pode ser um dos fatores que tornam desafiador lidar com tantas emoções.
Portanto, não existe uma única causa para a depressão. Trata-se de uma combinação de inúmeros fatores, o que inclui, como dito, propensão genética e o ambiente no qual a pessoa está inserida. A depressão na adolescência é muito comum justamente porque é um momento no qual o jovem sofre tanto com fatores internos de autoestima e autoaceitação, como todos os fatores externos, como a dificuldade em lidar com situações desafiadoras e até a desregulação dos hormônios que controlam as emoções conforme citado, o que é um agravante importante.
Fatores de risco
A incidência de depressão em adolescentes é maior em mulheres. Os fatores de risco são: histórico familiar, características individuais do sujeito (gênero, temperamento, personalidade e cognição), fatores familiares (estilo parental, capacidade ou não de estabelecer vínculo, situações familiares adequadas ou estressantes e ausência ou presença de psicopatologias na família) e atributos sociais (condições do ambiente, local da moradia, nutrição, violência urbana, acesso à saúde e ao saneamento básico).
É importante também pensar que o estilo de vida atual que os adolescentes levam, suas demandas individuais e sociais, cobranças, bem como as questões do mundo contemporâneo podem estar associadas ao sofrimento psíquico e à manifestação de transtornos depressivos nessa fase da vida. Existem também fatores de risco como redes sociais serem consideradas propulsoras da depressão e assim também do suicídio. Uma onda perigosa e crescente de desafios suicidas e jogos perigosos que invadem o ambiente virtual tem sido vista entre os jovens. Esses jogos estão ancorados em mensagens que podem potencializar os sentimentos depressivos e os comportamentos suicidas.
A literatura aponta que, comumente, adolescentes que apresentam transtornos depressivos possuem risco aumentado para desenvolverem psicopatologias quando adultos.
Saber a diferença
Nem sempre adolescentes deprimidos estarão tristes, as crises de explosão são bem comuns, não raramente são instáveis e se irritam facilmente. Porém, muitas vezes são negligenciados, por haver uma crença da parte da família e das pessoas que convivem com esses adolescentes de que seu comportamento é algo comum nessa idade, não sabendo diferenciar o que é “normal” daquilo que tem caráter patológico.
Dentre os sintomas encontrados na literatura estão: Insônia ou sono excessivo. Perda ou excesso de apetite, cansaço, falta de energia para atividades, fala e ações lentificados, agitação, queda no desempenho escola, uso de álcool e/ou outras drogas lícitas e ilícitas, isolamento social, descuido da aparência, agressividade, autoagressões, ideação suicida.
Outros comportamentos são: olhar muito tempo para o chão, permanecer com postura arqueada, cansaço, hipoatividade, fala monótona, devagar, com ausência de expressão e respostas monossilábicas, fadiga, atividade extrema ou apatia, sentimentos de falta de valor ou inutilidade, choros. Sintomas orgânicos ou somáticos também são encontrados, por exemplo: dor de cabeça e no estômago. A baixa qualidade do sono está diretamente ligada às reclamações em relação ao humor irritável e depressivo, cansaço, assim como a falta de atenção, de motivação e de eficiência. Geralmente se queixam de não terem amigos. Dizem que os colegas não gostam deles ou desenvolvem um apego excessivo ou exclusivo a animais. É comum sentimentos de tédio e sensação de vazio. Normalmente apresentam sintomas motores, fisiológicos e cognitivos, como os motores: tremer, roer as unhas, chupar o dedo, gaguejar, forçar a mandíbula e evitar os outros. Os sintomas fisiológicos são: taquicardia, sudorese, mudança na tenção muscular, respiração aumentada, falta de ar, náuseas, vômitos, dor de estômago e urinar frequentemente. Já nos sintomas cognitivos destacam-se o medo, esperar por perigos, sensação de ser inadequado ou incompetente ou visões de lesão corporal.
É importante notar os primeiros sinais nos jovens
Os sintomas da depressão em adolescentes geralmente aparecem no sistema familiar, nem sempre sendo reconhecidos como tais pelos pais ou responsáveis.
A falta de informações de pais, responsáveis e professores sobre a depressão pode contribuir para aumentar as dificuldades dos alunos e inúmeras sequelas emocionais no futuro.
O psiquiatra infantil e/ou psicólogo são os melhores especialistas para fazer o diagnóstico e acompanhar o adolescente. No tratamento, geralmente são utilizados medicamentos antidepressivos, sendo também muito importante a realização de psicoterapia aliados a atividade física.
Facilitar um maior conhecimento acerca de depressão em adolescentes para pais, responsáveis e professores pode propiciar um olhar mais atento para possíveis sintomas, permitindo um encaminhamento oportuno e um diagnóstico mais rápido, o que conduzirá à intervenção adequada e em tempo hábil.