Estudos sobre comportamento humano indicam que a terceira segunda-feira de janeiro é considerado o dia mais triste do ano, conhecido como “Blue Monday” (Segunda-feira Triste, traduzindo do inglês). Esse fenômeno ocorre porque descobrimos que as promessas de Ano Novo eram irrealistas, ou eram difíceis de cumprir – o que deixa as pessoas um tanto frustradas. A tese foi criada pelo psicólogo da Universidade de Cardiff, no País de Gales, Cliff Arnall, que afirma que as pessoas ficam mais melancólicas nessa época do ano.
Segundo o psicólogo Thiago de Almeida, doutor em Psicologia pelo Departamento de Psicologia da Aprendizagem do Desenvolvimento da Personalidade do Instituto de Psicologia da USP, a taxa de procura em seu consultório cresce de 30 a 50% nesse período do ano. “Enquanto psicoterapeutas, observamos todos que as insatisfações com os parceiros e família crescem, assim como os sintomas de medo, tristeza, ansiedade, baixa autoestima, depressão, raiva, angústia, desânimo e procrastinação se exacerbam. Em resumo, com um ano que está começando, as pessoas se sentem à deriva. De fato, sejam quais forem os motivos, as pessoas, principalmente no Brasil, que deveriam estar em férias, viajando ou descansando em suas casas, mas recorrem com maior frequência aos consultórios, sobretudo, na terceira semana do mês que inicia o ano”, observa Almeida.
Melancolia instalada
Qual a explicação para essa onda de melancolia? Muitas vezes estabelecemos metas como emagrecer, comer alimentos mais saudáveis, começar uma academia, viajar mais, poupar dinheiro, ler mais livros, etc. Em pouco tempo – algo em torno de algumas semanas -, a pessoa começa a se dar conta de que tem propensões naturais para poucas coisas, ficando restrita a imperativos biológicos, como comer e beber, sexo, dormir, ajudar aos outros, ganhar dinheiro e jogar videogame (brincar).
“Esses imperativos biológicos normalmente estão associados à sobrevivência e reprodução das espécies, ou seja, forças agindo para que se garanta sua perpetuação. Tudo o que está além disso [essas propostas de Ano-Novo] fogem ao nosso ‘modus operandi’. Somos dotados de um cérebro que opera em economia de energia, isto é, com um repertório muito pequeno que ativa o nosso sistema de recompensa [com a atividade de uma região do cérebro chamada núcleo accumbens]”, explica o psicólogo.
Frustração garantida
Em outras palavras, se quisermos fazer algo para além dessas tarefas destinadas à sobrevivência, provavelmente iremos nos frustrar. Afinal, quem quer trocar meia hora de sono a mais, para se levantar mais cedo e para se exercitar, mesmo sabendo dos benefícios biológicos e psicológicos dos exercícios? As frustrações, de não darmos conta dessa lista já começa muito cedo.
“Por exemplo, ao dizer para si mesmo, ‘eu começarei a fazer exercícios ou me alimentar direitinho, depois do Ano-Novo’. Quando autodeclaramos isso, estamos dizendo para o nosso cérebro: ‘o que eu deixo para depois, não é tão importante para mim, continue a agir dentro da conformidade a qual você já está acostumado’”, esclarece Almeida. Assim, ensinamos a nossa mente que aquelas atividades, podem ser procrastinadas, não precisam fazer parte do nosso presente.
Metas estabelecidas
“A Blue Monday está ainda relacionada à falta de estratégias para implementar as promessas do início do ano. Um exemplo: se eu me convenci de que eu quero começar a correr, antes de dormir, eu vou deixar a minha roupa de lado para assim que eu acordar. Com o tempo, essa nova atividade vai se integrar ao meu repertório básico. Dessa forma, aquilo que não fazia parte do nosso repertório prazeroso pode fazê-lo se a gente persistir. Porque o seu cérebro pode sim, encontrar prazer naquela atividade que, para você, a partir de agora, pode fazer todo o sentido”, exemplifica. Porém, se pensarmos que vale a pena dormir mais um pouco, sem nos prepararmos para isso, a disputa vai ser contra uma necessidade básica. Daí, muito provavelmente, não dará certo.
É pouco provável que toda a população possa ficar deprimida ao mesmo tempo todo ano. Segundo Almeida, esse é um fenômeno restrito ao mundo globalizado, em que todos estamos imersos em uma experiência muito próxima e parecida, sendo as festividades do Natal e do Ano-Novo mundialmente difundidas. Juntamente com a desaceleração das nossas atividades de trabalho, demonstramos pensamentos e percepções mais introspectivos. “Daí a culpa, o julgamento e a autopunição quando a pessoa se desvia do caminho de ser mais magra, mais correta ou mais bem-sucedida, por exemplo. Nos submetemos a padrões externos, para nos tornarmos ‘as melhores versões de nós mesmos’, o que nos torna mais autocríticos e decepcionados”, observa.
Se as metas estabelecidas são altas demais, provavelmente os resultados estarão muito aquém das expectativas. “Daí, as conquistas obtidas em nossos projetos de vida, se ressignificam em fracassos, até porque há um esgotamento mental, derivado, da constante autovigilância de superar desafios constantes e bater metas, gerando verdadeiras utopias individuais”, afirma.
Fenômeno é decorrente da imposição de publicidade nas mídias?
Pode acontecer de as pessoas se sentirem mal em razão de tanta publicidade sobre esse dia nas mídias? Observamos verdadeiras torrentes de fotos, vídeos, postagens em redes sociais sobre a “Blue Monday”. Às segundas-feiras, as pessoas, do mundo inteiro se suicidam mais, e esse fenômeno é particularmente maior por ocasião da “Blue Monday”, sendo mais presente em adolescentes e jovens adultos.