A ideia de tornar o aluno como centro do ensino, no lugar da tradicional e secular posição do professor como elemento central para o processo de ensino-aprendizagem, é considerada, atualmente, como uma “revolução” na educação, alavancada pelas recentes Metodologias Ativas de Aprendizagem, propostas como soluções atuais para os variados problemas de aprendizagem e, lato sensu, para o enorme problema do fracasso escolar no Brasil.

Porém, esta ideia está longe de ser nova. Na verdade, muito longe. Ela surge com Johann Pestalozzi, pedagogo do século XVIII-XIX, que proclamava que o homem deveria ter a vontade humana como ponto primordial, o que o colocaria como ativo, como principal condutor da aprendizagem, conforme asseveram Adorno e Miguel (2020) e Ferrari (2008). No dizer de Oliveira (2017, p. 1015), Pestalozzi considerava “a criança uma força ativa e ponto central do Método”, o que foi resultado da contestação que este fazia da educação tradicional da época, em que “o aluno era forçado a ficar sentado, imóvel e calado” (Id., p. 1014). Ao propor o que foi considerado como Método Intuitivo, Pestalozzi valorizava um “diálogo didático entre o mestre e o discípulo” (WESTERROF, 2016).

Movimento institucionalizado

Embora as ideias de Pestalozzi possam ter influenciado a Educação Brasileira a partir de Rui Barbosa, no final do século XIX, foi a pedagoga Helena Antipoff que trouxe este ideário para o Brasil. Em especial, este movimento foi institucionalizado a partir das ideias de Maria Montessori (que foi influenciada por Pestalozzi) e dos trabalhos de Lourenço Filho no desenvolvimento e divulgação do movimento da Escola Nova, na década de 1930 (SAVIANI, 2008; ADORNO e MIGUEL, 2020; FERRARI, 2008).

Todo o ideário do aluno como centro do processo educativo da Pedagogia Nova persistiu até a década de 1960 e, a partir desta, surge a pedagogia tecnicista e uma intensa experimentação de propostas educativas, e o escolanovismo termina, efetivamente, em 1969. Após várias tendências pedagógicas, conforme assinala Saviani (2008), um neo-escolanovismo surge na década de 1990, com amplo movimento internacional, que ocorreu concomitantemente com a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e, mais recentemente, consolidou-se na Base Nacional Comum Curricular (BNCC – BRASIL, 2017), com seus fundamentos pedagógicos baseados nos conceitos de que o aluno deve saber (em termos de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores) e deve saber fazer (em termos da utilização do saber para resolver complexas demandas do cotidiano, para exercício da cidadania e para o mundo do trabalho). Isso “requer o desenvolvimento de competências para aprender a aprender, saber lidar com a informação cada vez mais disponível, atuar com discernimento e responsabilidade nos contextos das culturas digitais, aplicar conhecimentos para resolver problemas, ter autonomia para tomar decisões, ser proativo para identificar os dados de uma situação e buscar soluções, conviver e aprender com as diferenças e as diversidades” (p. 14).

As implicações da adoção da BNCC no país levam, obrigatoriamente, a pelo menos duas vertentes diretamente relacionadas ao que preconiza a neurociência pedagógica: cada vez mais tornar o aluno centro ativo e protagonista do processo educativo e desenvolver autonomia, autoconfiança e autoestima para aquisição de habilidades e competências para a vida, o que nos leva às Metodologias Ativas de Aprendizagem (CODEA, 2019).

Metodologias ativas

Ao utilizarmos metodologias ativas de aprendizagem, usamos estratégias de ensino em que o aluno é colocado como centro do processo de ensino e passa a assumir a responsabilidade pela construção de seu próprio conhecimento.

A utilização de metodologias ativas pode trazer vários benefícios. Aqui, elencamos os mais comumente apresentados:

  • Alunos protagonistas, ou seja, que são mais independentes e que se tornam corresponsáveis por seu aprendizado.
  • Alunos mais engajados nas aulas e, portanto, mais motivados para aprender.
  • Alunos com maior autoestima e mais confiantes.
  • Alunos com maior autonomia.
  • Alunos com competências e habilidades mais desenvolvidos, de forma geral.
  • Alunos mais satisfeitos com a instituição.
  • Alunos mais satisfeitos com o professor, pois há maior aproximação pelo fato de o professor virar um facilitador e mediador do conhecimento.

Dificuldades encontradas

Ao contrário do que muita gente pensa, implantar metodologias ativas de aprendizagem não é tão simples. Inicialmente, é necessário um minucioso planejamento de curto, médio e longo prazos, além de um bom conhecimento sobre o rol de metodologias ativas disponíveis e suas possibilidades práticas de implantação.

Inicialmente, podemos considerar a falta de formação do professor em metodologias ativas como um bom impedimento ou agente dificultador de sua implantação. É necessário que esse profissional se aproprie do conhecimento teórico básico para que possa começar a trabalhar com metodologias ativas, o que pode ser conseguido tanto através de cursos de formação de professores em nível de extensão/pós-graduação lato sensu, ou mesmo pela aquisição de livros e/ou leitura de artigos, ou ainda através de consultas a sites/blogs.

Neste aspecto, indicamos a leitura do livro de José Moran e Lilian Bacich, Metodologias Ativas para uma Educação Inovadora: Uma Abordagem Teórico-Prática, que é bem esclarecedor para o iniciante em metodologias ativas. Em termos de blogs/sites, o blog de Eduardo Savarese Neto, disponível em https://fia.com.br/blog/metodologias-ativas-de-aprendizagem/ é uma ferramenta de estudo bem interessante.

Também é necessário, dentro do planejamento, que a ação inicial do docente seja bem guiada, orientando os alunos dentro dos procedimentos até que estes possam assumir, gradativamente, o protagonismo do processo. Não é, neste sentido, uma boa prática lançar a metodologia ativa e deixar os alunos com pouca mediação do professor.

O fato de elencarmos as dificuldades encontradas não deve ser, entretanto, um entrave para a utilização e aplicação de metodologias ativas de aprendizagem. São apenas lembretes para que o profissional esteja atento e não desista nas primeiras dificuldades.

O rol de benefícios, na verdade, é bem maior do que as dificuldades. No próximo artigo, abordarei as principais técnicas de metodologias ativas que são utilizadas, bem como os benefícios no aprendizado dos alunos, com comentários a respeito. Até lá!

E MAIS …

Desafios na implementação

Algumas considerações são importantes destacar a respeito de algumas dificuldades que podem ocorrer com as metodologias ativas de aprendizagem.

NA ESCOLA: a implantação de metodologias ativas no ambiente escolar deve fazer parte do Projeto Político Pedagógico da Escola. Isto ocorre por pelo menos três motivos: primeiro, deve-se analisar o currículo da Escola e como é conduzido o processo educacional. Se o ensino é tradicional, dificilmente se conseguirá implantar metodologias ativas, pois pode-se criar conflitos com os demais professores. Segundo, se for viável em termos da cultura educacional da Escola, há a necessidade de apoio da coordenação pedagógica e direção para a implantação, pois necessita-se de planejamento e debate sobre o processo, além de acompanhamento dos resultados obtidos. Terceiro, é igualmente necessária a criação de uma cultura local, em termos de treinamento dos alunos e dos próprios professores, para o correto entendimento e aceitação da proposta de metodologias ativas.

Precisa-se entender, neste aspecto, que autonomia e participação dos alunos em um processo totalmente diferente do ensino tradicional, em que o professor é o centro do processo e o aluno é praticamente passivo, não ocorrem natural e automaticamente.

NO NÍVEL SUPERIOR: nele, em geral, ocorre maior autonomia por parte do corpo docente, pode-se implantar a metodologia de forma mais independente, mas se requer igualmente a criação da cultura com os alunos. Mesmo com alunos adultos, deve-se lembrar que estes não tiveram instrução fora dos moldes tradicionais, na imensa maioria dos casos. Também precisam ser acostumados às novas práticas.

IMPREVISTOS: há que se considerar que, eventualmente, pode ocorrer de alguma metodologia utilizada não funcionar da forma esperada. De certa forma, é normal que aconteça, pois os primeiros passos podem ser bem espinhosos. Em termos de planejamento, deve-se prever ações a serem realizadas caso algo não ocorra dentro do previsto.

TURMAS NUMEROSAS / FALTA DE TEMPO: em casos de turmas numerosas, fica difícil propor aprendizado personalizado, ou mesmo aplicar a maior parte das metodologias ativas. Este é um fator a ser considerado. Sobre a falta de tempo, esta pode ocorrer tanto por parte do professor em realizar o trabalho de planejamento, quanto pode ocorrer devido à turma numerosa. Com uma certa disciplina organizacional, e com a escolha da(s) metodologia(s) certa(s), pode-se tentar contornar tais problemas.

FALTA DE ENGAJAMENTO: conseguir engajamento dos alunos também não é automático. Muitos podem se recusar a fazer as atividades extraclasse, por motivos diversos, ou podem ter dificuldades com as atividades que exigem disponibilidade online, como acesso de qualidade. Cumpre ao professor estabelecer, em seu planejamento, ações reparadoras para essas situações, e outras que possam surgir.

Referências
ADORNO, Thais Lira França; MIGUEL, Maria Elisabeth Blanck. A metodologia de Pestalozzi e o ideário da Escola Nova. Acta Sci. Educ., v. 42, e48511, 2020.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Brasília: MEC. 2017. Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf> Acesso em: 06 de setembro de 2020.
CODEA, André Luiz de Britto Teles. Neurodidática: fundamentos e princípios. Rio de Janeiro: WAK Editora, 2019.
NOEMI, Débora. Uma revolução no ensino: descubra as metodologias ativas de aprendizagem. Disponível em: <https://escolasdisruptivas.com.br/metodologias-inovadoras/metodologias-ativas-de-aprendizagem/>. Acesso em: 07/07/2020. Publicado em: 04/06/2019.
FERRARI, Márcio. Pestalozzi, o teórico que incorporou o afeto à sala de aula. Disponível em: <https://novaescola.org.br/conteudo/1941/pestalozzi-oteorico-que-incorporou-o-afeto-a-sala-de-aula>. Acesso em: 06/09/2020. Publicado em: 01/10/2008.
OLIVEIRA, Marcus Aldenisson de. Pedagogia Intuitiva da Escola Elementar de Pestalozzi: como se ensinava Aritmética? Bolema, Rio Claro (SP), v. 31, n. 59, p. 1005-1031, dez. 2017.
FIA – FUNDAÇÃO INSTITUTO DE ADMINISTRAÇÃO. Metodologias Ativas de Aprendizagem: Tudo que você precisa saber. Disponível em: <https://fia.com.br/blog/metodologias-ativas-de-aprendizagem/>. Acesso em: 07/07/2020. Publicado em: 18/09/2018.
PONTO DIDÁTICA. Metodologias ativas: como resolver 6 problemas de implantação. Disponível em: <https://pontodidatica.com.br/metodologias-ativas-como-resolver-6-problemas-de-implantacao/>. Acesso em: 07/07/2020.
SAVIANI, Demerval. História das Ideias Pedagógicas no Brasil. 2.ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2008.