Por mais de 60 anos, a Psicologia trabalhou com o modelo de doença, numa época em que as doenças mentais não eram tratáveis. Mas, em nenhum momento esse modelo trabalhou no sentido de tornar as pessoas mais felizes.

A partir dessa premissa, um grupo de estudiosos decidiram que estava na hora da Psicologia focar em três pilares: se preocupar com os pontos fortes do ser humano da mesma maneira como estava preocupada com os pontos fracos; desenvolver esses pontos fortes assim como reparar os danos; e se dedicar a fazer a vida das pessoas mais gratificante, estimulando a genialidade e os respectivos talentos. Assim, surgia a Psicologia Positiva – cujo um dos fundadores, o psicólogo, pesquisador e autor de vários livros, Martin Seligman celebra, hoje, 79 anos de vida.

Uma ciência positiva

Segundo Seligman, Psicologia Positiva é a “ciência que faz a vida valer a pena” e está ancorada em três pilares: o estudo da emoção positiva; o estudo dos traços positivos, principalmente as forças e as virtudes, mas também as “habilidades”, como a inteligência e a capacidade atlética; e o estudo das instituições positivas, como a democracia, a família e a liberdade, que dão suporte às virtudes que, por sua vez, apoiam as emoções positivas.

Em contrapartida ao Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) – cujo foco está nas doenças e transtornos – a Psicologia Positiva leva em consideração o manual de classificação chamado ‘ Pontos Fortes e Virtudes do Personagem ‘, que considera os comportamentos de homens e mulheres, além de defini-los, classificá-los e desenvolvê-los – além de apontar o que, afinal, os atrapalham.

Questão de otimismo

Estudos revelam que otimistas apresentam mais comportamentos de promoção de saúde, maior qualidade de vida e melhores índices de saúde física e mental. Em contrapartida, os pessimistas estão mais propensos à adoção de comportamentos de risco, como o uso e abuso de álcool e outras drogas (Carver, & Scheier, 2002; Carver & Scheier, 2019), como também a uma percepção de mundo menos favorável e uma reação e adaptação às adversidades de modo mais prejudicial em comparação aos otimistas (Carver, & Scheier, 2019; Forgeard, & Seligman, 2012).

Foi Seligman que mostrou que os pessimistas podem aprender a ser otimistas a partir de novas técnicas cognitivas. “O otimista se recupera da derrota mais rápido. O pessimista desiste e cai em depressão. Por causa de sua resiliência, o otimista possui mais conquistas no trabalho, nos estudos e nos esportes. O otimista tem uma saúde física melhor e talvez até viva mais

tempo. Pesquisas já revelaram que os norte-americanos querem que otimistas os liderem.

Florescimento

Seligman também trouxe uma luz para a busca do bem-estar a partir do aumento da quantidade de florescimento na vida das pessoas e no planeta. “A psicoterapia e os remédios, do modo como são usados hoje, são insuficientes. Nas raras ocasiões em que são completamente bem sucedidos, eles livram o paciente do sofrimento, da miséria e dos sintomas negativos. Resumindo, eles removem as condições debilitantes da vida.

Remover essas condições debilitantes, no entanto, não é o mesmo que construir as condições propícias da vida. Se quisermos florescer e ter bem-estar, precisamos, sim, minimizar nosso sofrimento; mas além disso precisamos ter emoção positiva, sentido, realização e relacionamentos positivos. As práticas e os exercícios que produzem isso são inteiramente diferentes das práticas que minimizam nosso sofrimento”, explica o especialista em seu livro Florescer.

Por isso que uma das premissas da Psicologia Positiva é ensinar como ter mais emoção positiva, engajamento, propósito, realização e melhores relações humanas que, ao contrário das práticas para minimizar o sofrimento, se autossustentam. “Mais importante que aliviar a patologia, estas práticas são o próprio florescimento e são cruciais à busca do bem-estar”, pontua o especialista.

Em tempos pandêmicos, as pesquisas e práticas apontadas por Martin Seligman são ainda atuais e necessárias para ajudar indivíduos, famílias, instituições e comunidade em geral a prosperarem e desenvolverem suas forças e virtudes, de modo a atingir mais bem-estar. Que os conceitos da Psicologia Positiva se espalhem e contribuam para a consolidação de uma cultura de paz e saúde mental. Viva, Seligman. Parabéns pelo aniversário hoje e por proporcionar teorias tão ricas para a melhora da qualidade de vida e do bem-estar individual e no mundo.

E MAIS…

Forças de caráter e a busca da felicidade

Foi Martin Seligman que transformou a convergência entre milhares de anos de tradições filosóficas sem relação entre si no guia multicultural harmonioso da Psicologia Positiva observada sobretudo na definição das seis classes de virtudes e nos 24 caminhos para alcançá-las a partir de forças de caráter.

Entre as virtudes definidas pela Psicologia Positiva estão:

– sabedoria/conhecimento

– coragem

– amor/humanidade

– justiça

– moderação

– espiritualidade/ transcendência

Cada qual subdividida com a finalidade de classificação e medição. A sabedoria, por exemplo, pode ser embasada nas forças da curiosidade, gosto pela aprendizagem, critério, originalidade, inteligência social e perspectiva. Já o amor inclui a bondade, a generosidade, o ensino e a capacidade de amar e ser amado. A virtude da humanidade pode ser alcançada pela benevolência, filantropia, capacidade de amar e ser amado, sacrifício ou compaixão. A virtude da moderação pode ter como componentes a modéstia e a humildade, o autocontrole ou a prudência e o cuidado – e assim sucessivamente para todas as demais.