O tema saúde mental já foi tabu em muitos contextos, na roda de amigos, na escola e principalmente no trabalho. Embora tenha havido avanços no oferecimento de apoio psicológico e emocional e ampliação dessa discussão dentro das empresas, ainda existe muito o que se desmistificar sobre o tema. Conforme a gerente de recursos humanos da Vetor Editora, Vanessa Lamego, é importante que os trabalhadores também enxerguem o cuidado como benéfico para a vida profissional e pessoal.
Nesta entrevista, ela aponta os mitos mais comuns sobre saúde mental nos ambientes profissionais. Graduada em administração de empresas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Vanessa é especialista em gestão estratégica de pessoas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Trabalho é ou não lugar para falar de sentimentos?
Uma das barreiras que impediram as pessoas e as empresas de tratarem a saúde mental com o seu devido valor foi a ideia de que o trabalho não é o lugar adequado para falar ou expor sentimentos. A escuta ativa e o prestar atenção no que está sendo dito têm ampliado o conhecimento dos gestores a respeito dos seus times, enxergando suas fragilidades e fortalezas. Mais do que incentivar essa abertura e transpor segurança, é preciso que as lideranças de fato exercitem essa escuta ativa e demonstrem que estão atentos ao que está sendo dito. Essa troca não melhora apenas o bem-estar do time como um todo, mas estimula a troca de ideias, sugestões e melhorias contínuas.
De quem é a responsabilidade pela saúde mental no ambiente profissional?
Mesmo com o impacto que o aspecto emocional tem na produtividade e também na motivação das pessoas com seu trabalho, durante muito tempo, esse era um problema apenas do funcionário, muitas vezes nem sendo de conhecimento do gestor. A ansiedade, o estresse, entre outros fatores, influenciam muito no desenvolvimento e nas entregas de cada profissional. Um estudo divulgado pela Gympass em 2023 revela que 100% das companhias ouvidas apontam que os programas de bem-estar são importantes para a satisfação dos funcionários.
Como as organizações podem oferecer apoio nesse sentido?
Existem diversas formas de evitar problemas de saúde mental e casos mais graves como síndrome de burnout: oferecer feedbacks de desempenho, bonificar os trabalhadores com day off (folga remunerada em dias específicos do ano), benefícios para utilização de academias ou promover ginástica laboral. Esses são exemplos simples que podem ser um bom começo. A partir daí, cada empresa pode estudar que outras ferramentas são necessárias para um apoio psicológico, como instrumentos de avaliação, consultorias e treinamentos.
As empresas valorizam ou não profissionais workaholics?
Os workaholics são aqueles profissionais que pensam no trabalho o tempo todo e acreditam que trabalhar mais é trabalhar melhor. É um ciclo vicioso que leva a problemas de ansiedade, insônia, podendo resultar em casos de burnout. Esse cenário tem mudado gradativamente com discussões envolvendo quiet quitting (evitar fazer atividades além das responsabilidades profissionais), a semana de trabalho de quatro dias e o reflexo dessas rotinas de trabalho exaustivas.
Qual a importância da saúde mental nas empresas?
Todos esses mitos reforçam que investir em saúde mental é essencial para promover um ambiente saudável e seguro psicologicamente. Além de contribuir para reter talentos, diminuir custos associados a problemas emocionais não tratados e reduzir absenteísmo, também melhora questões envolvendo a capacidade de lidar com o estresse e a pressão do trabalho.
Atualmente existem empresas com programas totalmente dedicados à saúde corporativa e ao combate de doenças mentais. O mercado está cheio de bons exemplos e organizações parceiras nesse suporte. Com esse foco fazendo parte da estratégia de um negócio, certamente ele irá crescer junto dos seus colaboradores.
