Apesar da indisciplina escolar ser um tema de grande relevância acadêmica e estar presente na fala dos diversos atores que permeiam os diferentes ambientes das escolas da educação básica, tal assunto não é exclusividade do século XXI. Em outros períodos ela também acontecia e era discutida, ainda que em menor escala.
Alguns importantes estudiosos, como por exemplo o filósofo tcheco Jan Amos Comenius (1592-1670) – o pai da didática moderna –, no século XVII, e o francês Émile Durkheim (1858-1917) – considerado um dos fundadores da sociologia moderna –, no início do século XX, discorreram em seus textos preocupações em como manter a disciplina escolar.
Início da educação no Brasil
No Brasil, o controle da disciplina escolar foi implantado concomitantemente com o início da educação neste país, ou seja, com a chegada do primeiro grupo de jesuítas no ano de 1549. Registros daquela época apontam a preocupação dos missionários com a questão da disciplina, pautada na vigilância constante e na utilização de métodos para contenção dos comportamentos indisciplinados dos discentes filhos dos colonos, indígenas e/ou negros. Dentro desses métodos de contenção/punição eram utilizados e permitidos naquela época, além da repreensão verbal, o açoitamento e a utilização da palmatória.
Outro indicador de que a indisciplina escolar não é exclusividade do século XXI foi encontrado em fragmentos arqueológicos descobertos no sítio de Athribis – um assentamento a cerca de 200 quilômetros ao norte de Luxor, no Egito – onde foram descobertas 18 mil peças de cerâmicas inscritas com detalhes da vida do Egito Antigo, incluindo peças desenhadas como punição por maus alunos que tinham se comportado de maneira inadequada para o espaço educativo daquela época. O medo da indisciplina escolar sempre existiu, seja 2000 anos atrás (no antigo Egito), no século XVII, XX ou na atualidade.
A indisciplina escolar
A indisciplina escolar, para a grande parcela da comunidade escolar – todos os sujeitos que estão envolvidos com a escola, ou seja, corpo docente, gestores, equipe pedagógica, funcionários, alunos e família – é motivo de preocupação, visto que a ocorrência de problemas classificados como indisciplina causa, desconforto nas relações interpessoais, principalmente quando associados a situações de conflito em sala de aula.
A indisciplina dos alunos, além de estar presente nas conversas informais dentro das escolas (seja nos corredores ou mesmo nos intervalos na sala dos professores), é assunto constante nas pautas das reuniões pedagógicas, indicando o estresse que tal fenômeno propicia na classe docente.
Ao pesquisar o assunto na literatura específica, pode-se encontrar diferentes considerações relacionadas a este tema, indicando que não existe um consenso entre os autores e, talvez por esse motivo, exista certa confusão de entendimento desse fenômeno pelos professores que atuam na educação básica.
Variedade de opiniões
A variedade de opiniões é aceitável se a indisciplina escolar for considerada enquanto um fenômeno complexo, dotado de grande magnitude, cuja investigação deve considerar a existência de uma multiplicidade de fatores, tais como: questões sociais, familiares, escolares e pedagógicas, ou seja, tentar explicitar tal tema é um caminho mais tortuoso do que é discutido no senso comum, pois envolve uma gama de diferentes fatores que incidem sobre sua aparição na sala de aula gerando desconforto na relação pedagógica.
Segundo diferentes pesquisadores a indisciplina, além de estar presente em todos os componentes curriculares, é considerada como um dos principais problemas nas escolas e faz com que alguns professores se sintam angustiados e ansiosos antes de entrar na sala, durante e depois das aulas com turmas nas quais os atos de indisciplina acontecem constantemente.
O desconforto na relação pedagógica, gerado pela indisciplina no interior das instituições de ensino, demonstra que as expectativas de alguns docentes, com relação a sua profissão, não estão sendo atendidas, gerando estresse, frustração e insegurança na sua prática pedagógica.
Fenômeno complexo
A indisciplina escolar deve ser pensada como um fenômeno muito mais complexo que aquele visualizado no senso comum e, portanto, percebida não como resultado de uma causa única, ou mesmo principal, mas como uma mistura de fatores que devem ser refletidos.
Sendo assim, além de causas externas ao ambiente educacional, a indisciplina também pode ocorrer pelo próprio estresse originado na relação pedagógica. Compreender os motivos e sentidos da indisciplina torna-se de suma importância para realizarmos uma leitura mais completa acerca desse tema, tendo em vista que, a ausência da clareza, por parte de alguns docentes, pode intensificar e originar situações de indisciplina.