A reflexão deste artigo nos leva a pensar se o jogo cooperativo pode ser um aliado contra o feminicídio.
Me fizeram recentemente esta pergunta, e ao interpretar o jogo como uma manifestação cultural que tem função educadora, voltamos nosso olhar para a prática do Jogar como ferramenta educativa.
Terry Orlick no livro Vencendo a Competição nos alerta que quando jogamos fazemos parte de uma míni sociedade que pode nos formar de diferentes formas, por isso, acreditamos no poder do jogo cooperativo como aliado na busca de uma sociedade que caminha para o respeito ao próximo, onde o outro é visto como igual em suas potencialidades. O jogo cooperativo apresenta o que todos têm de bom.
O valor não está no ganhar
Suas potencialidades são necessárias para que tenhamos o resultado final atingido, o valor não está no ganhar ou perder e sim, em conseguirmos juntos, alcançar o objetivo final sugerido pelo jogo, termos o outro como parceiro, permiti-lo usar suas potencialidades, sejam físicas, cognitivas ou discursivas, me permitir conhecê-lo em sua essência e aprender a lidar com as diferenças.
No jogo cooperativo todos são necessários, são essenciais, não existindo a exclusão ou diminuição de potenciais, indo pela contramão do que se coloca socialmente. Jogar com é convidar e ser convidado a viver uma experiência conjunta onde o que vale é o brincar.
Não seria este um caminho para alcançar o respeito à diversidade? Não é essa uma possibilidade de perceber o outro como igual?
Caminhos para a mudança social
Buscar caminhos para a mudança social deve acontecer desde a primeiríssima infância, por este motivo, ter práticas que conectam e não afastam é ir ao encontro da paz
A definição do jogo cooperativo, segundo Araújo e Silva (2022), “Jogos Cooperativos são jogos que em sua estrutura objetivam a participação de todos, sendo uma ferramenta para o desenvolvimento de empatia, sentimento de equipe, pertencimento, solidariedade, pensar e resolver juntos, tomada de decisão e por fim busca o desenvolvimento de uma cultura de paz”.
Neste sentido podemos entender o jogo como propagador de cultura de paz, o ambiente formal (escola) nos forma integralmente, e como será que estamos percebendo a mulher neste contexto?
O mesmo acontece nos contextos informais de educação, ainda hoje percebemos práticas de divisão de gênero e uma competição para mostrar quem é melhor ou pior, enfatizando um gênero contra o outro. E isso não gera uma desordem social?
Usufruto das capacidades diversas
Todos somos bons, em diversos contextos e com diferentes habilidades, no livro Jogos Cooperativos Contemplando a Sociedade do Século XXI chamamos a atenção para isso, a partir da frase de Albert Einstein “Somos todos geniais. Mas se você julgar um peixe por sua capacidade de subir em árvores, ele passará a vida inteira acreditando que é um estupido”
Todos temos potenciais e habilidades diferentes, precisamos enquanto educadores, potencializar e criar um caminho de igualdade para usufruto das capacidades diversas e assim estaremos valorizando e permitindo que cada um se reconheça e que confie em si para que se relacione bem para com o outro.
Necessitamos compreender que entregamos aquilo que recebemos, se você ganhar flores, o que terá para devolver? Se queremos de fato a redução da violência em todos os seus sentidos, devemos educar para a Paz, para o respeito, solidariedade, amor ao próximo e sem dúvida nenhuma para cooperar.
Educação da não-violência
Em um de seus relatórios a UNESCO nos apresenta a seguinte frase: “A guerra nasce na mente dos homens e é lá que deve ser combatida”.
Neste sentido alerta para uma educação da não-violência, por vezes, direitos são negados pelas próprias instituições de ensino, o silenciamento de crianças e adolescentes, bem como a forma violenta de se comunicar em ambientes de educação propagam a cultura da violência, que ultrapassam os muros das escolas.
Não estou condenado ou culpabilizando as instituições, apenas somos seres que reproduzimos o que aprendemos e somos uma geração com resquícios de uma educação oriunda da escravidão e ditadura, e ainda hoje produzimos padrões de dominância por estar em lugar de destaque. Vale lembrar que toda mudança acontece de pequenas ações e trocas de atitudes, educar para a não-violência é o caminho para a sociedade que sonhamos, é o caminho para uma sociedade pacificadora, o que não quer dizer que devemos deixar de ter conflitos.
Conflitos, assim como nos alerta Mario Sergio Cortella, não é confronto, e mesmo que o confronto aconteça, que seja de ideias, no campo das possibilidades dialógicas, onde temos a possibilidade de discutir e não de agredir.
O poder transformador do ambiente
A educação é sem dúvida a única porta para a mudança social, mas o que se propaga, onde estão os valores sociais na ação do educar? Novamente retomo a fala de que educar não é apenas uma função da escola, mas sabemos do poder transformador do ambiente educacional na formação do indivíduo que cada vez mais cedo começa sua jornada na escola.
Será que estamos conseguindo dentro das possibilidades apresentada ter uma educação motivadora, transgressora, envolvente, antirracista, com respeito a diversidade e a mulher? São pergunta que todos os dias, ao acordar para ir à escola me faço, e escolho fazer diferente.
A mudança que sonhamos e esperamos, não vai vir apenas do externo, precisa acontecer no interno, entregamos aquilo que temos, então, que possamos diariamente, lembrar que necessitamos falar, mostrar dados, apontar feridas que forma abertas historicamente, e principalmente que devemos unir e cooperar para seguir.
A Pátria Educadora
Sigamos juntos para uma prática educadora que transformará “a Pátria Educadora”, que ao levantarmos para ir para nosso campo de atuação, este jardim fértil e cheio de possibilidades, levemos nos regadores águas do amor ao próximo, levemos com adubo para o terreno, a cooperação e valorização do outro e que possamos capinar com o cuidado de quem sabe que para tirar uma erva daninha, devemos ter a paciência para não arrancar uma bela flor que pode ser frutífera.
Viva a educação libertadora e a educação para a paz.
Para finalizar trago a frase de Nelson Mandela que vale destaque sempre
“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar”