À medida que os séculos vão se passando, há diversas mudanças, assim como a cada instante, o órgão mais complexo do ser humano, que é o cérebro, se modifica. E este cérebro pensante, por exemplo do século XIX, não é igual ao cérebro pensante do século XXI, entretanto, estes mesmos cérebros apresentam fenômenos praticamente iguais nos quais são denominados de processos neuroquímicos.

Esses processos por sua vez, liberam os chamados neurotransmissores que são substâncias produzidas pelos neurônios, encontrados no terminal pré-sináptico, que, quando liberados em resposta à algum estímulo, atuam em receptores específicos da célula pós-sináptica ocasionando alterações na sua atividade. Os neurotransmissores que estão ligados a fatores endógenos e exógenos atuam em diversas áreas do encéfalo sobretudo nas áreas correspondentes à aprendizagem.

Prática pedagógica eficiente

Mas o que se pode entender sobre o aprendizado? Aprendizado e memória são a mesma coisa? Com o conhecimento neuroeducacional, a inclusão pode ser feita de maneira abrangente, incluindo todos? A emoção tem um papel fundamental na aprendizagem?

Atualmente, tem-se questionado e debatido no meio educacional acerca das dificuldades de aprendizagem manifestadas em sala de aula e como a inclusão desses alunos são relevantes para uma prática pedagógica eficiente, empática e acolhedora. A neuroeducação traz essa abordagem inclusiva, compreendendo o ser biopsicossocial e respeitando a individualidade de cada aluno.

A neuroeducação traz uma bagagem teórica-científica integrando três importantes áreas do conhecimento humano sobre o processo de ensino-aprendizagem, são elas: as neurociências, a psicologia e a pedagogia.

Essa integração dos conhecimentos propiciam a realização do trabalho investigativo na promoção da aprendizagem, analisando os estímulos, respostas e efeitos nos processos pedagógicos-metodológicos, visando na eficiência do ensino e da aprendizagem. Ademais, o foco primordial de estudo e prática neuroeducacional é o cérebro, as emoções e a sua relação no aprender.

Com isso demanda certas mudanças de padrões e práticas educativas que transcendem as aulas expositivas, proporcionando o cérebro daquele aluno a desenvolver novas aprendizagens.

Aprender e ter criatividade

Um grande educador e pesquisador da área do desenvolvimento cognitivo humano, Jean Piaget, nos afirma que para apresentar uma concepção adequada de aprendizagem é necessário esclarecer como o sujeito consegue aprender e ter criatividade e não apenas ser um repetidor de ideias.

A educação tem como principal objetivo o desenvolvimento de novos conceitos seja na área cognitiva, perceptiva, motora, no comportamento, como também nas relações. Na atualidade, o aprender está interligado quando se refere a adquirir competências para solucionar problemas e executar incumbências, dispondo de habilidades e conhecimentos que foram obtidos com o decorrer do processo.

Pode-se dizer, portanto, que aprendemos quando estamos aptos a manifestar novos comportamentos que nos proporcionam transformações, seja na prática e na vivência em sociedade.

Mas de onde surgem os nossos comportamentos? Sabemos que estes são consequências decorrentes da atividade cerebral, ou seja, do nosso sistema nervoso.

Obtenção de novos conhecimentos

Se todos os comportamentos advêm do nosso cérebro, a obtenção de novos conhecimentos e comportamentos são frutos dos processos que ocorrem no cérebro de quem está aprendendo.

Dessa maneira, podemos afirmar que o cérebro é um órgão que está em constante aprendizado. Essa afirmação é recente, visto que nos últimos anos, o desdobramento intensificado do conhecimento neurocientífico cresceu muito, especialmente a partir da chamada “Década do Cérebro” sugerido pelo Congresso dos Estados Unidos para os anos de 1990 a 1999. Houve um avanço tecnológico, desenvolvendo e aperfeiçoando técnicas de neuroimagem, de eletrofisiologia, da neurobiologia molecular, também no campo da genética e da neurociência cognitiva, proporcionando um rápido avanço do conhecimento.

Nesse sentido, a neuroeducação apresenta uma nova perspectiva da figura docente como sendo agentes de transformações neurobiológicas que direcionam à aprendizagem, a assentir que o cérebro é um órgão da aprendizagem. O conhecimento das funções cerebrais, das suas organizações, dos mecanismos da linguagem, memória, atenção, emoção, dos transtornos e distúrbios, ajudará e tornará a ação do professor inclusiva, adaptativa e com mais objetividade.

Foco voltado a pedagogia

É importante esclarecer, porém, com o foco voltado a pedagogia, que não surgirá uma nova pedagogia, com resultados e certezas prontas para as dificuldades de aprendizagem, mas sim, no âmbito de auxiliar na ação, sugerindo intervenções, talvez nunca pensadas, com estratégias pedagógicas que levam em consideração o funcionamento desse órgão tão complexo que é o cérebro humano.

As pesquisas neuroeducacionais já estão contribuindo diretamente nas estruturas organizacionais das aulas e como elas estão sendo desenvolvidas. É de grande valia a contribuição da neuroeducação sendo fundamental para delinear práticas mais factíveis de acordo com as capacidades e limitações dos educandos, tendo em consideração os fatores neurobiológicos, as habilidades cognitivas e comportamentais.

A neuroeducação não só tem um papel importante na formação dos futuros e atuais profissionais que atuam na formação do ser biopsicossocial, como também, a todos aqueles que participam nesta formação. O processo neuroeducacional tem ainda bastante desafios a cumprir e ultrapassar.

“Se uma pessoa não pode aprender da maneira que é ensinada, é melhor ensiná-la da maneira que pode aprender.” Marion Welchmann

E MAIS…

Por uma práxis pedagógica mais efetiva

A diversidade bate à porta. Hoje, com o avanço das neurociências e das pesquisas neuroeducacionais, possibilita uma práxis pedagógica mais efetiva, representando a articulação entre a teoria e a prática pedagógica, sabendo lidar com as deficiências, com as dificuldades de aprendizagem, como por exemplo, os transtornos específicos de aprendizagem, como a dislexia e a discalculia. O conhecimento neuroeducacional permite um novo olhar pedagógico transcendente que fundamentará o real contexto do processo de aprendizagem que é o conhecimento cerebral e suas estruturas nervosas.

Referências
A teoria de Piaget. In: CARMICHAEL, L. Manual de psicologia da criança, São Paulo: EPU, EDUSP, 1975. V. 4, Desenvolvimento Cognitivo 1.
COSENZA, R.M, GUERRA L.B. Neurociências e Educação: como o cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed; 2011.
PEDRO, W. Guia prático de neuroeducação. Neuropsicopedagogia, Neuropsicologia e Neurociência. Rio de Janeiro, WAK editora; 2017
MAIA, H. Neuroeducação e Ações Pedagógicas. Coleção Neuroeducação – volume 4. Rio de Janeiro, WAK editora; 2014