Segundo Relvas (2012), a neurociência quando relacionada com a educação gera meios para o educador tornar-se um mediador do como ensinar com qualidade por meio de recursos pedagógicos.

Assim o educador poderá estimular o estudante a pensar melhor e com qualidade. Ainda de acordo com Relvas (2012), os estímulos extrínsecos, quando relacionados e aplicados no cotidiano, podem ser transformados em uma aprendizagem significativa e prazerosa no processo escolar.

O educador moderno deve compreender que a aprendizagem e o comportamento acontecem no cérebro.

Cérebros em sala de aula

A neurociência e o desvendar dos estudos dos cérebros em sala de aula podem e muito ajudar para que o educador tenha a possibilidade de compreender melhor o como ensinar, já que existem diferentes formas de se aprender. O educador deve entender essa complexa ligação entre cognição, memória, inteligências, habilidades, aprendizagem, comportamento e novas tecnologias, e como observador e identificador das dificuldades da aprendizagem, vendo esses não como fracassos, mas como uma possibilidade de reorganização desse ser pensante, que sente e vive nessa integridade social e cultural.

A sala de aula precisa ser reconfigurada para se tornar um local que possibilite que essas novas tecnologias gerem interfaces possíveis com a aprendizagem (RELVAS, 2012).

A cada dia as Neurociências desvendam mais sobre o sistema nervoso e colabora com outros campos. Exemplo: Educação – Neuroeducação, Psicologia – Neuropsicologia, Biologia – Neurobiologia, Química – Neuroquímia – Medicina – Neurologia, entre outros; mostrando e afirmando a importância e a complexidade funcional do conhecimento do sistema nervoso.

Em específico, Sistema Nervoso Central, no funcionamento cerebral. E segundo Relvas 2012, esses avanços nos estudos das neurociências vêm provocando uma nova visão no entender do funcionamento do encéfalo, na cognição, no pensamento, na emoção, na aprendizagem e no comportamento.

Técnicas modernas

O desenvolvimento de técnicas modernas, Relvas (2009, p. 16 e 17) ressalta “como é importante conhecer o funcionamento dos estímulos cerebrais […] o estudo do desenvolvimento e os marcos da maturação cerebral, das dificuldades para a aprendizagem e da plasticidade cerebral”. Assim, destaca em seus estudos a neurociência como aquela que pode: “[…] atender às necessidades dos professores, com enfoque neurobiológico e multidisciplinar, tratando da aprendizagem normal e seus transtornos. […] a Neurociência vem revisando, por meio da Neurobiologia cognitiva, a Neuropsicologia comportamental, a Neurofisiologia e a Neuroanatomia como o humano aprende e ensina, efetivamente, nos processos dos contextos vitais”. (RELVAS, 2009, p 17) De acordo com Carbonell (2002), visamos a inovação,

E com a colaboração das neurociências, a educação possui embasamento científico para a compreensão e desenvolvimento de uma aprendizagem mais significativa; uma vez que observamos o quão complexo e amplo é o funcionamento do encéfalo. O educador, em seu planejamento, deve estabelecer metodologias de ensino sensibilizando-se com os educandos; tendo em mente que são seres constituídos de uma biologia cerebral em constante movimento e transformação, possuindo conexões nervosas que nunca estancam.

Estimular o aprender é uma ação e reação para todos os comprometidos com a educação. Existe a necessidade de se conhecer o tripé dos sistemas para uma construção do saber. O primeiro aspecto é o sistema da informação, o segundo é a compreensão dos sistemas biológicos e o terceiro é relacionado ao cotidiano, a cibernética. Diante desse tripé, é fato que as dificuldades de aprendizagens podem ser resolvidas ou ao menos minimizadas se os educadores tiverem seu olhar focalizado em sala de aula como neuroanatomista.

Sendo assim, mantendo a ação de promover o desenvolvimento dos diversos estímulos neurais, compreendendo os processos e os princípios das estruturas do cérebro, conhecendo e identificando cada área funcional, visando estabelecer rotas alternativas para a aquisição da aprendizagem, lembrando-se de usar recursos sensoriais como instrumentos do pensar e do fazer de forma agradável aos educandos. Estudos relacionados aos processos neurobiológicos sobre o aprendizado.

Estruturas cognitivas

Os estudos das neurociências vêm contribuindo para o trabalho na sala de aula, nas compreensões das estruturas cognitivas, motoras, afetivas e sociais. Os professores devem conhecer esse imenso universo que é o cérebro para que possa definir e organizar melhor seus conceitos de aprendizagem, identificando por meio do SNC os processos e modificações mais ou menos permanentes, permitindo a melhor adaptação do indivíduo em seu meio como resposta a essas solicitações internas e/ou externas do organismo. Quando um estímulo já é conhecido, desencadeia uma lembrança. Quando o estímulo é novo gera uma mudança. Assim conseguimos entender a aprendizagem do ponto de vista da neurociência (RELVAS, 2012, pág.20).

A neurociência nos explica bem o desafio do educador moderno em sua função na sala de aula. “As informações são desenvolvidas pelo cérebro cognitivo, emocional, motor, afetivo e social. Porém, novas tendências que apontam para esse século é o desenvolvimento do cérebro criativo, autor, inventivo, intuitivo, genial, que vivencie as incertezas, gerenciando frustações cotidianas, sem perder a autoestima. Um cérebro autopoético, autorregulador e reorganizado, adaptável. ” (RELVAS, 2012, pág. 21)

Relvas (2016) explica que o conhecimento e a aplicação da neuropedagogia transcorrem por uma visão neurocientífica do processo de ensinar e aprender. Contribui na identificação de uma análise biopsicológica e comportamental do aluno por meio dos estudos de anatomia e da fisiologia do SNC. Explica, modela e descreve os mecanismos neuronais que sustentam os atos perceptivos, cognitivos, motores, afetivos e emocionais da aprendizagem. E todo esse processo ocorre em sala de aula.

Sujeito cerebral

Com os estudos da neurociência nas últimas décadas, tem sido possível compreender que o aluno atual é o “sujeito cerebral”. É ele que argumenta, questiona e que tem autonomia em aprender; tendo o professor a função de promover desafios, ações reflexivas e permitir o diálogo entre emoções e afetos em um corpo orgânico e mental que é o meio dessas reações. Para que as informações sejam transformadas em aprendizagens, as aulas precisam ser envolvidas de emoção, pois quando as informações possuem significado na vida do aluno e este usa do caminho da emoção, as informações jamais serão esquecidas. Lembrando assim o professor que existem várias maneiras de ensinar, pois existem várias formas de se aprender. (RELVAS, 2016).

Existem condições primordiais que justificam a necessidade de o educador possuir conhecimento que seja sobre o funcionamento cerebral.  Relvas (2009), lembra que cada criança tem um tempo de aprender e que a aprendizagem para ser assimilada e compreendida de verdade, leva-se mais algum tempo, com a necessidade de revisão e exploração do conteúdo em diferentes formas.

Esse motivo é explicado pela Neurociência da seguinte forma: o córtex pré-frontal, responsável por autorregular alguns comportamentos, ainda não está completamente formado. Sendo assim, os estudantes, principalmente as crianças, mantêm-se um tempo reduzido de concentração em tal explicação (momento).

Práticas pedagógicas

O educador deve ter em mente que as práticas pedagógicas não são alteradas diante das informações das neurociências voltadas a aprendizagem. As práticas serão as mesmas; o que mudará será a intenção e o planejamento como as quais serão pensadas. É importante lembrar que o aluno deve-se sentir envolvido com as ações e o aprender. Pois aprender é um ato desejante e esse só ocorre se o aluno 31 estiver interessado, com vontade de aprender. Sendo assim, o professor deve caminhar pelo despertar do interesse no aluno, por meio das conexões afetivas e emocionais do sistema límbico; liberando serotonina e dopamina (mensageiros químicos) relacionados a satisfação, prazer e ao humor. Criança feliz, envolvida e interessada aprende mais e melhor.

Estudar a neuro aplicada à pedagogia é fazer uma releitura das principais teorias da aprendizagem, mas também é reconhecer que é uma ciência que estuda a aprendizagem no contexto do processo químico, celular, anatômico, funcional, patológico, comportamental do sistema nervoso, demonstrando assim uma visão integral do aprendente.

Uma abordagem da neurociência aplicada a aprendizagem compreende o entendimento da formação da inteligência, da emoção e do comportamento no contexto escolar, dentro dos aspectos biológicos, psicológicos, afetivos, emocionais e social. E isso é gerar a possibilidade de o educador viabilizar uma habilidade nova no sujeito, maximizando o potencial do funcionamento cerebral. Isso porque ensinar e aprender exige planejamento de diferentes e maneiras de solucionar desafios e de criar/ reproduzir atividades que estimulem diferentes áreas do cérebro, com o intuito de desvendar eficazmente o desenvolvimento das potencialidades e a capacidade de pensar (RELVAS, 2016)

Para uma aprendizagem significativa, a aula tem que ser prazerosa, bem-humorada, elaborada e organizada estrategicamente a fim de atender os movimentos neuroquímicos e neuroelétricos do estudante. O cérebro tem sede por novas informações. Para não inibir o potencial de inteligência e afetividade no processo de aprender, o professor precisa levar seus alunos à duvidas e à curiosidade. Sem esquecer que o início da aula é muito importante para manter a atenção do seu aluno e tê-lo concentrado para perceber as novas informações.

Significado e coerência

O estudante precisa encontrar significado no que ele estuda, deve encontrar coerência nas informações recebidas, caso contrário essa irá se perder. Quando se fala que cada indivíduo possui um ritmo para o aprender, isso está relacionado as sinapses que ocorrem através do interesse do cérebro da recompensa e o desejo do sistema límbico e cognitivo; o que não combina com o currículo escolar, que impõe aos alunos uma aprendizagem no mesmo tempo de aula e de conteúdo. (RELVAS, 2016)

Relvas (2018) traz que estudos neurocientíficos voltados para a pedagogia colaboram para o reconhecimento de que todos são capazes de apender no processo escolar, e colabora que o principal ensinamento na área da neurociência é que o cérebro possui uma capacidade de sofrer modificações muito maior do que se pensava antigamente.

Inclusive se refere à fase adulta também dizendo que “… Hoje está claro que, antes mesmo, o cérebro adulto, o qual se pensava ser imutável, pode ser sede de renovação, a partir de algumas áreas com capacidade para gerar novas células.”. Essa plasticidade cerebral vem gerando grandes esperanças e expectativas em diversas áreas de conhecimento, principalmente pensando em saúde mental. Além disso, gera possibilidade de pesquisas para a utilização de técnicas de estimulação e reabilitação que potencializem as habilidades já existentes para o desenvolvimento de determinadas funções.

E MAIS…

A neurociência junto com a Educação

A neurociência junto com a Educação promove caminhos para o educador ser um mediador capaz de ensinar com qualidade, utilizando recursos pedagógicos que estimulem o estudante a pensar com compreensão. E, torna-se fundamental para o professor promover os estímulos corretos no momento certo para que o aluno possa integrar, associar e entender.

Esses estímulos, podem ser transformados em uma aprendizagem significativa e prazerosa no processo escola, e a relação de mais estímulos e aprendizagem, não está ligada com a quantidade, mas sim com a qualidade que têm esses estímulos.

No olhar na neurociência, não existe “nivelamento” de aprendizagem, pois somos diferentes nos contextos biológicos, psicológicos, emocionais, afetivos e sociais. […] Se você é professor e educador, conhecimentos básicos da ciência sobre aprendizagem, são essenciais para seu trabalho, já que seu objetivo é proporcionar aprendizagem a seus estudantes e, de preferência, da forma mais otimizada possível

 “[…] a Neurociência vem revisando, por meio da Neurobiologia cognitiva, a Neuropsicologia comportamental, a Neurofisiologia e a Neuroanatomia como o humano aprende e ensina, efetivamente, nos processos dos contextos vitais”. (Relvas, 2009, pg. 17)

Referências
Relvas, Marta P., Sobre o Comado do Cérebro – WAK Editora, 2014, Rio de Janeiro.
Relvas, Marta P., Que Cérebro é esse que chegou è escola? Bases neurocientíficas da aprendizagem – WAK Editora, 2012, Rio de Janeiro.
Relvas, Marta P., Neurociência e Educação: Potencialidades dos gêneros na sala de aula – WAK Editora, 2009, Rio de Janeiro.
Relvas, Marta P., A Neurobiologia da aprendizagem para uma escola humanizadora: Observar, investigar e escutar – WAK Editora, 2018, Rio de Janeiro.