“Abordaremos dois problemas: o do tempo e o do conhecimento conceitual”, explica Henri Bergson na abertura de ‘A ideia de tempo: curso no Collège de France (1901-1902)’, conjunto de aulas proferidas durante aquele ano universitário, em texto inédito do filósofo francês que chega pela Editora Unesp aos leitores brasileiros. “Eles (os problemas) são, como mostraremos, intimamente solidários. Nosso principal objetivo é determinar e analisar a duração e, de outro lado, estudar os conceitos e as ideias. Do estudo da duração, vamos deduzir a inteligência conceitual”, continua.

“Dando seguimento ao curso sobre a ideia de causa, o curso sobre a ideia de tempo tem como traço notável o fato de que aborda de maneira direta, portanto sem o desvio pela exposição e resolução de problemáticas acessórias, aquilo que parece ser a temática central de seu pensamento”, anota o organizador da obra, Gabriel Meyer-Bisch, na apresentação.

“Ao dedicar um curso à ideia de tempo, Bergson não intencionava propor exclusivamente uma espécie de resumo de teses filosóficas que sustentavam as obras já publicadas: tratava-se precisamente de enfrentar outro problema filosófico, ao qual as reflexões sobre a causalidade, expostas entre 1900 e 1901, o conduziram, o que está de acordo, nesse ponto, com o percurso filosófico bergsoniano, que deseja que a resolução de uma dificuldade filosófica anuncie o surgimento da seguinte. A condição de resolução do problema da causalidade, presente desde ‘Matéria e memória’ e que consiste em dizer que a noção tradicional da causalidade supõe a fragmentação artificial de uma realidade indivisa, conduz Bergson, em 1901-1902, a realizar um estudo da ideia de tempo em si mesma”, complementa.

Aulas

Ao longo de 19 aulas, o filósofo trabalha sobre os pilares de duas questões centrais: qual é a natureza da duração e qual é a natureza do pensamento conceitual. “Ora, se essas duas questões estão ligadas, não é apenas porque a primazia do conceito sobre o real em filosofia arrisca sufocar a intuição, cujo sentido propriamente bergsoniano parece surgir nessa época, mas também porque a atividade de fragmentação da inteligência supõe a duração em sua continuidade indivisa, sobre a qual ela deve exercer-se”, assinala Meyer-Bisch.

Diferentemente de outros cursos publicados, somente a segunda metade de ‘A ideia de tempo’ foi datilografada. A primeira parte é uma transcrição de anotações manuscritas de seus alunos. Esse material apresenta, portanto, algumas lacunas, o que aparece claramente na leitura de várias aulas. Apesar disso, não há dúvidas quanto à sua fidelidade ao pensamento bergsoniano.

Sobre o autor

Nascido na França, Henri Bergson (1859-1941) foi filósofo e diplomata. Ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 1927. De sua autoria, a Editora Unesp já publicou ‘A evolução criadora’.

Ficha técnica

Título: A ideia de tempo: curso no Collège de France (1901-1902)

Autor: Henri Bergson

Organização e apresentação: Gabriel Meyer-Bisch

Tradução: Débora Morato Pinto

Editora: Editora Unesp

Páginas: 320