O tabaco é uma das maiores ameaças à saúde pública, sendo responsável pela morte de mais de 8 milhões de pessoas por ano no mundo, seja por doenças respiratórias, cardíacas ou câncer. Largar o vício, no entanto, é tarefa árdua, e as recaídas são frustrantes. Uma boa notícia para quem está tentando abandonar o cigarro é a estimulação cerebral não invasiva (NIBS).
Ex-fumantes que passam por sessões regulares de estimulação cerebral externa têm duas vezes menos chance de voltarem a fumar nos três a seis meses depois de parar de fumar. A constatação foi feita por estudo de pesquisadores do Hospital Universitário de Dijon, na França. A técnica consiste no uso de uma corrente elétrica leve para ativar as células cerebrais que diminuem o desejo por nicotina.
Nesta entrevista, o neurocientista Fabiano de Abreu Agrela explica o funcionamento do procedimento.
PhD em neurociências, mestre em psicologia, doutor e mestre em ciências da saúde nas áreas de psicologia e neurociências com formações também em neuropsicologia e biologia, ele é diretor do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito (CPAH), chefe do Departamento de Ciências e Tecnologia da Logos University International e cientista no Hospital Universitário Martin Dockweiler. Também é professor convidado na Universidad de Aquino Bolivia (Udabol), na Universidad Santander do México, na Escuela Europea de Negocios (EEN), Espanha, e na Fabic (Brasil).
O que leva ao vício em nicotina, por que algumas pessoas são mais propensas que outras e o que explica a dificuldade em largar o cigarro?
A condição ao vício tem relação com a genética. Há quem tenha maiores chances de vícios, principalmente os que tiveram antepassados na família com vícios. A nicotina produz efeitos agradáveis em seu cérebro, mas esses efeitos são temporários, por isso, a necessidade do uso mais constante para mais sensações.
Desde quando e por que vem sendo utilizada a estimulação cerebral não invasiva (NIBS) para o controle do vício em nicotina?
A técnica já existe há muitos anos para tratamento de depressão. Também pode melhorar os tratamentos para condições neurológicas e neuropsicológicas, como acidente vascular cerebral e dor crônica. A ideia de estimular diferentes partes do cérebro com eletricidade não é nova. Esses tipos de tratamentos têm uma história longa. Os primeiros médicos e cientistas, como Cláudio Galeno (o médico romano) e Avicena (o médico persa), não entendiam exatamente por que a terapia elétrica (usando peixe torpedo) era eficaz, mas eles reconheceram que ela poderia ser usada para tratar de forma não invasiva dores nas articulações, dores de cabeça e epilepsia.
Como funciona a estimulação cerebral não invasiva?
Os métodos são a simulação de corrente contínua transcraniana (tDCS), que é a aplicação de uma corrente direta (constante) de baixa intensidade entre dois eletrodos na cabeça, e a simulação de corrente alternada transcraniana (tACS), que vê um fluxo de corrente elétrica constante de volta e adiante. Na estimulação magnética transcraniana, uma bobina de metal é colocada no couro cabeludo do paciente. A bobina gera pulsos magnéticos que induzem correntes elétricas no tecido cerebral. Dependendo da frequência dos pulsos, a atividade na área alvo é aumentada ou diminuída.
Sua utilização é segura?
A estimulação cerebral não invasiva (NIBS) é indolor e segura, tem efeitos colaterais mínimos e tem sido usada em milhares de pessoas em todo o mundo.
Quais outros benefícios a técnica pode trazer?
A técnica também tem como objetivos melhorar a qualidade de vida e reduzir os efeitos de problemas relacionados à fala, deglutição, movimento, cognição e outras funções. Isso pode ser alcançado com uma das duas abordagens: estimulando a área danificada do cérebro para ajudar a restaurar a função afetada ou estimulando uma área diferente do cérebro para compensar a perda de função.