Comentários que comumente ouvimos “aquela pessoa parece muito mais jovem…”, ou mesmo “puxa, ele(a) não está envelhecendo nada bem…, o tempo não foi amigo…” têm recebido respaldos científicos que evidenciam: a “idade biológica” não é necessariamente a mesma que a “idade cronológica” mostram como o processo de envelhecimento é complexo.
Então, surge a pergunta “quais são os preditivos para envelhecermos bem?”, que várias linhas de pesquisas procuram responder. Por exemplo, uma revisão recente dos estudos sobre epigenética e envelhecimento publicada no International Journal of Molecular Sciences revelou que o estilo de vida pode contribuir diretamente na qualidade do envelhecimento, assim como no desenvolvimento de patologias, incluindo câncer, diabetes, osteoporose, cardiopatias e demências.
Transtornos somatoformes
Os conhecidos transtornos somatoformes (antigamente chamadas de doenças psicossomáticas) e vários decorrentes sintomas cardiorrespiratórios, gastrointestinais, lombalgias, dores em articulações, cefaleia, dispneias, tonturas, perda de tônus vital, entre outros, são evidências de como nosso psiquismo pode também degradar a longevidade da existência. Fedor Galkin e colegas publicaram em setembro de 2022 no periódico Aging uma pesquisa que reforça a conexão entre os aspectos físicos e psicológicos do envelhecimento.
Os resultados observados em 12 mil adultos de meia idade avançada mostraram que a infelicidade, a tristeza, a solidão causa danos ao relógio biológico (perda de tempo de vida) superior ao tabagismo. As diversas linhas de pesquisa neste âmbito progressivamente concluem que a saúde psicológica não pode ser ignorada nos estudos de envelhecimento devido ao seu impacto significativo na idade biológica.
Em síntese, mente e corpo estabelecem relações diretas, e a maneira como dialogamos internamente, nos relacionamos conosco e com o entorno pode tanto estender, como antecipar limites, quanto a qualidade e ao tempo de vida. Então surge naturalmente a próxima pergunta: “como promover saúde mental e longevidade com qualidade?”.
Dinâmicas psíquicas
A experiência clínica e diversas linhas de pesquisa trazem contribuições sobre as dinâmicas psíquicas que favorecem o bemestar longevo. Primeiramente, é necessária a resolução de traumas psicológicos relacionados a inúmeros sintomas e comorbidades que degradam a qualidade de vida.
Neste sentido, conforme a literatura “Crescimento Pós Traumático” (Posttraumatic Growth) e as revisões sistemáticas, a psicoterapia como primeira linha de escolha terapêutica pode favorecer resumidamente: reflexões e clareza sobre o sentido e significado da própria existência; maior abertura a novas possibilidades de comportamentos e maior envolvimento nas relações interpessoais saudáveis; mudança positiva na percepção de si com exercícios de apropriação dos seus talentos/qualidades; melhor compreensão da espiritualidade e religiosidade respeitando seus sistemas de crenças; a consciência da própria força e confiar na capacidade para modificar sua vida para melhor. Tais aquisições se mostraram entre os pilares das dinâmicas saudáveis de comportamento.
Comportamentos genuínos
Estudos em neurociências reforçam que o bem-estar humano não é dirigido unicamente pelo resultado material, mas especialmente pela solidariedade, cooperação, caridade e justiça.
A captura de comportamentos genuínos de caridade e altruísmo (sem a presença de observadores) revelaram que os circuitos neurais mesolímbicos – envolvidos nas experiências de bem-estar e recompensa – foram mais ativados em comparação com ofertas injustas ou egoístas de igual valor monetário.
Traços de gratidão
Outros estudos neurofuncionais sobre jogos competitivos também indicaram maior atividade nas áreas frontomesolímbicas em resposta a atitudes generosas, leais e de cooperação.
Levantamentos populacionais sobre bem-estar reportam que os traços de gratidão e índices maiores de cooperatividade estiveram fortemente relacionados à afetos positivos, bem-estar e felicidade.
Em poucas palavras, as várias linhas de pesquisas aqui mencionadas convergem para o seguinte: as pessoas que realmente se sentem bem, fazem o bem, e essa boa dinâmica de comportamento favorece a existência longeva e com qualidade.