Você com certeza já assistiu a um filme com essa premissa: troca de corpos. A Disney já apostou em filmes assim, como “Sexta-feira muito louca” e “Swap: a troca”. A recomendação de hoje poderia muito bem ser um desses, mas o filme escolhido foi “Trocados” (2023), disponível no streaming Netflix. E ele foi escolhido especialmente pelo fato de que não só duas pessoas passam por essa troca, mas sim a família inteira, que precisa encarar a situação caótica depois que um raro evento cósmico faz os pais trocarem de corpo com os filhos adolescentes logo antes do Natal.

No filme, acompanhamos diversas discussões e momentos de tensão entre pais e filhos, com brigas, desentendimentos e os clássicos “você não sabe como é ser eu”. Na trama, iremos conhecer: Jess Walker, uma mulher bem-sucedida, mãe de três filhos e que está próxima de se tornar sócia do escritório de arquitetura onde trabalha; Bill, o patriarca da família, apaixonado por música e que faz de tudo para seu filho, Wyatt, relaxar um pouco da rotina de estudos caóticos para tentar entrar em Yale; CC é a filha mais velha e sonha em se tornar jogadora de futebol da seleção dos Estados Unidos. E, para completar, há ainda um bebê e um cachorro chamado Picles.

Como em todos os filmes com essa premissa, os envolvidos na confusão sentem que não são compreendidos e que não estão sendo ouvidos. Um bom exemplo é que Jess acha que ninguém valoriza seu trabalho, já CC pensa que a mãe não entende o seu sonho de jogar futebol profissionalmente.

Um dia, ao visitar um observatório, se metem em uma grande confusão e, após os planetas se alinharem, todos acordam com corpos trocados. CC vira Jess, Wyatt vira Bill e até o bebê troca de corpo com o cachorro. Para voltarem às suas realidades normais, os membros dessa família precisarão compreender uns aos outros, enquanto lutam por uma promoção de trabalho, uma entrevista para a universidade, um contrato com uma gravadora e um teste de futebol.

Mas qual lição podemos tirar disso? Os protagonistas conseguem desenvolver empatia e compreender melhor a vida de quem vive na mesma casa, mas, como (futuros) psicólogos, será que temos algo a mais a aprender?

Dinâmica invertida

Um ponto que se sobressai no filme é a parentalidade. E como nós poderíamos ajudar esses pais a desenvolverem habilidades e estratégias adaptativas para lidar com as questões emergentes nessa família? Os filhos apresentam uma tendência a serem muitos independentes, com o futuro bem definido e sem nenhuma hesitação em começar essa caminhada sozinhos. Frases como “onde foi que erramos como pais?” aparecem ao longo da trama.

Por outro lado, frases ditas pelos filhos revelam a dificuldade deles se colocarem no lugar do outro. Aqui teremos uma inversão na dinâmica familiar ao mostrar pais que trocam de lugar com seus filhos, proporcionando uma visão inovadora sobre a parentalidade. Essa premissa destaca como a troca de papéis revela as dificuldades e as pressões que cada geração enfrenta.

A parentalidade é um conceito que abrange o processo de criar e educar filhos, envolvendo diversas dimensões emocionais, sociais e práticas. Ser pai ou mãe implica assumir responsabilidades físicas, emocionais e financeiras. Isso inclui prover as necessidades básicas, como alimentação e abrigo, e oferecer suporte emocional e psicológico ao longo do desenvolvimento da criança.

Existem diferentes estilos de parentalidade que influenciam o desenvolvimento da criança: o autoritário enfatiza a obediência e regras rígidas; o permissivo oferece liberdade e pouca disciplina; o autoritativo combina regras e estrutura com apoio e comunicação, promovendo um ambiente equilibrado; o negligente está relacionado à falta de envolvimento e suporte. Cada estilo impacta o comportamento, a autoestima e as habilidades sociais da criança.

A parentalidade desempenha um papel crucial no desenvolvimento emocional dos filhos. Um ambiente amoroso e seguro ajuda a formar crianças mais seguras e resilientes, enquanto um ambiente negativo pode levar a problemas emocionais e comportamentais.

A parentalidade não é estática; exige adaptação às mudanças nas circunstâncias da vida e ao crescimento das crianças. Pais precisam ser flexíveis para ajustar suas abordagens conforme seus filhos amadurecem e enfrentam novos desafios. Os pais modernos enfrentam desafios únicos, como o equilíbrio entre trabalho e vida familiar, a influência da tecnologia e as pressões sociais, como vimos no filme, que podem complicar a dinâmica familiar e exigem novas abordagens.

Compreensão

Em “Trocados”, os pais, ao vivenciarem a vida dos filhos, ganham uma compreensão mais profunda das lutas adolescentes, como pressão social e busca por identidade, desconstruindo preconceitos e expectativas que muitas vezes impõem. Ao entenderem os desafios um do outro, eles são levados a melhorar a comunicação, promovendo diálogos mais abertos e sinceros sobre sentimentos e expectativas. Já os filhos, ao assumirem as responsabilidades dos pais, aprendem sobre maturidade e decisões, enquanto os pais percebem a importância de dar espaço para a autonomia dos filhos. Essa troca estimula o crescimento pessoal de ambos os lados.

Como (futuros) psicólogos, podemos ajudar esses pais oferecendo suporte e orientação em várias áreas, como orientação parental, desenvolvimento de habilidades de comunicação, trabalhando a empatia, intervenção em comportamentos desafiadores, orientação de acordo com as fases de desenvolvimento dos filhos, gerenciamento de conflitos, suporte em crises, promoção de autocuidado e muito mais. Com orientação adequada, os pais podem se sentir mais confiantes em suas habilidades parentais, promover um ambiente familiar saudável e, por consequência, facilitar um desenvolvimento mais positivo para seus filhos.

Para a família do filme “Trocados”, diversas atividades de orientação parental podem ser implementadas para fortalecer as relações e promover a compreensão mútua, como círculo de conversa, feedback, atividades de resolução de conflitos que podem ser aplicadas em casa, reflexão sobre os valores e escuta.

Pais e filhos: 90 cards para descomplicar a relação é um recurso lúdico para interação entre pré-adolescentes/adolescentes e seus pais. De autoria da psicóloga Mirele Rodrigues de Melo e publicado pela editora RIC Jogos, pode ser utilizado para quebra de gelo e aproximação familiar em início de terapia ou para tratar questões que vão surgindo ao longo do processo terapêutico.