A plasticidade neural é a capacidade de organização do sistema nervoso frente ao aprendizado ou a uma lesão. Essa organização se relaciona à modificação de algumas conexões sinápticas. A plasticidade não ocorre apenas em processos patológicos, mas assume também funções extremamente importantes no funcionamento normal do indivíduo.
Nos processos de modificação do cérebro pós-natais, como consequência da interação com o meio ambiente, formam-se conexões durante o aprendizado motor consciente (memória) e inconsciente (automatismo). Esses são exemplos de como funciona a neuroplasticidade em indivíduos sem alteração do sistema nervoso central. É importante salientar que esses dois processos descritos acima necessitam da estimulação periférica para dar o “feedback” neuromotor (resposta motora).
Inicialmente, a organização cerebral e o funcionamento do sistema nervoso eram considerados definidos geneticamente, isto é, o homem teria um programa predeterminado que definia a sua estrutura e as funções das várias áreas. O que caracterizava o cérebro era a estabilidade das suas conexões, que eram consideradas imutáveis. Acreditava-se também que o cérebro era um órgão que atingia o auge da sua capacidade e força ao fim da puberdade, estando condenado a se degradar progressivamente à medida que a idade avançava.
Cérebro “maleável”
Com o avanço da ciência, foi constatado que o cérebro é um órgão “maleável”, modificando-se com as experiências, percepções, ações e comportamentos do ser humano. Ou seja, a relação que o homem estabelece com o ambiente produz alterações no sentido de desenvolver uma adaptação mais eficaz.
Foi a partir da ideia de maleabilidade do cérebro que se chegou ao conceito de plasticidade cerebral – a capacidade do cérebro em se remodelar a partir das experiências do sujeito, reformular as suas conexões em função das necessidades e dos fatores do meio ambiente, permitindo, assim, uma aprendizagem ao longo da vida.
De maneira a ilustrar esse saber, podem-se apontar alguns exemplos de plasticidade neural intencional, como uma pessoa ao aprender a tocar um instrumento musical. Evidentemente, não se nasce sabendo. Por isso, é preciso estudar, com esforço e perseverança, para que, a partir daí, ocorra a neuroplasticidade. Novos neurônios especializados, denominados de neuróglias, são ativados e recrutados para desenvolver aquela nova função. Então, o sistema nervoso central se organiza a fim de aprender algo novo.
Cérebro, corpo e sentimentos juntos
A escola tem um importante desafio, que é o de aproveitar o potencial de inteligência de seus alunos para conquista do sucesso no processo de aprendizagem, sendo os professores os principais agentes para o desenvolvimento de projetos de aprendizagem dos seus estudantes. Quando compreendem que aprendizagem envolve cérebro, corpo e sentimentos, eles adotam uma ação mais competente, levando em conta a influência das emoções para o desenvolvimento na construção do conhecimento.
Quando assiste à aula, o educando recebe informações de todo o tipo, tanto visuais como auditivas. Elas se transformam em estímulos para o cérebro e circulam no córtex cerebral antes de serem arquivadas ou descartadas.
Se o educando não aprende um conteúdo, é porque não encontrou nenhuma referência nos arquivos já formados para abrigar a nova informação e, com isso, a aprendizagem não ocorreu. Não adianta insistir no mesmo tipo de explicação, cabe ao professor oferecer outras conexões, usando abordagens diferentes e estimulando outros sentidos. Daí a importância de investigar os conhecimentos prévios da turma, recordar conteúdos de aulas anteriores, para formar os “ganchos” e dispor de diferentes estratégias de ensino.
Diferentes potenciais
No processo de aprendizagem de cada indivíduo, o cérebro possui diferentes potenciais de inteligência, já que todo ser humano possui habilidade para expandir e aumentar sua própria aprendizagem. Porém, é importante afirmar que, segundo o psicólogo norte-americano Carl Rogers, “o aluno deve ter desejo de aprender; e o professor, como o facilitador do aprendiz, deverá ser o motivador da aprendizagem, apreciando, escutando e respeitando o estudante, criando um estabelecimento de vínculo positivo, confiando na capacidade de crescer e aprender de cada indivíduo”.
Aspectos e procedimentos pedagógicos para estimular a Plasticidade Intencional Cerebral.
1 – A sala de aula é um espaço de encontro, seja presencial ou virtual entre conhecimentos diversos.
2 – A relação pedagógica, composta pela tríade professor – alunos – conhecimentos envolve diferentes dimensões, as quais podemos destacar:
Afetiva, relacionada às expectativas de cada um;
Pedagógica, relacionada aos recursos didáticos e diferentes estratégicas de ensino que o professor tem à sua disposição;
Epistemológica, relacionada às características do conhecimento que se deseja ensinar.
Todas essas dimensões estão envolvidas na tomada de decisões do professor e em suas ações, o que exige um trabalho de constante aperfeiçoamento.
Como pode ser a atuação do professor nos procedimentos pedagógicos?
1 – Criar em sala um clima favorável para a aprendizagem, eliminando a insegurança do educando em suas respostas ou perguntas: maximizando a relação afetiva e minimizando as diferenças.
2 – Dividir a aula em espaços curtos, nas quais se propõem atividades diversificadas. Uma breve exposição, seguida de questionamentos pertinentes, elaborando sínteses sobre o tema ou algum jogo pedagógico operatório é sempre mais eficiente do que uma exposição prolongada.
3 – Habituar o educando a fazer da caneta ou lápis sua melhor memória, mostrando-lhe os usos consistentes de uma agenda, cobrando seus recados, reforçando múltiplos lembretes, cognitivos ou não. A lousa pode ser, em algumas oportunidades, o modelo ideal da agenda organizada.
4 – Desenvolver hábitos estimuladores da memória de maneira lenta e progressiva, sendo também ideal se fizer com exercícios físicos.
5 – Respeitar as particularidades de cada educando e a maneira como sua memória melhor trabalha.
6 – Reservar os últimos minutos da aula para conversar sobre o conteúdo estudado possibilita que o novo conhecimento percorra mais uma vez o caminho no cérebro dos estudantes. Assim, eles fazem uma releitura do que aprenderam.
7 – Estabelecer relações entre novos conteúdos e aprendizados anteriores faz com que o caminho daquela informação seja percorrido novamente (evocação), tornado mais fácil seu reconhecimento.
O professor precisa reconhecer os estágios da aprendizagem de seus educando, que são:
- Subaprendizagem: o sujeito está em contato com o assunto, mas não prestou atenção. Portanto, não assimilou.
- Aprendizagem simples: o sujeito entrou em contato com o assunto, prestou atenção, mas não memorizou.
- Superaprendizagem ou aprendizagem ideal: o sujeito entrou em contato com o assunto, prestou atenção, assimilou e memorizou.