Penso que não há nada a comemorar no Dia do Psiquiatra. O despreparo geral, a doutrina arrasada, os pacientes entupidos de remédios e ainda por cima os deslumbrados com o mundo virtual, que exercem a especialidade online, pensando que estão em alto grau de desenvolvimento.

Tudo fruto da mentalidade chinfrim a ignorar a solidez do mundo real e aceitar a superficialidade do mundo virtual. Deram nesses psiquiatras cujos cérebros foram lavados pelas indústrias farmacêuticas, as quais lhes inculcaram a máxima de que o psiquismo humano é uma espécie de amontoado de neurônios banhados por neurotransmissores e, portanto, tomem remédios.

Psiquiatria moderna

A geração atual pensa que Kraeplin, Bleuler, Schneider e Jaspers — grandes imortais que produziram obras atemporais —, foram zagueiros da antiga seleção alemã de futebol. E isso não é piada. Pudera, as suas “bíblias do saber científico” são os imprestáveis Classificação Internacional de Doenças (CID) e o seu arremedo americano, Manual Diagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais (DSM, sigla em inglês). Deles provém praticamente todo o conhecimento dessa geração perdida de psiquiatras.

O pior de tudo é que a maioria defende esses catálogos porque feitos por centenas, milhares, de “professores e cientistas”, que se reuniram para dizer o que é o que não é transtorno mental. De fato, isso ocorreu e foi na base do levanta a mão quem está de acordo, para escolher o nome da doença e os critérios de encaixe do paciente. Equivale a dizer que em uma maratona os corredores de ponta precisam diminuir a marcha para ficar na massa compacta, o que é ridículo.

O saber científico

Filósofos, cientistas, artistas, gênios do saber, esses que de fato impulsionam as ciências, as artes e as letras a dar grandes saltos são homens unos, virtuosos, acima da média e mais ainda da escumalha.

Desafia-se o prezado Leitor a declinar o nome de um só psiquiatra, entre os milhares, que participou da feitura daqueles monstrengos, CID e DSM e seus imprestáveis instrumentos e protocolos de aferição. A qualidade foi trocada pela quantidade e deu no que deu.

Sim, no Dia do Psiquiatra nada há para ser comemorado.

Símbolo do progresso

Outro aspecto hodierno dominante é que a Psiquiatria tornou-se tão inocente que se pensa melhor do que era, dando-se ares de desenvolvida porque tem e utiliza a inteligência artificial como símbolo do progresso. Ora, o fato de o mundo virtual parecer extraordinário, inteligentíssimo, altamente capaz de ir a paragens que muitas vezes a mente humana nem em pensamento pode atingir, traz a falsa ideia de que tudo o que vem de lá é bem evoluído. Erro brutal, ignorância de que a máquina, por mais aprimorada que seja ou que venha a ser, jamais poderá compreender ou tocar singularidades unas por natureza e dar afeição e simpatia a quem precisa.

E mais…

Conhecimento dos mestres

Caminha cegamente no presente o psiquiatra que não se apoia no conhecimento dos mestres construtores da especialidade, empolgado com o mundo virtual, pensando que está no topo da cadeia do saber. Sente-se onipotente e orgulhoso, mas está, isto sim, tateando o caminho à frente, usando a tecnologia como bengala de sua formação deficiente.

As gerações futuras de especialistas dessa área hão de vingar esta que se perdeu na noite escura da superficialidade, da rendição à CID e ao DSM, do abuso das prescrições de psicofármacos, da ingenuidade em crer que a inteligência artificial intui, sente, percebe e pensa melhor do que a do homem. Aí sim poder-se-á bradar viva o Dia do Psiquiatra, hoje não.