A psico-oncologia é uma subespecialidade da oncologia, que estuda o impacto do câncer no funcionamento emocional do paciente, de sua família e dos profissionais envolvidos em seu tratamento, bem como o papel das variáveis psicológicas e comportamentais na incidência e sobrevivência do câncer.  A Portaria 3.535 do Ministério da Saúde – Projeto Expande (2000), juntamente com o Decreto 741/05 preconizam a obrigatoriedade de suporte psicológico ao paciente com câncer seja ele atendimento na rede pública ou privada através de planos de saúde.

Situação existencial

O psicólogo da área de oncologia procura compreender a situação existencial e subjetiva do indivíduo, bem como sua relação com a doença. Este profissional tem um olhar diferenciado diante das reações do paciente à doença e à hospitalização, reações estas que podem afetar o tratamento e a adesão do paciente a este. O psicólogo oferece uma escuta diferenciada e que permite ao paciente falar, o que por si só, já produz efeitos terapêuticos. Também é papel do psicólogo de oncologia auxiliar o paciente a encontrar recursos de enfrentamento da nova situação que se apresenta. Trata-se de um acolhimento de demandas não médicas, que faz com que o paciente se sinta olhado e cuidado, demandas que estão para além do dito. O sofrimento psíquico do paciente não pode ser ignorado, mas se isto ocorrer, o paciente se sentirá ainda mais vulnerável e desamparado, o que influencia diretamente na eficácia do seu tratamento, que depende do estado emocional deste.

Dificuldades de adaptação

A notícia de um diagnóstico de câncer é traumatizante por conta de todos os estigmas e significados relacionados à palavra câncer. O paciente oncológico sofre perda da autoestima e mudanças da imagem corporal por conta de ser portador de uma doença estigmatizadora e das alterações físicas desencadeadas pelas cirurgias e pelo próprio tratamento. Muitas vezes, o sujeito não se reconhece mais, não se enxerga diante daquela nova imagem e tem dificuldades de se adaptar à sua nova conformação corporal. Sofre também de dores, estresse e ansiedade. O medo da morte está sempre presente mesmo quando se tem o diagnóstico de uma doença em estágio inicial, pois o câncer traz à tona a realidade da finitude, a possibilidade de morte.  

Diante do diagnóstico

Por conta das possíveis mutilações e das mudanças corporais desencadeadas pelo próprio tratamento, Frente ao adoecer inesperado é necessário tempo para elaborar as intervenções, as mudanças e todas as mutilações que ocorrem sem que o paciente tenha controle.

Diante do diagnóstico de câncer ou da evolução da doença o sujeito perde a certeza de si, visto que o adoecimento por câncer traz consigo a relação com o intraduzível da proximidade da morte, do fantasma que silenciosamente invade o corpo, que deforma, ameaça e que não pode ser expulso.  Perder um órgão ou um membro é, muitas vezes, da ordem do inaceitável e do incompreensível para algumas pessoas, o que pode fazer com que o paciente fique paralisado diante das deliberações acerca do seu tratamento. Diante de tudo isto, é necessário um trabalho psíquico para que o sujeito assimile sua nova condição, reorganize-se e crie novos modos de viver.

Vida social comprometida

Muitas vezes, é necessário que o paciente interrompa alguns planos de vida por conta do tratamento, algo que também é causador de sofrimento. Os âmbitos social e financeiro também necessitam de readequação, uma vez que a vida social pode ficar comprometida por falta de disposição e por conta dos cuidados necessários com o sistema imunológico. A situação financeira muitas vezes precisa ser readequada por conta dos gastos extras desencadeados por uma doença grave, ainda que o paciente possa contar com serviços públicos ou planos de saúde. O impacto financeiro ainda é maior quando o adoecido é o provedor principal do lar.

O psicólogo que atua em oncologia não trata somente o paciente, mas também a família e ainda a própria equipe que acompanha o processo. Como membro participante da equipe, este também necessita de cuidado. A equipe deve ser cuidada, pois a convivência com situações limites afetam diretamente suas vidas, o que pode acarretar sentimento de frustração, impotência, revolta e fracasso.

E MAIS…

Adoecimento familiar

Além de cuidar do paciente, é preciso cuidar do entorno familiar, tanto nos casos curáveis quanto naqueles encaminhados para cuidados paliativos. Quando alguém tem uma doença grave, pode-se falar em adoecimento familiar, pois os familiares mais próximos inevitavelmente serão afetados pela doença, visto que cuidar de um familiar gravemente enfermo traz tensões na dinâmica familiar, bem como na alteração dos papéis. É importante salientar que o cuidar pode acarretar adoecimento físico e psicológico e desencadear quadros como:  depressão, ansiedade, estresse, disfunções do sono, redução da qualidade de vida, isolamento social, dentre outros. Já é sabido que os cuidadores que não são bem assistidos nos períodos críticos, como internações em UTI, fim de vida do paciente, apresentam maiores complicadores na elaboração do luto a posteriori.