Nos dias atuais ainda somos surpreendidos com casos de racismo. A cor da pele, o tipo de cabelo, o corpo, os penteados são alvos de julgamentos discriminatórios.

O racismo é fruto de uma hierarquia que foi construída ao longo dos séculos discriminando os seres humanos.

Nossas crianças e adolescentes nascem e crescem em uma sociedade racista e precisamos aprender sobre como melhor educá-las.

Para isso trago sugestões para a escola e para as famílias, que juntas têm um papel importante nessa formação.

Estudar nossa história

A escola pode promover centros de estudos para todo o corpo docente. Os professores e professoras precisam estudar e entender que as bases do racismo brasileiro se assentam em quase quatro séculos de escravidão africana. Isso significa que nossa sociedade foi fundamentada na exploração e violência dirigida às pessoas negras. O letramento racial é peça chave para os profissionais da educação mudarem suas práticas pedagógicas.

  • Caixas de objetos africanos e afro-brasileiros

Colocar em uma caixa algunsbrinquedos e/ou objetos associados à cultura africana e afro-brasileira, como por exemplo instrumentos musicais (pandeiros, chocalhos, tambores, afoxé, agogô, caxixi e outros que forem acessíveis), livros, tecidos africanos, bonecos e bonecas com roupas típicas de algumas regiões africanas. Em pequenos grupos as crianças e os adolescentes podem retirar os objetos da caixa e pesquisar sobre eles, trocar ideias e interagir.

  • Jogos da memória

Os jogos da memória podem explorar personalidades negras como cientistas de diversas áreas do conhecimento. Em cartões ou em modo virtual (há vários programas gratuitos)  é possível elaborar jogos que identifiquem cientistas negros e negras que produziram conhecimentos científicos. Alguns exemplos como Mae West que fez parte da equipe que criou o GPS. Jaqueline Goes de Jesus, uma das coordenadoras da equipe de pesquisadores que realizou o primeiro sequenciamento do genoma do coronavírus circulante na América Latina. Lewis Howard Latimer, um dos pesquisadores da empresa General Eletric Company que patenteou a lâmpada de filamento de carbono. Rita dos Anjos, que recebeu o prêmio “Loreal Para mulheres na ciência”, categoria física, entre outros.

A educação antirracista para além da escola

Na educação antirracista, a escola não pode e nem deve estar sozinha. A família também precisa educar as crianças e os adolescentes em prol de reflexões a respeito de ações antirracistas. Destaco 5 sugestões de ações contínuas para as famílias cumprirem seu papel fundamental nesta construção.

  • Oferecer brinquedos e jogos

Nas lojas as bonecas em sua maioria são brancas, loiras e com olhos claros. A diversidade brasileira não é explicita nas bonecas vendidas. Oferecer bonecas negras às crianças é mostrar que crianças/bonecas são diferentes e todas são bonitas. Outra indicação são os jogos de tabuleiros africanos como Mancala (Egito), Tsoro Yematatu (Zimbabwe) e Fanorona (Madagaskar) que trabalham estratégia e raciocínio lógico e por serem africanos é uma boa oportunidade de conhecer os países de origem e suas histórias.

  • Ler livros

Além de livros com protagonistas negros, é importante ler histórias com enredos que tragam dados e informações sobre o Continente Africano. É valioso que as crianças e adolescentes vejam personagens negros e negras em lugar de destaque e participantes de histórias que não foquem somente o período da escravização.

  • Assistir filmes e séries

Incentivar as crianças e os adolescentes a assistirem filmes e séries que problematizam o racismo ou tragam personagens principais com autores negros é outra sugestão. Alguns exemplos são “Estrela além do tempo”, “Mulher rei”, “Wakanda”, “Histórias cruzadas”, “Pantera negra”, “Ray”, “Mãos talentosas” e “A vida e a história de Madam C. J. Walker”. Como sugestões de séries que abordam as realidades de pessoas negras indico “Self made”, “Quem matou Malcolm X?”, “Olhos que condenam” e “The get down”. Estes filmes e séries trazem elementos para toda família pensar a questão racial, e ainda acrescento mais alguns: “Encanto”, “Soul”,” Space Jam: Um Novo Legado”, “O Mundo de Greg .

  • Fazer refeições temáticas

O Continente Africano contribuiu efetivamente com a culinária brasileira. Fazer pratos de origem africana pode oferecer um aprendizado diferenciado para as crianças e adolescentes pois as receitas revelam culturas e histórias de diversos países, mostrando inclusive que a África é formada por 54 países e cada um tem suas peculiaridades.

Ações conjuntas entre família e escola

O trabalho conjunto entre a escola e a família é fundamental. A escola pode realizar projetos com temas africanos e afro-brasileiros onde as crianças e os adolescentes terão que fazer pesquisas e descobertas.

A família deve estar vigilante nas produções incentivando a busca, pesquisando e dialogando na produção dos materiais. A culminância dos projetos pode ter a participação das famílias não apenas como ouvintes, mas em atividades como rodas de conversa e troca de experiências. Muitas famílias podem contribuir efetivamente trazendo informações sobre religiosidades, culinárias, músicas, tecnologias, danças, culturas, entre outros.

A escola pode fazer um formulário de pesquisa para conhecer as famílias e convidá-las para serem protagonistas também, principalmente as famílias negras com voz ativa nas atividades que envolvem saberes africanos e afro brasileiros.