A neuroescravização refere-se aos potenciais impactos negativos decorrentes do uso inadequado ou abusivo da neurotecnologia. O constante estímulo visual e cognitivo proporcionado pela utilização prolongada de dispositivos eletrônicos pode levar à fadiga mental, distúrbios do sono e problemas de concentração. Além disso, com o vício em telas, pode contribuir para a dependência tecnológica, prejudicando as relações interpessoais e diminuindo a qualidade da interação social.
Nesta entrevista, o assunto é abordado pela administradora e psicóloga com pós-graduação na área de educação Juliana Russano. Ela é empreendedora e proprietária da Clínica de Terapia Criativa, onde atua como especialista em diagnóstico infantojuvenil com capacitação avançada em análise do comportamento e terapia cognitivo-comportamental (TCC), atendendo crianças e adolescentes.
O que é e como ocorre a neuroescravização?
A neuroescravização é a necessidade de ter experiências constantes que fazem aumentar a dopamina no cérebro, neurotransmissor responsável pela sensação de prazer e bem-estar. Isso, hoje, é alcançado por meio da utilização do celular, pois as redes sociais e os aplicativos foram projetados para estimular a liberação da dopamina, produzindo uma busca contínua por recompensas. O cérebro é autoprotetivo, ele tenta evitar a dor. Se ele encontra um caminho em que isso é possível de uma forma rápida e fácil, fica “treinado” para obter recompensas o tempo todo por meio desse caminho. Isso se torna um vício para o cérebro.
A quem ela mais afeta e por quê?
Ela afeta mais as crianças e os adolescentes, porque estão com o cérebro em pleno desenvolvimento. Estudos da neurociência mostram que a neuroescravização pode modificar o crescimento do cérebro tanto na questão física quanto cognitiva.
Quais são as principais consequências da neuroescravização?
Existe uma grande chance de o uso excessivo de telas na infância e adolescência causar atrasos cognitivos e de aprendizagem, entre outros prejuízos, como aumento da impulsividade e déficit de atenção. Nos adultos, existe um grande prejuízo social, pois as pessoas estão conectadas, mas, ao mesmo tempo, distantes emocionalmente. Também pode gerar ansiedade, depressão e baixa autoestima.
Como preveni-la?
Por meio de atividades alternativas, como ouvir música, fazer um esporte e conversar com uma pessoa próxima; essas atividades também são geradoras de dopamina, mas são escolhas bem mais saudáveis.
E se a neuroescravização já estiver instalada, como tratá-la?
Com hábitos mais saudáveis, mas, em alguns casos mais graves, apenas por meio de auxílio psicoterapêutico.
Quais são os caminhos a serem buscados para encontrar alegria além das redes sociais e das telas do celular e do computador?
Através do desenvolvimento da inteligência emocional: com autoconhecimento, autorregulação emocional e a construção de relacionamentos saudáveis, podemos viver de uma forma mais consciente e plena.