O isolamento social despertou um sentimento de ‘encarceramento’, ‘privação de liberdade’, impossibilidade de se aproximar de demais familiares, amigos, cancelamento de compromissos sociais e profissionais, reestruturação dos eventos (ex: aulas, palestras, agora todos em plataformas online), só vemos um monte de telinhas. Como, felizmente, estamos em momento avançado da tecnologia (não mais aqueles celulares Nokia, que só podia fazer ligações e SMS…), temos aplicativos de mensagens e imagens (stickers) para as mais variadas situações.

Desde o começo da pandemia, quando os governantes começaram a tomar as primeiras medidas de isolamento social (no Brasil, desde 13/03/2020), intensificou-se o modelo de comunicação por mensagens.

De uns meses para cá, comecei a receber stickers bonitos e resolvi guardá-los. Hoje tenho um acervo, e praticamente todos os dias de manhã envio um deles, sempre diferente, para os meus contatos. Alguns falam que ‘adoram’, e me respondem com carinho também; outras pessoas já reclamaram comigo, dizendo que as mensagens eram incômodas e pediram para parar de enviar a elas.

Para algumas pessoas, pode não ser tão agradável ver todos os dias uma figurinha nova, muitas vezes acham que têm ‘obrigação’ de responder (embora minha intenção não seja essa, eu só mando para aqueles a quem quero desejar “bom dia!”, “boa semana”, “feliz sábado”, “feliz domingo”, “obrigada”, etc. Como sou instrutora e intérprete de LIBRAS, também tenho stickers com sinais indicando algumas coisas, como “bom dia”, “obrigado”, “boa noite” etc., e foi extremamente útil para mostrar essa forma de comunicação a pessoas que não conheciam – stickers também são cultura!).

Ato de acolhimento

O fato é que, além de alguns serem bonitos, engraçados, curiosos, indignantes etc., o envio de sticker, dependendo do contexto, pode ser extremamente útil para ambas as pessoas (quem envia e quem recebe), nesse momento de isolamento social. É uma forma de comunicação e vínculo. Um ato de solidariedade com os familiares, amigos, colegas, professores, que estão isolados. Se torna também, em muitos momentos, um gesto de carinho, gentileza e acolhimento com pessoas que estejam passando situações mais difíceis, depressivas, traumáticas, angustiantes. Tenho amigos que tiveram Covid-19 e que sentiram esse acolhimento com os meus stickers. Uma paciente, vítima de violência doméstica e relacionamento conjugal abusivo, relatou se sentir menos deprimida ao receber mensagens, mesmos que as mais simples com os stickers.

Outras pessoas que tiveram familiares que faleceram ou estão internados em estado grave em hospital em decorrência da Covid-19 também descrevem um sentimento de animação ao receber o acolhimento em forma de stickers. As mensagens as ajudam a atravessarem por esses momentos trágicos com mais coragem.

Enfim, trocas de mensagens, nesse período de isolamento social, é uma forma de ser ‘lembrado’, seja por uma mensagem de carinho, ânimo, fé, humor (alguma piadinha!), mensagem religiosa, de conforto, de esperança, de motivação profissional (ex.: incentivar os estudos e pesquisa, valorizar a competência profissional), não cultivar sentimentos ruins (ex.: mágoa, raiva, desejo de vingança), reflexões sobre realidades da vida, e que, em muitos momentos, é exatamente o que a pessoa está precisando receber.

Obviamente, como eu falei, tudo depende também do contexto. Stickers irônicos, sarcásticos, fazendo ‘pseudo’-brincadeiras com os outros por causa de uma determinada situação (ex: o time daquela pessoa perdeu o jogo) podem não ser bem recebidas. Há o risco de intensificar rivalidades, animosidades, conflitos familiares, estresse. Nesse período em que os nervos estão ‘à flor da pele’, nem vale a pena perder uma amizade, um relacionamento, um namoro, por causa de um sticker…

Respeito ao espaço do outro

Vale lembrar que a internet não é um ‘território livre’, onde todos podemos postar o que quisermos, sem limites. Deve existir respeito, consideração, amizade, alegria e motivação para passarmos por essa ‘tempestade’ da melhor forma possível. Inclusive aceitar que existam pessoas que se sintam incomodadas pela frequência e/ou qualidade dos stickers que enviamos, isso também deve ser comunicado com cordialidade e respeitado.

Essa forma de comunicação estreita os laços de solidariedade. Já que o virtual se tornou mais real do que o físico, vamos continuar assim por um tempo: separados fisicamente, mas juntos digitalmente!

Esse período tenebroso vai passar! Vamos sair dessa, melhores do que nunca!

E MAIS…

O cuidado com o uso das redes sociais

O uso excessivo, mantendo a pessoa muito tempo nas redes sociais, também é um fator preocupante, sabemos que muitas pesquisas apontam isso. Então, as trocas de mensagens devem ser, em si mesmas, adequadas e saudáveis, para não ser um ‘muro de lamentações’, espaço somente de desabafos sem conteúdo, e mais grave, cyberbullying!

Trocar mensagens faz bem à saúde emocional, gera bem-estar e deve ser incentivado de forma saudável, mantendo o espírito de solidariedade e a esperança pelos dias melhores e pelas importantes lições de vida que essa pandemia nos trouxe.