Com a chegada da internet para a população, houve uma mudança radical. O apogeu dos smartphones, a comunicação e as relações tomaram outro caminho.

Tudo se tornou mais rápido, fácil, e colorido, contudo, afastou as pessoas do contato social.

Há uma preocupação e atenção, para a geração atual, que nasceu na tecnologia, no celular e que apresentam graves sintomas e impactos na saúde mental, psíquica e emocional.

Tudo muito rápido

Não há como negar que o celular mudou tudo o que podemos pensar, refletir e imaginar sobre comunicação. A redes sociais e os aplicativos, abriram campos, e conexões, como o mundo. Facebook, instagram (mais conhecidos e usados), aproximaram as pessoas no virtual, e afastaram a vida real.

A geração hiperconectada, tem tudo a sua visão. Basta um simples toque na tela, para entrar numa realidade virtual, ultrapassando lugares, cidades, estados e países. Tudo hiperápido, em demora. Afinal, não se pode perde tempo.

Parece lindo, divertido, legal. Na verdade, assustador, preocupante, frente a um legado de crianças, adolescentes, jovens e adultos que estão praticamente desconectados da vida social.

Como psicanalista, percebo como isso é sério e ultra urgente. Sintomas como ausência de sono, irritabilidade, ansiedade, pânico, medo, isolamento, pensamentos desconexos, são reflexos de uma geração que está sempre conectada.

A afirmação central, deste artigo, é uma alerta, para pais, adultos, ao uso exagerado das crianças e adolescentes do celular. Pode-se, até configurar a afirmação de zumbis, desconectados da realidade e hiperconectados com o virtual. Tudo acontece na tela, ao simples toque.

Não há contato social, interação, e sim, descorporficação, isto é, sem corpo, basta uma foto, ou avatar, e linguagem. É um mundo, divertido, logo solitário, que está levando muitos para o ‘quarto’; crescer em frente a uma tela, presos em seus cômodos, ou melhor em seus quartos. Lá tudo pode acontecer, postar fotos, curtir, descurtir, comentar, conversar, chamada de vídeo, exposição do corpo.

Corroer a criatividade

A infância baseada no celular, está corroendo a criatividade, o brincar, o ser criança. “Então criamos um mundo virtual que satisfizesse os caprichos momentâneos os adultos e deixamos as crianças praticamente indefesas. Agora, somam-se indícios de que a infância baseada no celular está corroendo a saúde mental de nossas crianças e culminando em isolamento social e uma infelicidade profunda” (HAIRDT, 2024, p.24-25). Muitos pais superprotegem seus filhos, dos perigos reais, contudo, não estão conscientes das gravíssimas consequências do virtual.

A criança necessita brincar, entrar no modo descoberta, quando, consegue usar de sua criatividade, para desbravar, criar brincadeiras, ter contado com outras crianças.

O celular e os aplicativos, bloqueiam a criatividade, e a capacidade criar e interagir, logo, o que ressalta é o modo defesa, isto é, a permanecer presa na tela, onde, não há movimento, interação humana e contato social.

Tudo se passa em frente a imagens virtuais, causando consequências tanto no cérebro como no corpo. Ansiedade, ausência de sono, perda de peso, falta de concentração, atenção fragmentada, esquecimento, há pesquisas que atestam também o TDAH; são sintomas que podem aparecer com frequências, pelas horas que permanecem conectados, contudo desconectados com a realidade social. Jonathan Haidt, reforça essa tese, “o que há é uma preocupação constante de que o que está acontecendo não é natural, e os filhos estão perdendo alguma coisa, na verdade, quase tudo, por causa das intermináveis horas que passam na internet” (HAIDT, 2024, p.31).

Transtornos Mentais

Não há como negar ou reprimir, que a saúde mental, tanto das crianças, jovens e adultos, está sendo afeta pelo uso prolongado das conexões, e aplicativos.

As telas, estão privando, as crianças e adolescentes, de viver no mundo real, com problemas, dificuldades, fragilidade, descobertas, contato social, brincadeiras; para internalizar no virtual, as quais, não há relações pessoais, vínculos e convivência humana. Somos pessoas corporificadas, necessitamos de contato humano, abraços, aperto de mão, beijos, afetos.

A descorporificação, causada pela privação de contato humano, gera uma geração hiperconectada, sem qualquer vínculo afetivo, criatividade, segurança emocional e contato corporal.

Na verdade, fortalece o ‘sistema de apego’, vício, desconexão com a realidade. Assim o ‘mundo virtual torna-se mais acessível a atraente’ (HAIDT), fortalecendo a compulsão de permanecer sempre conectado.

O preço é intenso da infância baseada no celular, as quais, “crianças e adolescentes, que passavam cada vez mais tempo em casa, isolados pela mania nacional de superproteção, se voltam cada vez mais para sua coleção cada vez maior de dispositivos com internet, que oferecem recompensas cada vez mais atraentes e variadas. A infância baseada no brincar chega ao fim; é o início da infância baseada no celular” (HAIDT, 2024, p. 142).

Por isso, que essa afirmação do psicólogo Jonathan Haidt, é muito verdadeira e importante. A infância no brincar, cedeu lugar ao celular. O isolamento social, as quais, as telas permitem conexões, reprime crianças e adolescentes, de brincar, contato social, interações.

Fechado em uma tela

A Grande Reconfiguração, a infância baseada no celular, substituiu o brincar para fechar-se numa tela. Os efeitos e prejuízos mentais, são preocupantes, afetando, não somente os usuários, e sim, toda a família. A mudança no paradigma tecnologia, permitiu conexões rápidas, inteligentes, necessárias. Contudo, a quantidade de tempo desperdiçado, altera o desenvolvimento cognitivo, tendo mudanças comportamentais, emocionais, sociais.

 As causas mentais, podem ser muitas, contudo, o que mais aparece e se manifesta é o isolamento social, privação de sono, dificuldade de concentração e o principal, vício. O cérebro libera dopamina, como não satisfaz, necessita buscar mais, causando transtornos mentais, que modifica a fisiologia do organismo. O caminho é terapêutico, as quais, os pais, precisam estas conscientes, e alertas, para assim, cuidar da saúde psíquica, mental e emocional de seus filhos.

Desconectados com a realidade

As redes sociais possibilitaram contatos rápidos e necessários. Hoje, a interação, as relações, estão mais voltadas para os aplicativos, Facebook, Instagram.  Possibilitando uma geração de crianças e adolescentes, desconectados com a realidade.

Com a Grande Reconfiguração, isto é, o apogeu do celular e os aplicativos, levou crianças a crescerem totalmente conectadas. A fragmentação da infância no brincar, trouxe sintomas e consequências gravíssimas, na saúde mental e emocional.

Como Psicanalista, acredito, que os pais, precisam privar seus filhos das telas, para, serem crianças que podem brincar, interagir, e construir conexões com outras crianças.

A infância saudável é quando se brinca, divertir-se, com contatos pessoais e não com telas, que tende a afastar cada vez mais o ser criança.

Referência
HAIDT, Jonathan. A Geração Ansiosa: Como a Infância Hiperconectada está causando uma Epidemia de Transtornos Mentais. São Paulo: Companhia das Letras, 2024.