Ei, estudante! Você já ouviu falar na série Modern Love, original do streaming Amazon Prime Video? No terceiro episódio da primeira temporada, ‘Me aceita como eu sou, quem quer que eu seja’, os telespectadores são apresentados a Lexi (Anne Hathaway), uma advogada, e se encontram imersos em sua rotina no trabalho e nas relações pessoais e amorosas. Porém, há um detalhe: ela foi diagnosticada com transtorno bipolar aos 15 anos de idade.

Durante os 35 minutos do episódio, acompanhamos os loopings de humor de Lexi. Somos introduzidos a uma personagem alegre, cativante e ousada, pronta para viver amores e alegrias do dia, porém a todo vapor em sua fase de extrema euforia e logo entrado em sua fase de profunda depressão. A série faz alusão às oscilações por meio da vestimenta, do comportamento e das falas da personagem. Viver uma relação amorosa nos dias modernos tem sua complexidade; e envolvendo transtornos mentais como a bipolaridade, o desafio pode ser ainda maior.

DSM-5

O transtorno bipolar manifestado pela personagem de Modern Love é do tipo II, o qual, conforme o DSM-5, requer um ou mais episódios depressivos maiores e pelo menos um episódio hipomaníaco durante o curso da vida. Já o transtorno bipolar do tipo I engloba a presença de pelo menos um episódio maníaco.

Mas o que são esses episódios?

A fase maníaca é caracterizada pelo estado de humor elevado; por vezes, as pessoas podem apresentar alegria intensa ou maior nível de irritabilidade. O indivíduo pode apresentar elevação da autoestima, sentimentos de grandiosidade, aumento da atividade motora, diminuição da necessidade de sono, pensamentos acelerados, fala ininterrupta, distratibilidade e comportamentos impulsivos.

Alguns prejuízos frequentes dessa fase podem incluir: gastos desenfreados, aumento da irritação, prejuízos na produtividade, impulsividade sexual, uso abusivo de substâncias e alterações na tomada de decisões. Para que um episódio maníaco seja diagnosticado, esses sintomas devem estar presentes por, no mínimo, uma semana, durante a maior parte dos dias, e causar prejuízos graves às áreas sociais ou ocupacionais do indivíduo ou necessitar de internação hospitalar visando prevenir que a pessoa traga prejuízos a si mesma ou a outros.

A fase hipomaníaca, assim como a maníaca, é marcada por humor elevado, porém com algumas diferenças importantes: para o episódio hipomaníaco, o tempo mínimo de apresentação dos sintomas é de quatro dias em vez de uma semana; a presença dos sintomas deve ser identificável por terceiros e apresentar prejuízo claro à vida do indivíduo, porém os sintomas não devem ser graves o suficiente para causar acentuados prejuízos sociais, ocupacionais ou, ainda, justificar a internação hospitalar.

Por sua vez, os episódios depressivos são caracterizados por: humor deprimido na maior parte dos dias, durante pelo menos duas semanas, desinteresse e/ou falta de prazer em atividades diárias, irritabilidade, perda ou ganho de peso significativo, insônia ou sono excessivo (hipersonia), baixa autoestima, dificuldade de concentração e pensamentos recorrentes de morte. Os prejuízos dessa fase podem incluir: isolamento social, dificuldades em manter atenção concentrada, declínio na produtividade acadêmica ou profissional, dificuldade em manter higiene adequada e aumento da irritação e da ansiedade.

Tratamento

O transtorno bipolar é crônico e necessita de acompanhamento psiquiátrico contínuo. O uso de fármacos é indicado para toda a vida. O tratamento psicológico agrega benefícios ao farmacológico, visando a favorecer mudanças na forma de o indivíduo pensar, sentir e se comportar, gerando maior autoconhecimento e qualidade de vida. Entre as abordagens eficazes, são apontadas terapia cognitivo-comportamental (TCC), terapia de ritmo interpessoal e social (IPSRT) e terapia focada na família.

Para essa demanda clínica, a TCC tem como objetivos a adesão à medicação, a psicoeducação sobre os desafios do transtorno e o uso de técnicas cognitivas e comportamentais para lidar com os sintomas relacionados com os episódios de humor. Entre as estratégias utilizadas, constam registro de pensamentos disfuncionais (RPD), diário de humor e organização da rotina.

Livro

Se você se interessou e quer saber mais sobre o assunto, conheça o livro ‘O que você precisa saber sobre transtorno bipolar e tem medo de perguntar’, de autoria dos psicólogos Márcio Englert Barbosa e Rodrigo Machado Rodrigues e publicado pela Sinopsys Editora. Apresenta informações e orientações pautadas na literatura científica acerca do transtorno bipolar a fim de desmitificar tabus e mitos.

Por meio de linguagem clara, objetiva e acessível a todos que tenham interesse em entender um pouco mais sobre o tema, incluindo pacientes e sua rede de apoio, esta obra explora o que se sabe sobre as causas do transtorno, suas características, seus subtipos, os sintomas apresentados, os impactos no sistema nervoso central e os tratamentos mais indicados.

Faz parte da coleção ‘O que você precisa saber e tem medo de perguntar’, que visa esclarecer para não especialistas aspectos relacionados a transtornos mentais e outros assuntos comuns nos consultórios. Um de seus principais diferenciais é a sua construção, mediante perguntas e respostas mais frequentes entre a população. Por sua linguagem clara, objetiva e acessível ao público geral, também pode ser útil ao terapeuta como ferramenta de psicoeducação no processo terapêutico.