Tenho um filho adolescente e fico muito preocupada com a cobrança dessa geração em ter o corpo perfeito e os exageros nos procedimentos estéticos. Mas até onde preciso me preocupar? Como esse tipo de comportamento impacta no psicológico dessa faixa etária? Quais são as consequências que os exageros de procedimentos podem trazer para o físico e emocional?
A adolescência é um período onde a insatisfação fica muito aflorada e esse incômodo que tem a ver com a insegurança, autoestima e aspectos da personalidade, tende a ser projetado principalmente em um corpo idealizado. É nesse sentido que surge a necessidade do corpo pronto, rápido e perfeito, portanto, inexistente, mas que aplaque a angustia da travessia turbulenta da adolescência. Como se o corpo perfeito fosse responsável por dar conta dos conflitos que surgem e que são internos.
Esse período marca também a transição e o luto de um corpo de criança para um corpo adulto e desconhecido, onde o erotismo se apresenta, isto é, precisam ser aceitos por eles próprios e pelo grupo, além disso, desejam e querem ser desejados.
Qual o limite?
Tudo isso é um turbilhão de emoções e sentimentos que surgem simultaneamente em uma cabeça que ainda não se entende ser quem se é. Nesse ponto, a ausência de limites internos traz a necessidade de que esses limites venham de fora, nesse caso, dos pais. Marcados pela impulsividade, pelo imediatismo, pela onipotência, a aparência física pode se tornar um local de maior investimento libidinal e isso pode ser perigoso. Cuidar da aparência é importante e faz parte de uma vida saudável, mas é preciso muito mais que isso para que uma pessoa possa se sentir confortável na própria pele. Os exageros podem estar relacionados a esse conflito interno que se não for percebido, não terá fim; como se a vaidade se tornasse uma obsessão. A família tem papel importante na continência desses impulsos. Essa atitude continente orienta o adolescente ao questionamento e o coloca mais dentro da realidade.
Compreender a idealização
Quanto maior a idealização, maior será o impacto da realidade. É preciso observar de onde parte o desejo de mudança e como está o estado emocional de quem busca os procedimentos estéticos ou mudança corporal por meio de exercícios que definam o corpo. Além de mudanças físicas drásticas, que por sí só já trazem impactos, os exageros, ou a obsessão pela vaidade pode contribuir para uma vida mental rígida, empobrecida e aprisionadora, além de alimentar um desejo insaciável, além disso, a insatisfação pode ser uma forma de esconder fragilidades emocionais mais sérias como a depressão, ansiedade, problemas com a autoestima, etc. Partindo do pressuposto que perfeição não existe, o comportamento que se traduz na exigência e na busca de algo inatingível é por si só um comportamento inadequado e preocupante.
Quando se busca algo que é inatingível, não há limites. A busca nunca será de saciada. Os aspectos psicológicos impactam o comportamento. O comportamento e a busca desenfreada e inconsciente, associados à atuação “imprópria” de determinados profissionais geram consequências danosas, por vezes desastrosas, para esses indivíduos. O limite ético profissional seria uma importante barreira para a conscientização e disseminação desse comportamento!