Nosso cérebro é “moldável”. Isso significa que, por meio de suas capacidades de neurogênese e neuroplasticidade, ele reflete a vida que levamos. Se, por exemplo, uma pessoa não sabe tocar piano, isso significa que ela não tem um grupo de neurônios que se comunicam a fim de lhe permitir essa capacidade. Porém, se essa pessoa treinar o suficiente, aos poucos seus neurônios farão novas conexões o que, em última instância, lhe permitirão a capacidade de tocar piano. Esse mesmo princípio se aplica à questão das emoções. Se a felicidade se caracteriza pelo predomínio de emoções positivas, para aumentar os níveis de felicidade, é preciso desenvolver mais esse tipo de emoção. E como fazer, por exemplo, para desenvolver a gratidão? Exatamente a mesma coisa que que se faz para aprender a tocar piano. Ou seja, treino!

Nesse sentido, a atividade intencional seria nossa “margem de manobra”, representada pelo que fazemos em nossas vidas diárias e pela forma como pensamos.

Podemos, por exemplo, aumentar os momentos de flow em nossas vidas, de maneira a obter gratificação, desenvolver nosso self e, por conseguinte, contribuir para o aumento de nossos níveis de felicidade. Para isso, precisamos identificar nossas forças pessoais de forma a utilizá-las nas atividades que praticamos ou, ainda, de forma a que possamos buscar atividades que exigem o emprego dessas forças (tais como um hobby, um trabalho voluntário etc).

Locus de controle

A expressão locus de controle foi introduzida na literatura psicológica a partir da década de 1960, a fim de explicar a percepção do indivíduo a respeito de sua fonte de controle, podendo ser, esta última, oriunda do próprio sujeito (interna) ou de algum elemento fora de si próprio (externa). Nessa mesma linha, podemos definir locus de controle como sendo um ponto de vista que a pessoa possui em relação a sua autoindependência e controle dos outros sobre si. Sendo assim, um locus de controle interno se refere à convicção dessa pessoa de que ela pode usar seu próprio comportamento para conquistar os objetivos que deseja. Já um locus de controle externo corresponde à crença de que o verdadeiro poder se encontra fora da pessoa, e que as forças externas é que determinam sua vida. Ou seja, uma pessoa com locus de controle interno é alguém que, por acreditar estar no controle da sua própria vida, batalha mais por sua felicidade, enquanto que aquele que possui locus externo espera que os outros lhe façam felizes, o que, não é necessário dizer, acaba por lhes gerar inúmeras frustrações que, por sua vez, acabam por lhes aumentar a infelicidade, fechando um ciclo vicioso mais do que perverso.

Bem-estar psicológico

Já o inverso, por sua vez, é igualmente verdadeiro e o sujeito com locus interno (que batalha por sua felicidade) aumenta suas chances de conquistá-la. O problema é que nem sempre as pessoas sabem qual o melhor caminho para se chegar a uma vida feliz. E, nesse sentido, problemas emocionais como insegurança, baixa autoestima e tantos outros podem fazer com que a batalha pela felicidade se torne estéril e desgastante. É nessas ocasiões que a ajuda de um  bom terapeuta se faz necessária, a fim de auxiliar o indivíduo na identificação daquelas áreas nas quais ele pode exercer controle sobre seu próprio desenvolvimento e bem-estar psicológico, ajudando-o, ao mesmo tempo, no reconhecimento de que algumas situações ou eventos que estão fora de seu controle, de forma que, contra eles não seria sábio lutar.

Reconhecendo a importância da subjetividade na compreensão das intrincadas forças internas e externas que determinam o que acontece a um indivíduo, um dos objetivos do psicólogo que trabalha com locus de controle é ajudar o indivíduo a descobrir e obter acesso às suas forças e recursos pessoais, enquanto escolhe ações capazes de promover sua saúde.

Felizmente, hoje, a Psicologia Positiva já conta com uma grande quantidade de pesquisas que têm possibilitado maior compreensão acerca desses recursos, além de estratégias terapêuticas sistematizadas para desenvolvê-los.

Finalmente, vale ainda dizer que acreditamos que o papel de uma Psicologia que se autodenomina positiva, muito antes de promover (mais) uma cisão no corpo teórico desta disciplina seja, simplesmente, o de fazer um contraponto, promovendo o equilíbrio entre a compreensão dos problemas e das potencialidades humanas. Acreditamos, ainda, que, no momento em que tal equilíbrio se efetivar, a denominação positiva perderá seu sentido e deixará claro que a Psicologia Positiva, na verdade, nunca foi nada mais do que, apenas, Psicologia.

E MAIS…

E o que mais é preciso para sermos felizes?

Embora não negue a influência dos eventos externos nos níveis de felicidade do indivíduo, a Psicologia Positiva destaca a importância de outras variáveis, tais como os múltiplos processos cognitivos e motivacionais que moderam o impacto que o ambiente externo é capaz de exercer no bem-estar subjetivo (leia-se felicidade). Dentre estas variáveis destaca-se o locus de controle.

Os teóricos da Psicologia Positiva acreditam que, sendo a felicidade um estado mental, as pessoas deveriam ser capazes de controlá-la cognitivamente. Nesse sentido, se, como vimos, a autoconsciência é o primeiro passo para a felicidade, possuir o que chamamos de locus de controle interno seria o segundo; ou melhor dizendo, seria uma espécie de sustentação para que se consiga dar todos os demais passos necessários até que cheguemos a uma vida feliz.