Você já deve ter passado por alguma experiência na vida com colegas de trabalho que parecem ser bastante exagerados e que justificam tais exageros. Ou, certamente já conviveu com alguém que faz a tal “tempestade num copo d’água”.
Ou talvez, você tenha um(a) parente que muito rígido(a), inflexível e que apresenta sempre argumentos e pensamentos absolutos e irrazoáveis, que até fazem você pensar que ele(a) que ser “o(a) dono(a) da verdade”.
Por fim, talvez você já tenha sofrido na pele por ter que conviver com alguém que aparentemente tem pensamentos extremista, daquele tipo “tudo ou nada”.
Formas desadaptadas
Existem inúmeras outras formas extremas e desadaptadas de se pensar e interpretar a vida sobre a qual podemos falar.
Pessoas pessimistas, indulgentes, negligentes, catastróficas, vitimistas, vulneráveis, dependentes, etc., podem revelar um aspecto muito interessante sobre nossa psique: as distorções cognitivas presentes nos padrões de pensamentos.
As distorções cognitivas são falácias lógicas que acontecem quando pensamentos inadequados e pouco adaptativos são gerados e mantidos pelas pessoas. Geralmente, são pensamentos exagerados e irracionais, que via de regra resultam em adoecimento psíquico, tais como o transtorno de ansiedade e a depressão.
Terapia dos Esquemas
O modelo proposto pela Teoria psicológica Cognitiva Comportamental (TCC) afirma que a forma como percebemos e pensamos o mundo influencia diretamente na maneira como nos sentiremos e, como consequência, como nos relacionaremos com outras pessoas e como viveremos as circunstâncias de nossa vida. A Terapia dos Esquemas, por sua vez, em complementação a isto, teoriza que esses padrões de pensamento (entre outros aspectos) são forjados como lentes interpretativas desde as mais remotas experiências infantis e durante a adolescência. Uma vez que tais lentes são forjadas, passam a ter influência direta sobre as emoções e comportamentos, sejam estas lentes funcionais e adaptadas ou não.
Sendo assim, geralmente, a interpretação que fazemos de um determinado evento vai determinar a maneira como vamos nos sentir e até como vamos nos comportar à partir daquilo que sentimos. Portanto, a reflexão a respeito dos nossos pensamentos é extremamente relevante e nos dá pistas importantes sobre possíveis distorções cognitivas e também sobre esquemas iniciais desadaptados que nos influenciam no dia-a-dia. A análise dos sentimentos evocados à partir destes pensamentos também é parte essencial do processo terapêutico.
Distorções cognitivas
Alguns aspectos importantes podem ajudar a identificar as distorções cognitivas. Pensamentos dicotômicos, por exemplo, são caracterizados pela interpretação polarizada das experiências, favorecendo que a pessoa limite muito as opções que pode ter, já que para esta, tudo se resume a extremos. Assim, citando caso análogo, ou se perceberão como capazes ou como incapazes. Desconsiderar aptidões, experiências, idiossincrasias e circunstâncias, é algo comum para quem tem pensamentos dicotômicos que não consegue distinguir a diferença entre se sentir fracassado numa situação específica e ser um ser humano fracassado. Desse modo, sua capacidade de julgamento fica limitada, permitindo outras distorções cognitivas como a generalização.
As generalizações, por outro lado, são um dos motivos pelos quais as pessoas mantêm crenças preconceituosas. Algumas máximas pessoais e até sociais são fruto de generalizações. “Homem é tudo igual, nenhum presta” e “todo brasileiro é malandro” são exemplo típicos de generalizações. A pessoa que generaliza, via de regra é alguém que passou por circunstâncias na vida que fomentaram crenças generalistas que passam a ser usadas de forma geral, sem exceções. Literalmente a pessoa coloca tudo e todos no mesmo “balaio” sempre. A correção dessa distorção perceptiva é fundamental para se ter uma percepção mais adequada e equânime. Avaliar eventos e pessoas em específico é super importante quando se quer trabalhar pensamentos generalizados.
Outra distorção cognitiva comum é a minimização do positivo. Esta é a tendência de se dar menos valor e importância para feitos realizados, conquistas e vitórias. Às vezes por sentimento de inferioridade, às vezes por sensação de defectividade, a distorção acontece quando se diminui as qualidades especiais, os dons que a pessoa possui, ou mesmo quando não se é capaz de aceitar que pode fazer algo de bom, algo certo. A minimização do positivo muitas vezes é um grande impeditivo para a mudança de postura e também para a cura de emoções e sentimentos que inferiorizam as pessoas. Para que isto aconteça, questionar o comportamento e o constrangimento diante das conquistas e congratulações é muito relevante. Também é fundamental se exercitar a autocrítica e credibilizar de bom grado os bons feitos.
A maximização
Em contraposição àquele que minimiza suas vitórias, podemos pensar naqueles que maximizam os aspectos negativos e suas inabilidades. A maximização é o outro lado da mesma moeda que inclui a minimização. Neste caso, o apego ao que deu errado, ao detalhe negativo ao invés de potencializar tudo que aconteceu de bom é o que acontece. É quando o único descuido ganha destaque e torna todo resto insuficiente. Para se evitar esse tipo de distorção, é preciso se avaliar a real importância que cada situação tem, de forma racional e objetiva. Por vezes, colocar a situação em perspectiva também ajuda bastante. Pensar, por exemplo, na diferença que aquela atitude ou aquele suposto erro fará ao longo da vida da pessoa, pode ser um exercício que desfoca da maximização. Maximizadores tendem a usar termos e frases tais como: “isso é um desastre”, “aquilo foi um caos”, “essa situação é irreparável”, “não tem mais jeito, acabou”. Em algumas situações, mudando apenas a forma como se fala sobre algo, ou pensando sobre como tem mencionado os fatos, já é possível perceber a distorção e tomar atitudes para mudar a forma de pensar e, consequentemente, agir.
Estes e outros exemplos de distorções cognitivas já são suficientes para demonstrar como as falácias cognitivas podem prejudicar o bom funcionamento de nossa mente e das nossas emoções.
E MAIS…
Ressignificar pensamentos
Uma vez que os pensamentos estão intimamente relacionados aos nossos sentimentos, sendo base importante destes, trabalhar a nossa mente para não cometer essas distorções é algo significativo.
A reestruturação cognitiva vai se dar quando a pessoa conseguir aprender a refutar e ressignificar seus pensamentos. Isto acontece por meio de técnicas específicas disponíveis em processos de terapia, por exemplo, quando o profissional ajuda a pessoa a identificar, ressignificar e aplicar pensamentos que favoreçam comportamentos mais adaptados e saudáveis.
