No caso dos egressos do curso de Psicologia, há aqueles que optam pelo atendimento clínico e vão buscar pelo consultório; entre esses, aqueles que escolheram a teoria psicanalítica vão, por sua vez, à compra do primeiro divã.

Lá pelo início do semestre seguinte, temos centenas de consultórios novinhos, com as obras de Freud bem à vista na estante, a poltrona do analista perfeitamente instalada para escutar todo aquele que se dispuser a se submeter à regra da associação livre. O cartão cuidadosamente elaborado, com o título de psicanalista logo abaixo do nome, o perfil no Instagram terminando em “psicanalista” marcam a alegria do início, mas não sustentam um consultório.

Como se forma um consultório?

A resposta é simples e repetida incessantemente: um consultório só é formado à medida que se avança no próprio processo de análise, no estudo da teoria e na discussão da própria clínica na supervisão. Não há segredo. Resta, contudo, a pergunta: se é só isso, por que, em alguns casos, é tão difícil?

A análise pessoal é o que vai possibilitar àquele que pretende ser analista as condições para que a escuta se dê. Somente é possível conduzir o tratamento até o ponto atingido em nosso processo de cura. Todos os que se deitaram no divã sabem quanta coragem é necessária para modificar nossos meios de gozo e abrir novas trilhas pulsionais. Escutando a si mesmo, abrindo espaço para a escrita do saber inconsciente em nosso processo de cura, aprendemos o método analítico. Mas isso não basta. Devemos, conforme nos arriscamos a receber sujeitos em análise, pôr em questão nossa prática. Para tanto, é necessário supervisão.

A escolha do supervisor

A escolha do supervisor é tão importante quanto a do analista. Um dos requisitos para ela é a maior experiência clínica, mas apenas isso não faz funcionar a relação entre supervisor e supervisionando. Falar de sua prática clínica somente é possível em um ambiente de confiança, de respeito e generosidade. Expor os atendimentos, as interpretações, os cortes feitos, as dúvidas e os anseios são cruciais para a formação de qualquer analista. Crucial e ameaçador, pois agora esse que atende e leva suas dúvidas não está mais protegido sob o título de aluno. Na teoria, ele é um profissional em exercício de suas funções, um colega discutindo o caso com outro colega. Na prática, vários temores podem entrar no jogo. Muitas vezes, os dois (supervisor e supervisionando) participam da mesma instituição psicanalítica, do mesmo círculo profissional. A relação entre esses dois sujeitos é uma relação de confiança.

Podemos, então, usar a mesma premissa do processo de cura analítica: há que se ter coragem! Temos tantos estilos de supervisores quanto de analistas. Há aqueles que pedem para que o supervisionando leve uma sessão específica por escrito, outros preferem que a sessão seja relatada, e outros ainda pedem que se fale sobre o caso. Cabe a cada analista encontrar o seu supervisor, aquele em que possa confiar e com o qual possa falar livremente de suas apostas e das dificuldades de sua prática.

E MAIS…

Por quanto tempo a supervisão é necessária?

Nos primeiros anos da clínica, ela está muito presente e, embora possa se espaçar ao longo da prática profissional, permanece ocupando um lugar relevante para o analista, pois a escuta clínica é um instrumento delicado. Ele deve ser afinado constantemente. E nenhum instrumento afina a si mesmo.