Jerome Seymor Bruner desenvolveu uma teoria construtivista na década de 1960, com a publicação de seu famoso livro The Process of Education (O Processo da Educação, em tradução livre). Fortemente influenciado pelas ideias de Vygotsky e Piaget, porém mais pelo primeiro, ele defendia a ideia de alunos serem solucionadores ativos de problemas.

Esta ideia começou a ser desenhada no capítulo 3 de seu livro, com a seguinte frase abrindo o capítulo: “We begin with the hipothesis that any subject can be taught effectively in some intellectually honest form to any child at any stage of development”[i] (“Começamos com a tese de que qualquer assunto pode ser ensinado efetivamente de alguma forma intelectualmente honesta a qualquer criança em qualquer estágio de desenvolvimento”). Uma hipótese bastante pretensiosa, para dizer o mínimo, mas que seria a pedra basilar de sua teoria.

Dois modos de pensamento

Em sua teoria, determinou a existência de dois modos primários de pensamento: o pensamento narrativo e o pensamento paradigmático. No primeiro caso, a narrativa requer uma “ação orientada, detalhada e processos mentais sequenciais, como acontece no Storytelling”[ii], ou contação de histórias. A partir de crenças e intenções próprias, o narrador pode expressar seu estilo naquilo que narra, de sua linguagem própria.

Já no pensamento paradigmático, baseado no raciocínio lógico, a linguagem é científica e, portanto, “requer processos mentais analíticos, sistemáticos e categóricos”[iii]. Com o amadurecimento da criança e/ou uma formação acadêmica presente na família, torna-se possível utilizar ambos os modos de pensamento.

Tipos de representação cognitiva

Um conceito central na teoria de Bruner é a Representação. Crianças representam objetos inicialmente por meio das sensações imediatas destes, o que foi chamado de representação enativa. Posteriormente, há uma progressão para a representação icônica, ou seja, através do uso de imagens mentais relacionadas a eventos ou objetos. E, por fim, surge a forma mais avançada de representação, a simbólica, que foi um avanço em relação à icônica, por permitir representações que podem não ter a ver diretamente com o objeto ou evento representado, mas assumir uma forma totalmente arbitrária[iv]. Segundo o autor, as representações em questão não são substituíveis, mas continuam a existir no adulto. Além disso, tudo o que aprendemos, sejam experiências sensoriais ou pensamentos, podem ser representados em pelo menos uma das formas.

O modo enativo permitiria à criança uma forma de aprender “sem pensar”, pois nas fases iniciais não seria possível processar e representar internamente as informações. Já no modo icônico, como o pensamento é baseado em imagens mentais das experimentações da criança, ela já é capaz de aprender com base em pensamento. No modo simbólico, tendo a linguagem como um conjunto de representações simbólicas específicas, há a possibilidade de representar o mundo e armazená-lo como memória verbal. Outros sistemas simbólicos são a matemática e a música, por exemplo[v].

O currículo em espiral

Bruner foi um defensor da aprendizagem pela descoberta, em que os alunos devem descobrir fatos e suas relações por meios próprios, sendo, portanto, elementos ativos do processo de ensino aprendizagem, e tendo o professor um papel de guia para que o processo aconteça. Tal pressuposto é a base de uma abordagem construtivista, e especialmente, uma que defenda um currículo em espiral. Esta forma de currículo revisita os mesmos tópicos de estudo em diferentes momentos da escolaridade, com níveis de dificuldade apropriados para cada momento, e com complexificação crescente de conceitos.

Isso traria vários benefícios para os alunos, como por exemplo, a revisitação constante, crescente e seguindo uma lógica do mais simples para o mais complexo reforçaria e solidificaria os conteúdos em questão, proporcionando uma aprendizagem mais sólida e capaz de ser extrapolada posteriormente em novos objetivos.

Infelizmente, há algumas limitações na aplicabilidade da teoria. Como aplicação direta em sala de aula, a teoria depende de uma adaptação curricular, ou melhor, da utilização da teoria como proposta curricular. Ainda assim, como proposta curricular, esta teoria foi aplicada na prática em poucos lugares, como na China e Taiwan, o que, por outro lado, pode explicar parcialmente o sucesso dos estudantes chineses em provas internacionais. Por outro lado, também há uma experiência aqui no Brasil, do Grupo Etapa[vi], igualmente com resultados positivos. Porém, o mais importante são as consequências citadas dos estudos, que reproduzimos a seguir[vii]:

  • “Abordagens instrucionais interativas, concretas e manipulativas podem ser utilizadas nos primeiros anos de escolaridade para introduzir tópicos bastante sofisticados em praticamente qualquer assunto, embora matemática e ciências proporcionem a maior parte da evidência desta abordagem.
  • Ativar conhecimentos prévios, ou aprender novos aprendizados em aprendizagem prévia, produz bons ganhos de aprendizagem para quase todos os alunos, independentemente da idade ou nível de desenvolvimento.
  • Quando visto como uma característica de um sistema nacional de educação (por exemplo, China ou Taiwan), o uso do currículo espiral parece produzir resultados muito sólidos”.

E MAIS…

Mas… e a Aprendizagem em Espiral?

Direta ou indiretamente, a ideia do Currículo em Espiral de Bruner pode ter sido inspiradora para alguns métodos propostos por diferentes autores. Mencionaremos aqui duas dessas propostas.

1 – Aprendizagem em Espiral de Armando Daros Junior.

Nesta estratégia, que se aplica a “conteúdos mais complexos e que exigem um maior grau de sistematização, compreensão e criticidade”[viii], o objetivo é que o aluno expanda sua capacidade analítica, amplie seus conceitos e argumentação. Em termos resumidos, a técnica indica:

  1. Leitura individual de um texto com registro da compreensão individual em uma ficha própria.
  2. Reunião com um par ou pares (dois, três ou quatro) para debate dos registros individuais, com registro em campo próprio, na mesma ficha usada anteriormente.
  3. Exposição, para toda a turma, na forma de uma síntese do grupo, e registro sintético das informações em campo próprio, na mesma ficha usada anteriormente.

A Figura 1[ix], a seguir, ilustra o modelo de aprendizagem em espiral de Daros.

2 –A Espiral Construtivista de Valéria Vernaschi Lima

A autora em questão usou “o formato de uma espiral para representar os movimentos recursivos, contínuos, incompletos e inacabados do processo de aprendizagem[x]”. Em sua estratégia, a autora relata duas fases: a síntese provisória, representada por três etapas: a identificação de problemas, a formulação de explicações e elaboração de questões de aprendizagem. Na nova síntese, também haveria três etapas: a busca por novas informações, a construção de novos significados e a avaliação. Estas etapas estão representadas na figura a seguir[xi]:

Com relação à síntese provisória, esta representa um momento inicial de descobertas globais a partir da realidade estudada, e o processamento das informações está relacionado à interação dos estudantes com um dos disparadores da aprendizagem, que a autora relaciona da seguinte forma: “(i) situações-problema elaboradas por docentes, (ii) narrativas de prática elaboradas pelos educandos, (iii) produtos sistematizados a partir da atuação dos educandos em cenários reais ou simulados”[xii].Na nova síntese, reconstrói-se o conhecimento à luz da ciência.

Em termos das fases, temos a seguinte sequência da aplicação da técnica:

  1. Identificando Problemas – ao invés de um problema somente, são identificados problemas a serem solucionados.
  2. Formulando Explicações – após a identificação dos problemas, são postuladas possíveis explicações, as hipóteses explicativas, que deve ser feita com absoluto respeito às considerações de todos os estudantes.
  3. Questões de Aprendizagem – neste momento, as hipóteses explicativas resultam nas questões de aprendizagem coletivamente construídas, e estas devem permitir a testagem das hipóteses.
  4. Buscando novas Informações – neste momento, cada aluno procura novas informações a respeito das questões de aprendizagem, a fim de ampliar o conhecimento sobre os temas selecionados.
  5. Construindo novos significados – como o nome sugere, neste momento são construídos novos significados a partir da interação dialética entre o conhecimento prévio dos estudantes e as informações novas trazidas pelo estudo científico realizado.
  6. Avaliando Processos e Produtos – este é o momento de avaliar todo o processo, identificando possíveis dificuldades e procurando melhorá-lo. Ocorre de forma verbal e formativa, e inclui uma autoavaliação de forma metacognitiva, ou seja, onde se procura aprender como se pode melhorar dentro do processo, a avaliação dos pares e do facilitador. O feedback deste último também deve ser dado, a seu respeito e sobre todos os estudantes.
Referências:

[i] BRUNER, Jerome Seymor. The Process of Education. USA: Harvard University Press, 1977, p. 33.
[ii] KARATEPE, Çiğdem. Getting to Know Theory in Order to Face Challenges in the EFL Classroom. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/290444812_Learning_Theories>.Acesso em 02/03/2022, p. 25-6.
[iii] Idem, p. 26
[iv] LEFRANCOIS, Guy R. Teorias da Aprendizagem: o que o professor disse. São Paulo: Cengaje Learning, 2017.
[v] KARATEPE, Çiğdem, op. cit.
[vi] COLÉGIO ETAPA. Ensino em espiral: saiba o que é e como funciona. Disponível em: <https://blog.etapa.com.br/colegio/ensino-em-espiral>. Acesso em: 02/03/2022. Publicado em: 21/04/2020.
[vii] JOHNSTON, Howard. The Spiral Curriculum. USA, Florida: University of South Florida, 2012, p.
[viii] CAMARGO, Fausto; DAROS, Thuinie. A Sala de Aula inovadora: estratégias pedagógicas para fomentar o aprendizado ativo. Porto Alegre: Penso. 2018, p. 33.
[ix] Idem, p. 34.
[x] LIMA, Valéria Vernaschi. Espiral construtivista: uma metodologia ativa de ensino-aprendizagem. Interface 21 (61) • Apr-Jun 2017 • https://doi.org/10.1590/1807-57622016.0316, p. 425
[xi] Idem, p. 427.
[xii] Idem, p. 428.