Na educação, o afeto é o elemento pedagógico significativo, material ou imaterial, que vai produzir no educando a necessidade de aprender. Isto, em qualquer modalidade ou nível de ensino, mas principalmente na Educação Infantil, onde se inicia o desenvolvimento emocional do aluno. A afetividade não deve estar ligada apenas às questões discentes, mas também ao papel do professor. Este profissional precisa amar o que faz. Amar, estudar, pesquisar, trabalhar e, desta forma, adquirir um olhar sensível e instrumentalizado, essencial ao exercício docente.

A carga de amorosidade que está no professor o faz ser um aprendiz para exercer com equidade o seu ofício. Essa carga de amor o faz interessado e responsável em descobrir alternativas nos processos de ensino e aprendizagem. Igualmente, a carga afetiva do aluno o faz descobrir lugares ainda desconhecidos do saber.

Mudança bem-vinda

A afetividade não é nenhuma nova teoria pedagógica, nem a mais nova descoberta científica para dar-nos melhor qualidade de vida. Trata-se de algo que acompanha o homem desde o nascimento da sua história. Todavia, às vezes, fica despercebido nas relações humanas. Representa o que traz sentido, o que colore a aprendizagem e, certamente, o que mais contribui para a conservação do conhecimento adquirido. É pertinente que professores e alunos sejam tomados por essa instrumentalização pedagógica, porque já não se aprende mais como antigamente e não se deve ensinar como sempre se ensinou.

Alunos dispersos e desinteressados na escola tornam-se ávidos pelo conhecimento quando estão diante de tablets, celulares e computadores. O que provoca essa mudança de atitude é a capacidade que as novas tecnologias digitais têm de despertar neles o interesse, o assombro e o afeto. O que há nas ferramentas digitais de tão impactante? Aprendizagem significativa, autoria de pensamento, autonomia, criatividade, socialização do saber, espaço pessoal de aprendizagem. Esses atributos, que nossos alunos encontram nas tecnologias digitais, podem ser encontrados também em sala de aula, no trabalho do professor.

Solo cognitivo fértil

Agora, duas perguntas: diante de um computador, o que acontece ao processo de aprendizagem de uma criança de cinco anos? E o que acontece ao processo de aprendizagem de um adulto de cinquenta anos? Não é incomum o adulto passar para o estágio pré-operatório e a criança para as operações formais. As tecnologias digitais provocam no cérebro de nossas crianças a liberação de impulsos eletroquímicos, que canalizam o foco da atenção e trazem a sensação de prazer, penetrando no campo das habilidades cognitivas. Isto também é afeto.

O isolamento social causado pela pandemia da Covid-19 provocou mudanças nas práticas de ensino no espaço escolar e trouxe a tecnologia para o ambiente de aprendizagem. E é muito possível trilhar caminhos pedagógicos eficazes com ela.

Professores têm transformado dificuldades diversas em solo fértil para o magistério. No campo da aprendizagem humana, esse processo é possível quando se aprende, principalmente, por meio de metodologias ativas, que estabelecem a aprendizagem pela ação, isto é, “learning by doing”, o “aprender fazendo”. Trata-se do envolvimento comportamental e emocional do aprendente. Uma forma de ensinar que não visa apenas levar os alunos a darem respostas, mas a desenvolverem conhecimentos.

Ensino colaborativo

O momento atual é propício para o surgimento de um modelo de ensino colaborativo, com base na atividade dos educandos, em que se aprende na participação e cooperação, no intercâmbio de saberes gerados num espaço de trocas epistemológicas.

O isolamento permitiu que o estudante desenvolvesse autonomia e disciplina durante as aulas remotas. De certo que a aprendizagem da nova geração de aprendentes está estreitamente ligada à autonomia. Não se aprende apenas por memorização, mas pela capacidade de envolvimento nos mecanismos de construção do conhecimento, por meio da resolução de problemas, pensamento reflexivo e execução de atividades. Dessa forma, as competências são melhor desenvolvidas em ambientes que estimulem a aprendizagem colaborativa e o afeto.

A educação poderá ter esses matizes a partir de agora. Não há como voltar a um ensino baseado apenas na memorização. No modelo ativo, o professor propõe desafios, sugere instrumentos e estabelece a colaboração. O aluno procura soluções, refina as sugestões e estabelece sua identidade.

Humanizar as práticas de ensino

A aula colaborativa gira em torno de quem aprende, mediado por quem ensina. A docência se materializa pela mobilização discente. Quais alternativas existem para tal? Como suscitar desafios para que o aprendente seja estimulado a aprender? De fato, para atingir todos os educandos, personificando as ações pedagógicas, será necessário traçar propostas e estabelecer competências individualizadas. O conteúdo poderá ser o mesmo, porém, o objetivo para cada estudante deverá ser diferente, em razão das condições individuais.

É preciso lembrar que estamos no período de implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Porém, o mais importante será humanizar as práticas de ensino, no presencial ou no virtual. O acolhimento de alunos e professores será o primeiro passo para as mudanças. As instituições escolares, públicas e privadas, terão que investir em seus educadores, provendo um olhar instrumentalizado e sensível. Instrumentalizado, porque para ensinar é preciso conhecer. Sensível, porque não há educação sem laços humanos, nem dimensões afetivas.

E MAIS…

Por uma escola instrumentalizada e sensível

A educação já pedia mudanças significativas, afinal, as novas gerações precisam de novos desafios que a forma clássica de ensino já não oferecia mais. A pandemia, de certa forma, forçou uma reformulação drástica e iminente. A construção de uma aprendizagem baseada no afeto. tanto de quem educa, como de quem aprende, se tornou a base do sucesso nesse processo de transformação. 

Podemos dizer que o afeto possui três dimensões: a pessoal, que desenvolve a autoestima do professor e do aluno, revelando as raízes da motivação e do interesse; a social, que estabelece as relações com aqueles que estão no campo escolar e que podem tornar o ambiente instigante para a aprendizagem; e a pedagógica, que estimula os vínculos do aluno e do professor com o objeto de estudo, produzindo a afinidade com o processo de ensino e aprendizagem na troca de saberes docentes e discentes, na cumplicidade de fazer o percurso tão prazeroso quanto a chegada.

Porém, ser afetivo não é ser adocicado. Ser afetivo é utilizar o campo das emoções como um eficaz instrumento pedagógico, que funciona na mediação da aprendizagem, trabalhando a memória e a cognição.

Em termos práticos, é trazer para o espaço da educação o interesse e o amor dos atores da escola. Um aluno que ama aprender, aprende melhor; um professor que ama ensinar, ensina melhor.