A Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia previsto que, até 2020, essa condição se tornaria a principal causa de incapacidade global, e a pandemia de COVID-19 intensificou ainda mais esse quadro.
O período pandêmico funcionou como uma lente de aumento, evidenciando o sofrimento emocional já existente e agravando transtornos em muitas pessoas que enfrentavam dificuldades psicológicas.
Por outro lado, a crescente cobertura midiática sobre os transtornos mentais tem contribuído para a legitimação da dor psíquica, encorajando muitas pessoas a buscarem ajuda para lidar com suas angústias.
Estigma social
Apesar dos avanços, o estigma social ainda é uma barreira, dificultando o início de um tratamento adequado. Para se dar conta da própria doença, exige-se um certo grau de sanidade. Isso quer dizer, que buscar ajuda é um ato de saúde.
Quando se está muito adoecido, pode ficar imperceptível ao sujeito, a sua dor psíquica, sendo muitas vezes necessário a intervenção da família ou de alguém próximo que perceba o sofrimento.
Nos casos mais graves, quando a depressão não é tratada, a pessoa tende ao isolamento, sente a dor, mas nem sempre tem consciência de sua condição. A depressão pode levar ao suicídio, não porque o indivíduo deseja morrer, mas porque, sem energia e esperança, busca apenas se livrar da dor avassaladora que o consome.
Percepção cinza da vida
Uma das características mais marcantes desse transtorno é a percepção cinza da vida, como se todo brilho e luminosidade tivessem desaparecido. A existência perde cor, desejo, energia, vitalidade e esperança.
A pessoa deprimida se recolhe em si mesma, muitas vezes evitando conversas e preferindo o silêncio do isolamento. Muitos ainda acreditam que a depressão é “fraqueza” ou a associam à falta de fé.
Alguns questionam: “Como alguém com família, dinheiro e uma vida aparentemente perfeita pode estar deprimido?” A verdade é que a depressão pode atingir qualquer pessoa, independentemente das circunstâncias externas.
Não há vacina para a saúde mental, mas os transtornos emocionais podem e devem ser tratados.
Muitas pessoas sentem vergonha ao se perceberem deprimidas, principalmente devido à ideia de que o tratamento psicológico é “coisa de maluco”.
No entanto, a verdadeira loucura é sentir uma dor emocional profunda e não conseguir expressá-la. O conflito é nossa característica como ser humano.
Não afeta apenas os adultos
Somos seres ambivalentes, traumatizados e enfrentamos dores que por vezes, beira o insuportável. Todos podem, em algum momento da vida, sucumbir a esses desafios.
A doença não afeta apenas os adultos, ela também pode atingir crianças. Nos mais jovens, pode se manifestar de maneiras diferentes, como irritabilidade, mudanças no comportamento escolar, dificuldades em fazer amigos e até queixas físicas, como dor de cabeça ou dor abdominal sem uma causa aparente.
A depressão infantil pode ser mais difícil de diagnosticar, uma vez que as crianças nem sempre sabem como expressar seus sentimentos de maneira clara. Em adultos, os sintomas são mais comuns, incluindo cansaço extremo, falta significativa de energia, tristeza profunda e persistente, sentimentos de inutilidade e perda de interesse nas atividades cotidianas.
Também pode se manifestar de forma diferente, com um estado de euforia, o que pode ser confundido com ansiedade ou outros transtornos como o transtorno bipolar. O diagnostico diferencial é fundamental para o tratamento.
Em ambos os casos, seja em crianças ou adultos, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são essenciais para evitar que o quadro se agrave. A depressão é uma doença complexa, que resulta da interação entre fatores biológicos, psicológicos e sociais.
Episódio depressivo
Em muitos casos, uma pessoa pode ter um episódio depressivo em um momento da vida e, com o tratamento adequado, nunca mais sofrer um novo episódio. No entanto, em outros casos, a depressão pode se repetir ao longo dos anos.
Os sintomas da depressão variam bastante e podem incluir irritabilidade, euforia, perda ou aumento do apetite, alterações no sono, diminuição das atividades cotidianas, entre outros.
O que pode começar como um pequeno sintoma de desânimo pode, sem tratamento, evoluir para um quadro debilitante. A depressão pode, aos poucos, reduzir a capacidade de uma pessoa de realizar atividades simples do dia a dia, como levantar da cama ou ir ao trabalho.
Em muitos casos, a pessoa sente como se estivesse sendo sufocada por uma dor invisível. O medo do tratamento, especialmente do uso de medicação, é outro obstáculo comum.
Saúde mental
Muitas pessoas temem que o uso de medicamentos as transforme em “outras pessoas” ou que se tornem dependentes. Um profissional de saúde mental qualificado pode ajudar a desmistificar esses receios, trazendo mais confiança ao processo e fazendo a indicação, se necessário.
Em muitos casos, o uso de medicação, com orientação médica, é necessário para estabilizar o quadro. O acompanhamento psicológico é essencial para todos os casos de depressão, seja leve, moderada ou grave, uma vez que é preciso criar uma narrativa para esse sofrimento.
Além disso, a prática regular de atividade física é uma poderosa aliada no combate à depressão, pois estimula a liberação de neurotransmissores como endorfina, dopamina e serotonina, que ajudam a melhorar o humor e reduzir os sintomas depressivos.
Embora possa parecer paradoxal recomendar exercício físico a alguém que está tão deprimido que mal consegue sair de casa, o início do tratamento psicológico e a medicação podem ajudar a pessoa a retomar a funcionalidade, permitindo que ela se movimente novamente, inclusive retomando a prática de atividade física.
Quanto mais cedo for detectada a depressão, melhor será o prognóstico. Com o tratamento adequado, a pessoa pode começar a se sentir melhor aos poucos. A vida de dentro pode, finalmente, se reconectar com a vida lá fora.