Bruno e Dom faziam uma expedição de barco pelo Rio Itaquaí, cujo objetivo era fazer reuniões em cinco aldeias, com seus líderes, sobre proteção do território amazonense, em 1 de junho.

Bruno Pereira, indigenista e servidor da Funai (Fundação Nacional do Índio), reconhecido e admirado pela luta dos povos indígenas.

Dom Phillips, jornalista inglês, buscava informações vivenciadas na floresta, com o objetivo de escrever um livro sobre a Amazônia, com o título “Como Salvar a Amazônia”, escrevendo este livro sobre as dinâmicas socioambientais da Amazônia e os conflitos sobre as comunidades tradicionais e originárias. Era colaborador de jornais internacionais sobre a preservação da floresta e a população ribeirinha.

Os dois desapareceram na floresta Amazônica, próximo ao Vale do Javari, palco de assassinatos e diversos conflitos sobre posse de terras, bem perto da fronteira do Amazonas com o Peru, onde são comuns invasões de terras por garimpeiros, madeireiros, pescadores e traficantes de drogas.

Percurso interrompido

No dia 03 de junho, os dois chegaram ao Lago do Jaburu, ponto mais distante da viagem, para que o jornalista fizesse entrevistas com os indígenas.

Em 5 de junho, Bruno e Dom iniciavam a subida do Rio Itaquaí, no caminho de volta para Atalaia do Norte, onde fizeram uma parada na comunidade ribeirinha de São Rafael, para conversar com um líder comunitário, mas este não se encontrava.

O indigenista e o jornalista conversaram com a esposa do líder e saíram novamente de barco, com destino a Atalaia, sendo vistos pela última vez.

Este percurso deveria durar apenas duas horas, mas os dois nunca chegaram ao destino, gerando apreensão em duas equipes da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA), que detectando o sumiço, fizeram buscas e nada foi encontrado.

O fato chega aos noticiários

O desaparecimento é comunicado aos órgãos competentes e novas buscas são iniciadas.

As Forças Armadas, Marinha, Policiais e equipe de mergulhos são enviados ao local para iniciarem as buscas.

No dia 8 de junho, a Polícia prendeu o primeiro suspeito Amarildo da Costa de Oliveira, conhecido pelo apelido de “Pelado”, no envolvimento do desaparecimento dos dois, que negou sua participação.

Segundo a polícia, ele foi visto por ribeirinhos, em uma lancha com motor potente, seguindo o barco da dupla pelo rio Itacoaí.

Em 12 de junho, as equipes de busca encontraram pertences de Bruno e Dom, próximo à casa de Amarildo, em uma área de igapós (área alagada pelos rios com inúmeras árvores bem próximas) e os pertences estavam amarrados em uma árvore.

O segundo suspeito Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como “Dos Santos”, é interrogado e preso.

A primeira confissão

Em um dos depoimentos a Polícia Federal, Amarildo confessou ter assassinado a dupla, esquartejado e queimado os corpos, enterrando em um local de dificílimo acesso em mata fechada.

Na manhã do sábado, dia 18 de junho, é preso temporariamente, o terceiro suspeito Jefferson Lima, “Pelado da Dinha”, na participação da morte do indigenista e do jornalista. Ele se entregou na delegacia de Polícia de Atalaia do Norte.

A embarcação onde estava Bruno e Dom foi encontrada pela equipe do Corpo de Bombeiros e da Marinha, na noite deste último domingo, a 20 metros de profundidade, nas proximidades da comunidade Cachoeira.

O laudo e as apurações

Um laudo apresentado pela Polícia Federal, conta que Bruno foi morto com três tiros disparados por uma arma de caça (um na cabeça e dois no tórax), ressaltando que a intenção era realmente a execução. E Dom foi baleado uma vez no tórax, também pela mesma arma.

Segundo o percurso das investigações, ainda existem muitos fatos a serem apurados, para se compreender este crime brutal e absurdo.

A pergunta que todos nós fazemos, é entender por que mataram Bruno e Dom??? O objetivo visa elucidar e compreender a dinâmica dos fatos.

Esta resposta definirá o caminho que o processo iniciado tramitará na Justiça.

Pontos de análise

Alguns pontos deverão ser questionados, como por exemplo: O(s) executor (es) agiram a mando de alguém?? Segundo mensagens de Bruno, havia denúncias que foram documentadas pela UNIVAJA. Quantas foram documentadas?? O (s) executor(es) tinham interesse relacionado ao poder do Tráfico de Drogas da região?? Onde estava realmente localizado o barco que estava a dupla?? É verídico o fato de que foi afundado propositalmente?? Retirado o motor???

Bruno Pereira e Dom Phillips foram executados, desempenhando atividades em benefício dos povos indígenas do Vale do Javari.

A floresta Amazônica, é um mundo vasto de especificidades, crenças e mistérios, com mata preservada, fartura de pesca, rios abundantes, onde conflitos e interesses são traçados, em meio à violações humanas, serpenteando um emaranhado de tristeza e lágrimas, que insiste em gritar por um pedido de socorro iminente.

E MAIS…

A Psicologia Jurídica em ação

Descrever os traços da personalidade do executor, seria desvelar o traçado de uma violência cruel, com a intenção de agredir, executar e causar sofrimento ao alvo.

Caminho arquitetado e percorrido pelo criminoso, para almejar o troféu de abater “uma caça”… tanto que executou a dupla com uma espingarda destinada a esse fim.

O poder destrutivo no ser humano, é ativado por variáveis condições e se mobiliza por impulsos agressivos, que delineiam a sede de vingança.

Por que a vingança é tão intensa? Ao destruir o outro, o desejo realizado se torna intenso, na busca da realização do prazer, de ser reconhecido e aceito como um “líder” na comunidade, formando um processo de construção identitária, estabelecendo uma conexão, que empresta ao indivíduo o senso de pertencimento a um determinado grupo “poderoso”.

Para o executor, a emoção se torna um combustível que o corpo acumula, liberando uma explosão para a concretização do ato.

A conduta humana é tipificada como crime a partir da ilicitude e materialidade do fato, porém, antes da realização do delito, o desejo surge, perpassando pela intenção e premeditação, eclodindo para a agressão materializada.

Sabemos que a situação geradora de violência, muitas vezes está no próprio sistema, em um arcabouço, onde as formas de violência manifestas e expressas, se referem às diversas estruturas implícitas que estabelecem uma ordem de domínio, se eximindo de uma visibilidade perante a comunidade, estabelecendo relações de poder desiguais, acima de qualquer suspeita. Essa violência se desloca do caráter visível para o invisível, da força bruta para a medial e do frontal para o viral. Seu modo de atuação é perverso e meticuloso, buscando assertividade nos detalhes, para não deixar rastros. Impossível. O conflito esbarra no sujeito, que nega sua intenção frente a uma tensão antagonista que mira no desejo de executar o alvo escolhido, buscando realização na pulsão de sua enfermidade real.

A violência se traduz em arquétipos, personalidades, características e histórias construídas, se apresentando das mais variadas e facetadas formas, nas quais os arquétipos simbolizam as verdades de cada indivíduo, repousando no inconsciente mais profundo do ser que o habita, de onde ninguém saberá sua verdadeira intenção.