As células-tronco são estruturas capazes de se transformar em diferentes tipos de células no corpo, podendo se dividir e substituir outras que tenham sido perdidas ou danificadas. Elas teriam o propósito de acelerar a cicatrização e recuperação de lesões, ou de substituir tecidos doentes em geral e são alvo de diversas pesquisas para ampliar a sua usabilidade. “O problema é que têm sido oferecidas sem o critério adequado em cenários dentro dos quais as promessas nem sempre são verdadeiras à luz da medicina séria”, afirma o neurocirurgião Bruno Burjaili.

Segundo ele, a técnica tem boas perspectivas, mas que ainda não são tão reais como o desejado, além de serem de difícil acesso e de um comportamento ainda pouco previsível a longo prazo, o que aumenta o alerta quanto aos riscos. “Alguns estudos têm sido promissores quanto ao uso de células-tronco para o tratamento de sintomas da doença de Parkinson, mas ainda não podemos aplicar essa técnica nas pessoas em geral. Nesses estudos, as células foram implantadas diretamente no cérebro por meio de cirurgia”, relata.

Cuidado

O médico afirma que é esperado que essas pesquisas progridam e, eventualmente, permitam a aplicação mais generalizada. “Porém, devemos ter cuidado com a expectativa, pois ainda não há o objetivo de evitar a progressão ou cura da doença com essas células-tronco, e sim mais uma ferramenta para redução dos sintomas na vida prática. Se esse tipo de redução de sintomas será útil diante dos possíveis riscos de um procedimento dessa complexidade, ainda não sabemos”, complementa.

Observa, ainda, que o custo para as células-tronco ainda é extremamente alto. “E, se já temos dificuldade de acesso quanto ao marca-passo cerebral (técnica já consagrada para controle dos sintomas) em relação à população geral, essa restrição será bem maior, pelo menos inicialmente, quanto às células-tronco”, prevê.

Conforme o neurocirurgião, técnicas que prometem resultados muito milagrosos devem ser vistas com atenção pois, além de não trazerem resultados positivos, ainda podem gerar riscos. “A injeção de células-tronco pela corrente sanguínea como tem se propagado de modo pouco criterioso pela internet não está indicada no tratamento de Parkinson e não existem estudos que comprovem sua eficácia sem considerar os possíveis riscos”, alerta.

“Sabemos o quanto é tentador para quem sofre com uma doença o fato de buscar qualquer tratamento que é proposto, mas, além do tempo e custo necessários, tais propostas podem trazer danos e só devem ser utilizadas, como em todo tratamento, uma vez que tenham, de fato, sustentação científica. É uma questão de cuidado, de respeito ao paciente, e não de perdemos a esperança”, ressalta.